Na semana passada escrevi aqui um texto sobre moda sustentável, e falei rapidamente sobre o Fashion Revolution e o que ele busca. Hoje volto a escrever sobre o assunto, porém mais aprofundado.
Desde a última segunda, 24, até o próximo domingo, 30, estamos durante a Fashion Revolution Week, que antes era Day. O movimento surgiu após o desabamento do edifício Rana Plaza em Dhaka, Bangladesh, no dia 24 de abril de 2013, onde funcionava uma fábrica de roupas. Segundo os funcionários do local, eles já haviam avisado seus superiores de que havia rachaduras nas paredes, mas não foram ouvidos. Nesse dia, 1.333 pessoas morreram soterradas, e 2,5 mil ficaram feridas. Enquanto as vítimas eram socorridas, outra fábrica incendiou gerando mais mortos e feridos.
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A ideia do movimento, trazendo a pergunta “Quem fez minhas roupas?”, é de que o consumidor pare e pense no processo de produção pelo qual suas peças passaram. Pensamos que nossas roupas são tecidos que geram uma determinada peça e vão parar nas lojas onde vamos comprá-las, assim como o leite vem da caixinha no supermercado. Mas e como surgem os tecidos?
O algodão é a principal matéria usada para a produção de fibras têxteis no mundo, que depois se tornarão tecidos. E não é aquele que vem no saquinho na farmácia. Ele é produzido em grandes fazendas. O algodão se torna uma “linha”, que nas tecelagens, vira tecido, nos mais variados tipos de tecido, esse processo é o mesmo. Os tecidos prontos são comprados pelas confecções, onde serão enfim transformados em peças. Mas onde são essas confecções? A maioria das grandes varejistas do mundo tem produções terceirizadas a baixíssimo custo em países muito pobres.
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Assisti essa semana ao documentário “The True Cost” lançado em 2015. O filme relembra o acidente em Bangladesh e vai até o país, onde entrevista funcionárias dessas confecções que trabalham em condições precárias e ganham em torno de dois dólares por dia. O país está apenas atrás da China em escala de produção.
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Foto: Divulgação
No documentário podemos assistir inúmeras entrevistas dessas mulheres, visualizar a realidade em que vivem, além de outras pessoas engajadas com a causa. A questão do trabalho escravo não é novidade, e nem precisamos ir tão longe para encontrar ocorrências, pois aqui no Brasil já houve casos. Eu fiquei realmente muito abalada quando o filme acabou, e me senti culpada de certa forma por chegarmos onde estamos, mas também, me senti inútil por não poder sozinha trazer mudanças. Aqui você confere o trailer do vídeo, mas eu gostaria mesmo é de que ao ler esse texto você assista ao filme na íntegra.
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Todos nós usamos roupas, então todos nós temos responsabilidades sobre o que está acontecendo no mundo. O planeta, assim como essas pessoas, está sendo esquecido, e com a vida em risco.
Nosso consumo excessivo está causando muitos impactos negativos. Em 20 anos, o consumo cresceu 400%. Estamos enganados pelo falso poder de compra que nos foi proporcionado, mas enquanto isso, pessoas morrem fabricando o que compramos. A cada 30 minutos um fazendeiro de algodão se mata na Índia. Qual o real valor de peças que custam cinco dólares? Qual o real valor da vida?
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A indústria do vestuário se tornou a segunda mais poluente, perdendo apenas para a indústria do petróleo. O setor emprega milhões de pessoas no mundo, mas são os mais pobres de todo o mundo, e a maioria são mulheres.
Em um dos depoimentos, uma costureira de Bangladesh pede chorando para que não compremos as roupas que elas produzem, porque são feitas com seu sangue. E esse momento do longa não saiu ainda da minha cabeça.
Foto: Divulgação
Acredito ter explicado mais algumas coisas importantes, e peço do fundo do coração para que vocês assistam ao filme (que está disponível na Netflix), e procurem mais sobre o assunto, que não é de hoje, e não vai acabar amanhã. Sempre me importei com questões ambientais e acredito não consumir tanto quanto eu poderia pelas influências que recebemos.
Ainda não descobri uma forma efetiva de fazer a minha parte, mas divulgar a causa já deve ajudar, se duas pessoas se influenciarem, já me darei por satisfeita. Prometo não deixar esse assunto morrer aqui, e trazer mudanças para a minha vida, porque sei que é fácil falar. E aí, vai querer saber quem fez suas roupas?
Foto: Divulgação