O dia começa cedo para o gari Jefferson Ramos. Pela exigência da profissão, na qual recolhe o lixo gerado por centenas de santa-cruzenses, o cuidado é redobrado com a higiene, sobretudo durante a pandemia. Ao final do dia, tudo o que ele deseja é chegar em casa, tomar um banho e descansar junto da esposa e dos quatro filhos. Ultimamente, no entanto, em vez de passar as horas de folga com a família, após o expediente Jefferson precisa sair em busca da casa de algum parente que possa recebê-lo, para só então tomar um banho.
Se não encontra, o jeito é improvisar e ir a uma bica nas proximidades. Há duas semanas, a residência de Jefferson e outras do Corredor David Severo Mânica, no Bairro Santa Vitória, estão sem água. Ao todo, são mais de 20 pessoas passando pela mesma situação. “Estamos na batalha, duas semanas já sem água. Trabalho no caminhão do lixo, fico todo sujo, e tenho que ir na bica tomar banho ou ir em casa de parente pedir água. Isso é maldade com a gente”, comentou o gari. A Gazeta do Sul foi até o local e constatou a situação.
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“Falamos com a Prefeitura, com candidatos a prefeito e a vereador, e ninguém resolve nada. Fomos nas secretarias de Habitação, Planejamento, de Meio Ambiente, e não liberam, apenas dizem que aqui é irregular”, disse uma moradora.
Segundo eles, o Corpo de Bombeiros foi até o local duas vezes e levou água para as famílias. Já o caminhão-pipa da Prefeitura teria ido uma vez, de forma emergencial, e não retornou mais. “Solicitamos novamente, mas falaram que só cobrando para levar.”
Solidariedade da vizinhança
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Morador há cinco anos do Corredor David Severo Mânica, o eletricista Lucas da Silva achou um meio de auxiliar os vizinhos que estão passando pela situação. Em frente à sua casa, três tonéis são enchidos durante boa parte do dia, com água que vem de um poço que ele mesmo construiu. “Me obriguei a fazer esse poço por causa dessa situação. Tive que me virar. A cor da água é praticamente branca, não é tratada, mas é o que eu tenho pra tomar e poder ajudar esse pessoal”, disse ele, que mora com a esposa e a filha de 5 anos.
Dono de uma casa ao fim do corredor, o calceteiro Acácio Almeida, que mora há 20 anos no local, explica a situação. “Toda esta terra está no nome da minha esposa Luciana Lúcia Frantz. Todos esses terrenos estão dentro da mesma escritura. E a água de casa vem de um outro corredor, o Schuck, de uma ligação feita lá. Por isso, a Prefeitura alega que por ser uma área privada, não vão ligar, pois os terrenos não estão desmembrados e os imóveis não possuem escritura particular. É uma vergonha dentro da cidade a gente estar passando por isso e deixarem todos esses moradores abandonados, sem água e esgoto”, afirmou.
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Prefeitura afirma que a área é irregular
A Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão informou que o local não é área pública, mas uma única propriedade privada. Segundo o Palacinho, o Corredor David Severo Mânica vai só até o início dessa propriedade particular.
“A maior parte das residências ali existentes são fruto de venda irregular de área particular, ou seja, o que existe naquele local é um desmembramento, feito sem respeitar a legislação do parcelamento de solo, com negociações feitas por contrato de gaveta. Essa é a razão de não estarem sendo regularmente abastecidas, uma vez que a Corsan só fornece água em via pública”, disse a Prefeitura, por meio da assessoria de imprensa.
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A nota explica que a suposta venda desses pedaços de terra foi feita por um dos herdeiros. Assim, cabe a ele regularizar a situação, providenciando esgoto, rua e outras benfeitorias para que então o possa receber água potável fornecida pela companhia. “Não é responsabilidade da Prefeitura a regularização das moradias, além do mais, o Município não pode ser conivente com uma situação que está ilegal, caracterizando como assentamento, fruto de uma ocupação irregular. Já existe inquérito civil acerca desse assunto.”
No último sábado, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente levou água com um caminhão-pipa, de forma emergencial. Segundo a assessoria, a Prefeitura é responsável pelo fornecimento de água potável no interior, dado que a zona urbana é abastecida pela Corsan.
“Até pouco tempo, conforme relato de uma moradora antiga, um morador mantinha no local um poço artesiano que abastecia os demais. Em razão de briga entre vizinhos, ele deixou de fornecer água. A partir dessa contenda é que surgiram as reclamações”, complementa a nota.
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