As fortes tempestades de outubro, que atingiram o Vale do Rio Pardo deixando rastros de destruição por toda parte, dificilmente serão esquecidas. E não apenas pelos momentos de terror durante o desastre, mas por todos os prejuízos causados pelo vento, chuva, granizo e enchentes. Famílias que perderam tudo ou boa parte de seus bens e produtores rurais que viram suas lavouras serem devastadas pelos temporais vivem hoje o drama que muitos já viveram anteriormente. Infelizmente, o sentimento de impotência e a falta de esperança são normais. Mas quem passou por isso sabe que sempre é possível se reerguer e valorizar, acima de tudo, a vida.
O que Rio Pardo passou neste 14 de outubro de 2015 foi semelhante ao vivido por várias cidades da região em 5 de janeiro de 2010. A destruição causada por temporais – marcada pela queda da ponte de Agudo – atingiu com força o município de Candelária. Várias famílias da Vila de Passa Sete perderam tudo o que possuíam, tendo que ser retiradas de suas casas com um trator em meio a uma enchente histórica. O discurso das vítimas é semelhante em ambos os casos: nunca imaginaram que a água poderia chegar tão longe.
Hoje, porém, o clima é outro. Passados quase seis anos, a tristeza deu lugar à alegria e ao alívio. Desta vez, Passa Sete não sofreu com os temporais. As residências que foram tomadas pela água em 2010 já estão inteiras, limpas e seguras outra vez. Os pátios, transformados em mares de barro, hoje estão floridos e bonitos. E os moradores continuam suas vidas normalmente, tendo aquele começo de ano apenas como uma lembrança distante e triste. Mas o medo de algo assim se repetir, nunca vai passar.
Publicidade
“Eu rezava para não passar por tudo novamente”
Na semana passada, a Gazeta retornou a Vila Passa Sete para ver como estavam o aposentado Ênio Eric Ellwanger e sua esposa Nilva, o professor Flávio Ruoso, sua esposa Andrea e os dois filhos e os produtores rurais Rui Luis e Marli Müller. Todos continuam morando na localidade, conseguiram se recuperar totalmente e hoje celebram a vida.
O caso mais complicado era o dos Ellwanger. A residência de Ênio e Nilva foi arrastada por mais de quatro metros e só não foi levada pela correnteza por ter ficado presa entre duas árvores. Com 66 anos, o aposentado perdeu mais de 80% de seus pertences e teve que reconstruir toda a casa. “Perdemos móveis, eletrodomésticos, roupas e toda nossa história de vida, que estava dentro de casa. Foi preciso começar do zero, mas felizmente hoje estamos vivos e com segurança.”
Publicidade
Com orgulho, seu Ellwanger mostra tudo o que conseguiu fazer nesses mais de cinco anos de trabalho. Porém, admite não ter sido tarefa fácil a reconstrução de uma vida. “Precisamos pedir empréstimos no banco. Fomos aos poucos. Apenas neste ano consegui terminar de pagar tudo que foi preciso para podermos retomar nossa vida normalmente”, explica. Dona Nilva também se orgulha de mostrar o pátio florido, a horta com muita fartura e a casa totalmente mobiliada novamente. “Tivemos que passar dois meses fora de casa até conseguir voltar, tirar todo o barro e começar a pensar no que fazer. Quase tudo tivemos que jogar fora, mas soubemos como usar o dinheiro e hoje aqueles dias se tornaram apenas uma lembrança triste”, afirma a aposentada.
O casal teve ajuda, ganhou alguns móveis e até descontos para a construção. Mas a grande maioria dos resultados veio por esforço próprio. As lágrimas derramadas no momento em que eram retirados com um trator e deixavam para trás a casa em pedaços hoje dão lugar a sorrisos. Mesmo assim, dona Nilva, 64 anos, diz temer que o pesadelo se repita. “Durante o último temporal, eu rezava para não passar por tudo novamente. Felizmente escapamos. O granizo fez apenas um buraco no teto da varanda.”
Por viver a vida inteira na vila, os aposentados relembram de um caso da infância. Nos anos 50, uma enchente também causou terror na localidade. Mas, nas duas vezes, eles escaparam com vida. “Podem se ir os bens materiais, mas o importante é que a vida continua. Não se pode perder as esperanças! Quando se está vivo, sempre se dá um jeito”, diz dona Nilva.
Publicidade
LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO SITE DA GAZETA DO SUL
This website uses cookies.