Uma família foi devastada pela perda uma parente, uma mulher de 64 anos, no último domingo, 8. Ao procurar atendimento médico no plantão do Hospital Candelária, não foi atendida, pois, segundo informaram, o médico responsável estava dormindo no momento. Ela voltou para casa e morreu horas depois, vítima de infarto.
Esse é um dos muitos casos controversos relatados entre a comunidade, nas redes sociais e levados a autoridades do município. Outra situação foi relatada por Marta Lara, moradora do interior de Candelária. Ela contou, em entrevista ao programa Rede Social, da Rádio Gazeta FM 107,9, que levou o sogro para receber atendimento, mas, devido à demora, optou por procurar um médico na rede particular. Ao não encontrar o profissional, retornou ao Hospital Candelária e foi xingada pelo médico de plantão.
LEIA TAMBÉM: “Gastei todo meu extintor, mas não adiantou”, diz homem que tentou salvar motoboy da morte
Publicidade
As reclamações sobre o plantão do Hospital Candelária já são velhas conhecidas dos vereadores do município. Contudo, de acordo com o presidente do Legislativo, Alan Wagner (PSB), nas últimas duas semanas o número de relatos aumentou significativamente. “A gente percebe, principalmente nas redes sociais, esse aumento, porque as pessoas marcam nós vereadores”, contou.
O parlamentar também falou à Rádio Gazeta nesta quinta-feira, 12. Entre os problemas contabilizados por Wagner estão demora no atendimento, falta de qualidade – pacientes ficam sem respostas ou medicamentos adequados -, ausência de médicos etc. “São coisas que não podem acontecer.”
LEIA TAMBÉM: Hospital Candelária passa a contar com plantão obstétrico 24 horas
Publicidade
Conforme explicou, está agendada uma reunião para a semana que vem com o prefeito Nestor Ellwanger, o Rim, já que o plantão é mantido com recursos repassados pelo Município. “Nós aprovamos todos os anos o repasse da Prefeitura, para que sejam pagos médicos e outros profissionais. Então, vamos buscar uma atitude que possa melhorar o atendimento da população”, disse.
Em outras oportunidades, segundo Wagner, já foram realizadas reuniões entre Câmara e Hospital Candelária. “Há cerca de seis meses, nos informaram que estava tudo bem, tanto em relação aos valores repassados quanto à atuação dos médicos”, relembrou. Mas agora vão acionar primeiro Prefeitura e Ministério Público. “Estamos preparando um dossiê com as reclamações. O Hospital Candelária é uma sociedade particular, mas a Prefeitura é corresponsável, já que passa, anualmente, mais de R$ 4,5 milhões para custeio do plantão”, afirmou.
LEIA TAMBÉM: Poder público e entidades criam iniciativa para ampliar doação de sangue em Candelária
Publicidade
Esse repasse acontece para que o município não fique sem atendimento aos fins de semana, uma vez que as unidades de saúde, mantidas pela Prefeitura, funcionam somente de segunda a sexta-feira. De acordo com Wagner, a ideia é que a Administração Municipal cobre uma melhora em determinado período. Caso isso não aconteça, há rumores de uma possível intervenção municipal, nos moldes do que já aconteceu em 2013, quando o atual administrador, Aristides Feistler, foi nomeado pelo ex-prefeito Paulo Butzge.
“Se for do entendimento do prefeito, pode ser uma saída. Não é um caso isolado. Estamos imprimindo relatos das redes sociais e já passam de 300”, adiantou. O promotor Martin Albino Jora, do Ministério Público (MP) de Candelária, informou que nenhuma denúncia foi formalmente registrada no órgão até o momento.
LEIA TAMBÉM: Candelária vai voltar a ter posto de atendimento do IPE
Publicidade
A paciente de 64 anos que morreu no último domingo estava há alguns dias com dores na perna. O sintoma foi encarado como inflamação no nervo ciático. No dia em que morreu, levantou cedo e cevou o tradicional chimarrão com o marido. Perto das 7 horas, no entanto, o peito começou a doer e teve vários episódios de vômito. Foi isso que a levou ao plantão do Hospital Candelária.
De acordo com familiares da mulher, a enfermeira foi muito atenciosa; verificou a pressão, os batimentos cardíacos e fez um eletrocardiograma. O exame apresentou alterações e, por isso, a profissional procurou o médico. No entanto, ele estaria dormindo e informou que não poderia atender a paciente antes do meio-dia. Foi aplicada uma injeção de Buscopan, para cessar os sintomas – já que era a única possibilidade sem prescrição médica. A mulher voltou para casa por volta das 9 horas e o médico ainda não tinha aparecido.
LEIA TAMBÉM: Estado vai repassar mais de R$ 4 milhões para hospitais de Santa Cruz
Publicidade
Apesar da medicação, ela continuou vomitando. Em virtude do mal estar, optou por deitar e descansar. Algum tempo depois, o marido foi verificar como a mulher estava e estranhou o fato de que ela não se mexia. Estava desacordada, sem pulsação. A família se mobilizou novamente para levá-la às pressas de volta ao Hospital Candelária. Dessa vez, o médico apareceu, mas não tinha mais o que fazer. A paciente já estava morta.
“Muito triste. É um descaso total com a vida das pessoas. Nós resolvemos relatar o que nos aconteceu porque não queremos que outras famílias tenham que passar o sofrimento que estamos passando”, relatou uma familiar que preferiu não se identificar.
>> Ouça o relato completo da familiar da paciente de 64 anos
Em entrevista à Rádio Gazeta, também no programa Rede Social desta quinta-feira, o administrador do Hospital Candelária, Aristides Feistler, deu outra versão sobre o caso da paciente de 64 anos. “Foi uma fatalidade”, garantiu. Segundo ele, no prontuário de atendimento da mulher consta que ela chegou à casa de saúde às 6h40 e imediatamente passou pela triagem. Os sintomas relatados no documento, segundo ele, eram dor na perna direita e nas costas. “Os sinais vitais estavam normais”.
Aristides contou, ainda, que no prontuário está descrito que o médico prescreveu analgésico e solicitou a realização de um eletrocardiograma, que teve resultado normal. “Ela foi para a observação, repetiu as verificações às 7h15 e tudo estava dentro da normalidade”, relatou. O administrador informou que o médico solicitou, então, que a paciente continuasse em observação, mas às 8h30, ela teria se sentido melhor e não quis mais esperar, então foi embora. “Às 10h55, ela chegou de volta com parada cardiorrespiratória, às 11h15 foi constatado o óbito”, concluiu.
LEIA TAMBÉM: Hospital Regional do Vale do Rio Pardo completa oito anos
“Poderia ter acontecido aqui ou qualquer outro hospital. Não houve nenhum tipo de negligência por parte do hospital, ela teve atendimento. Lamento, mas não foi culpa do hospital”, garantiu.
Melhorar o serviço constantemente é um dos objetivos da administração do Hospital Candelária, segundo Aristides Feistler. No plantão, por exemplo, uma das saídas utilizadas para driblar a falta de médicos no mercado e garantir a continuidade dos serviços é a contratação de uma empresa que faz a escala. Com isso, os profissionais que atuam no fim de semana, geralmente, são de fora do município. “Nunca faltou médico”, afirmou Feistler.
LEIA TAMBÉM: Gestores comemoram chegada de recursos para hospitais de Santa Cruz
Conforme explicou, o que acontece é diferença na dinâmica de trabalho dos profissionais, de modo que alguns são mais ágeis e outros mais detalhistas, o que causa variação no tempo de espera e de atendimento. Outro ponto levantado por ele é o fato de que, no fim de semana, a demanda aumenta muito, pois as unidades de saúde não funcionam. “A maioria dos casos poderia ser resolvida nos postos durante a semana”, avaliou. Em 24 horas, são cerca de 70 atendimentos no plantão, aos fins de semana.
A ordem de atendimento é definida conforme classificação de risco – urgentes primeiro – e, depois, por ordem de chegada. “O médico vai priorizar sempre a emergência e como aqui tem muitos acidentes na ERS-400 e na RSC-287, também tem que se levar em conta este fator”, apontou. Atualmente, há somente um plantonista por vez, que, geralmente, cumpre uma jornada de 24 ou 12 horas, variando conforme o encaixe da escala feita pela empresa terceirizada.
LEIA TAMBÉM: Abraço simbólico marca 65 anos do Hospital Candelária
Uma das articulações de Feistler junto à secretaria de Saúde de Candelária, é, inclusive, estudar a possibilidade de novos profissionais se fixarem no município e integrar a escala do plantão da instituição, para que seja possível estabelecer, definitivamente, uma jornada de 12 horas, evitando desgaste do médico. “Não precisariam se deslocar, facilitaria.” Apesar dessa expectativa de alteração, o entendimento do Hospital Candelária é de que está o serviço está adequado. “Nas redes sociais, as pessoas publicam e compartilham coisas sem conhecimento de causa”, definiu.
Em relação à possibilidade de intervenção municipal no Hospital Candelária, Feistler afirmou que está fora de cogitação. “Mantemos uma boa relação com o Executivo. Desde que o ex-prefeito Paulo Butzge me nomeou, resgatamos a credibilidade do hospital, o serviço melhorou 1000%. Antes, o hospital não pagava dívidas, não tinha como funcionar. Nós melhoramos a equipe e nos tornamos referência em várias especialidades para a região”, finalizou.
Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!
This website uses cookies.