O simples sinal de chuva causa apreensão entre os moradores de diversas localidades do interior de Santa Cruz do Sul. A aflição não se relaciona à possibilidade de raios ou granizo, mas com a queda de energia elétrica e a demora para os técnicos da RGE restabelecerem o abastecimento. O problema causa transtornos e prejuízos tanto a agricultores como donos de estabelecimentos comerciais e impede investimentos em melhorias nas propriedades. E a situação piorou desde o fim do ano passado.
O agricultor Paulo José Rabuske, de 52 anos, de Alto Boa Vista, relata que em dezembro conseguiu fazer a ordenha das vacas apenas duas vezes em uma semana com o uso de energia elétrica. Ele gastou 150 litros de óleo diesel com o gerador para realizar o trabalho e manter o resfriamento da produção de 500 litros diários. Explica que a despesa para a compra do combustível eleva muito o custo da produção, além dos demais transtornos para a família.
Rabuske afirma que a RGE realizou melhorias na rede de energia no fim do ano passado, com a troca de postes. Mas a situação piorou desde então. “A gente fica com estresse já só quando começa a levantar o tempo”, ressalta. Ele também reclama das dificuldades para informar os problemas pelo telefone de ligação gratuita. “Um dia fiquei meia hora escutando a musiquinha até que alguém me atendeu”, diz. Com produção própria de leite desde 2001 (antes, desde 1997, trabalhou com os pais), o agricultor afirma que não tem mais coragem para investir, pois o interior fica abandonado quando há problemas de energia elétrica.
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Ainda em Alto Boa Vista, o comerciante e agricultor Odélio Fischer, de 63 anos, também ficou quatro dias sem energia elétrica no fim do ano passado. E nem mesmo na noite de Natal teve luz em sua casa. Explica que apenas não perdeu mais sorvete no freezer pois não trabalha com estoque grande. Ele também conta que os problemas aumentaram após as obras de melhoria na rede elétrica. “E o atendimento quando ligamos para o 0800 é horrível, pois precisamos esperar por meia hora.”
Explicação da RGE
A assessoria da RGE informou que há vários canais de atendimento do call center. Em dias de fortes temporais, como os ocorridos no Estado nos últimos dois meses, é possível que haja uma demanda mais elevada e, em alguns momentos, maior dificuldade em contatar por esse meio. Contudo, as outras formas de contato também servem para registrar falta de energia de maneira gratuita: Agência Digital (https://servicosonline.cpfl.com.br), SMS com SEU CÓDIGO (disponível na fatura) para o número 27350 e aplicativo CPFL Energia (para iOS, Android e Windows Phone). Quanto às demais questões, a empresa irá verificar pontualmente e informará a situação.
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Galhos nas redes aumentam os problemas
Mesmo com gerador, o comerciante Elias Wehner, de 42 anos, já perdeu vários produtos no seu estabelecimento em São Martinho por falta de energia elétrica. Explica que a situação piorou há dois anos, quando a distribuidora de energia mudou o ponto que ligava a localidade até Linha Saraiva e permaneceu apenas até Linha Osório. Além disso, ele ressalta que a rede passa por muitos matos, com galhos próximos, que causam problemas com qualquer vento. Afirma que as equipes da RGE já verificaram a situação, mas informaram que não podiam fazer o corte das árvores.
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O comerciante conta que há duas semanas permaneceu sem energia elétrica das 15 até as 23 horas. “Quando a queda acontece pelas 17 ou 18 horas é certo que o restabelecimento ocorre apenas às 10 horas do dia seguinte”, diz Wehner. Ele também reclama das dificuldades para atendimento pelo telefone gratuito da empresa. Lembra que no período da concessão da AES Sul, quando a manutenção era terceirizada para uma empresa da região, o trabalho era mais rápido, pois os funcionários eram de Santa Cruz do Sul e conheciam as localidades. “Hoje volta e meia estão por aí e perguntam onde fica este ou aquele lugar.”
A agricultora Roselene Dreissig Wermuth, 42 anos, de Linha Chaves, também se queixa do aumento na precariedade do serviço de energia elétrica nos últimos anos. Afirma que a RGE leva dias até mesmo para restabelecer uma simples queda da chave do transformador. Conta que a família gastou R$ 4,6 mil com a compra de um gerador após quatro dias sem energia elétrica em janeiro. Explica que tinha uma fornada de tabaco para ser costurada com a máquina esteira e a falta de energia inviabilizava o trabalho. Roselene teve de levar a carne para guardar na casa de outras pessoas para evitar perdas. Ainda segundo ela, existem muitas redes no meio do mato e há necessidade de limpeza.
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Precariedade impede novos investimentos nas localidades
Os problemas com as frequentes quedas de energia elétrica no interior e a demora para o restabelecimento preocupam o secretário de Agricultura, Elo Schneiders. Ele afirma que a situação está no limite. Destaca que, além dos transtornos para o trabalho e a manutenção dos alimentos nos freezers, a deficiência em muitos lugares impede qualquer projeto de instalação de agroindústrias. “Há lugares onde é preciso desligar todos os outros equipamentos elétricos ao usar o chuveiro”, observa. Lamenta que muitos agricultores ainda precisem conviver com esse tipo de precariedade em pleno século 21.
Schneiders afirma que o atendimento no período da CEEE era melhor, pois o agricultor ia até a unidade na Rua Tenente Coronel Brito, em Santa Cruz do Sul, e em seguida já saía um veículo para solucionar o problema. “Quando a AES Sul tinha a concessão, com equipes terceirizadas, o trabalho também era mais ágil.”
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Reunião especial
Os problemas de abastecimento de energia elétrica no município de Santa Cruz do Sul serão debatidos em reunião especial nesta sexta-feira na Câmara, proposta pelo vereador Elstor Desbessell (PTB). O encontro vai começar às 14 horas e tem a presença confirmada do gerente de serviço de campo da RGE, Tiago Engroff; do coordenador de obras da companhia, Jorge Pereira, além do consultor de negócios da região dos Vales, Cristiano Guedes da Silva. Desbessell explica que será a oportunidade de a comunidade se manifestar, uma vez que graves problemas de abastecimento têm sido registrados nos últimos meses. “Existem casos em que consumidores ficaram uma semana sem o abastecimento, o que levou a sérios prejuízos, especialmente no interior do município”, destaca.
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