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Fé e arquitetura: construção da Igreja Nossa Senhora da Glória foi desafiadora

Segunda reportagem da série destaca os personagens e os bastidores da construção da Igreja Nossa Senhora da Glória, de Sinimbu | Foto: Jô Nunes

A igreja neogótica erguida pela comunidade católica entre 1927 e 1932 na entrada sul da cidade de Sinimbu causa ainda hoje grande impacto aos visitantes pelas suas dimensões e características arquitetônicas. O arquiteto Simon Gramlich conseguiu executar na cidade uma de suas mais importantes criações.

O primeiro marco de início das obras ocorreu no dia 11 de agosto de 1927 com a festividade de bênção da pedra angular da edificação. Junto foi enterrado um pequeno cofre com documentos e jornais da época. Contudo, o principal documento era a ata da cerimônia de bênção da pedra angular, escrita em alemão e em português, conforme transcrito do Livro Tombo número 2.

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O estudo desenvolvido pelo arquiteto Ronaldo Wink para a Diretoria de Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), como professor do curso de Arquitetura e Urbanismo, explica que a construção teve como mestre de obras José Hassmann, que acompanhou os serviços até sua conclusão. Outros nomes importantes e que muito contribuíram para a execução da obra foram Eugênio Brauch, Fredolino Araújo, Bruno Jehn e Phil Kreutzer, todos trabalhando com pedreiros-chefe.

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Fachada lateral norte ainda com os andaimes de madeira e, à direita, a antiga igreja e o cemitério | Foto: Arquivo da Paróquia

Ao final do ano de 1927 já haviam sido gastos na construção em torno de 60 contos de réis (aproximadamente R$ 7,38 milhões na moeda atual). O assunto principal da reunião semestral dos integrantes da comunidade, em 20 de novembro, foi a questão da arrecadação financeira. Na ocasião, foi estipulado o pagamento de juros de 18% a partir de janeiro de 1928 para aqueles associados que, mesmo possuindo condições, não estavam saldando suas dívidas junto à tesouraria.

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A pressão sobre os membros da comunidade quanto ao pagamento das pesadas contribuições fez surgir ao longo dos anos diversas reclamações por parte dos paroquianos menos favorecidos. Isso fez com que muitas famílias, na impossibilidade de arcar com as contribuições, até mesmo deixassem a localidade.

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Com sua incomum altura para a época, houve grandes dificuldades técnicas para a construção da igreja. O içamento dos materiais de construção até o alto dos andaimes ocorreu com o uso de um sistema de roldanas e cordas, tracionadas por animais. As pedras grês, que compuseram as fundações do templo, foram retiradas de três pedreiras principais, em Linha Verão, em Rio Pequeno e nas proximidades do núcleo urbano. A areia veio de uma mina existente em Linha Rio Pequeno. Já os tijolos, para as paredes da edificação, foram fornecidos pela olaria de Pedro Backes, bem como a cal.

Os grandes vitrais existentes no templo foram todos doados por paroquianos, cujos nomes das famílias constam não somente no livro de atas como nas próprias esquadrias. Antônio Seibt, cuja firma estava localizada em Porto Alegre, foi o responsável pela execução, sendo utilizada a técnica das molduras de chumbo delineando as figuras e fixando os vidros multicoloridos.

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Os trabalhos de pintura

Os trabalhos se encontravam em estágio avançado na virada do ano de 1930 para 1931. Para a pintura foi feito contato com Frantz August Steinbacher, responsável por obras artísticas em diversas igrejas do Rio Grande do Sul. Ele realizou em Sinimbu um de seus melhores trabalhos, destacando-se até hoje como o conjunto de pintura mural sacra mais importante da região, dada a meticulosidade empregada na decoração das paredes internas da igreja, uso de cores e intrincados desenhos geométricos, característicos das igrejas neogóticas.

Os trabalhos de pintura da igreja, realizados por Steinbacher e equipe, estenderam-se de abril de 1931 até setembro de 1933, totalizando o valor pago pelo serviço a quantia de 13 contos e 500 mil réis (equivalente hoje a aproximadamente R$ 1,66 milhão), conforme consta no Livro Caixa da Construção.

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