A partir de quinta-feira, 27, fãs e pesquisadores de Vinicios de Moraes poderão conhecer a escrita do poeta em ordem cronológica, o que permitirá notar com mais clareza sua evolução e, principalmente, como o poeta passou de uma evidente preocupação religiosa no início da carreira para temas mais mundanos, como o cotidiano das pessoas e, principalmente, as relações amorosas.
O acervo está dividido em três grande séries. A primeira, Correspondência, compreenderá cartas, cartões e telegramas recebidos tanto de amigos como de figuras relacionadas ao seu trabalho como diplomata. É curiosa a troca de informações que Vinicius mantinha com seus colegas escritores, como uma carta enviada a Manuel Bandeira em que o poeta solicita uma leitura crítica de seus poemas. Em outra, pede a opinião sobre versos de seu poema Pátria Minha, com receio de ter problemas políticos.
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O cuidado da família de Vinicius de Moraes com sua obra era constante. “O primeiro poema escrito por ele, aos 8 anos, é um dos documentos que estarão no Acervo Digital, assim como seus últimos escritos”, comenta Julia Moraes, neta e idealizadora do projeto. “O zelo era dele também, pois é possível acompanhar a evolução criativa, por exemplo, do poema O Avesso: há várias versões escritas ao longo de dez anos, é um mapa da criação. E não são só acertos, ali estão os erros também. Acredito que isso valorize todos os artistas.”
Vinicius, de fato, era perfeccionista e não sossegava enquanto não atingisse o resultado considerado ideal. Especialmente quando compunha letras de canções. “É possível notar como ele era rígido em buscar a métrica correta, a sílaba tônica ideal para a melodia”, observa Marcus Moraes, sobrinho-neto do poeta e responsável pela coordenação técnica e design do Acervo Digital, que nasceu a partir do desejo de preservar digitalmente o arquivo, incentivar a pesquisa e democratizar o acesso à obra de Vinicius.
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Pesquisar o vasto material criado pelo artista representa uma viagem no tempo e também geográfica. Afinal, aberto a novas amizades, Vinicius passou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Ouro Preto, Montevidéu, Buenos Aires, Paris, Oxford e Los Angeles, seja na função de diplomata, seja em excursões como músico. E, nesse trajeto, manteve contato com as mais diversas figuras, de Mãe Menininha do Gantois a Orson Welles, de Baden Powell a Pablo Neruda, sem se esquecer dos grandes parceiros nas canções, como Tom Jobim e Toquinho.
Será possível também se divertir com a troca de confidências com grandes amigos, como na carta em que Tom Jobim comenta com Vinicius a exigência de um produtor francês para que a dupla compusesse mais rapidamente as canções que formariam a trilha sonora do filme Orfeu Negro (1959), dirigido por Marcel Camus e que ganhou o Oscar de melhor longa estrangeiro.
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A segunda série, Produção Intelectual, traz uma documentação abrangente, que revela o extenso campo de atividades nas quais Vinicius se dedicou ao longo da vida: poesia, textos em prosa, artigos, peças, letras de música, shows, roteiros de cinema, discursos, entrevistas e traduções. Assim, será possível observar as diferentes versões do roteiro de Les Amants de la Mer e detalhes da produção até o roteiro final de Garota de Ipanema.
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A terceira série intitula-se Documentos Diversos e reúne folhetos, cadernos de anotações, cartões de visita, convites e documentos importantes para o estabelecimento da história do cinema no Brasil – ali está um dossiê sobre a criação do Instituto Nacional do Cinema.
Além das séries, o projeto Acervo Digital vai contar ainda com o podcast Caderno de Leituras de Vinicius de Moraes, inspirado no livro publicado pela Companhia das Letras, e também um minidocumentário dirigido por Julia, que mostra como são guardados e organizados documentos raros, além do processo de digitalização do acervo.
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