Ruas com barro, lojas destruídas, casas com móveis revirados e pessoas com enxadas nas mãos. Esse foi o cenário visto na tarde dessa quinta-feira, 2, em Sinimbu. O município foi o mais afetado pela enxurrada da última terça-feira, 30. A Avenida General Flores da Cunha, no Centro, é a principal via da cidade e concentra comércio, supermercados e repartições públicas. Nessa região, a força do Rio Pardinho devastou tudo, deixando apenas a lama.
Limpando o seu estabelecimento estava Plínio João Weigel, de 74 anos. No local, existia uma loja de celulares. “Isso que aconteceu é uma barbaridade. Sinimbu hoje não existe, pois não tem mais nada aqui”, lamentava em meio ao serviço. Ele também é proprietário do prédio dos Correios, que fica ao lado da loja. “Perdemos tudo que tinha aqui. Acredito que essa recuperação da cidade vai demorar meses ou anos, pois uma coisa como essa é muito triste e vai exigir a união de todos.”
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Pelas ruas o único som entoado era o das máquinas pesadas, como retroescavadeiras e caminhões de carga, além das enxadas usadas pela população que raspavam no piso das lojas e das calçadas para a retirada da lama. A área urbana e o interior estão sem luz e comunicação. Muitos fios de energia elétrica estão pelo chão e carros prensados contra postes e paredes de residências.
Ao lado da cidade fica a comunidade rural de Rio Pequeno. O único acesso dos moradores para a área urbana, onde estão concentradas as doações de alimentos e roupas, é pela ponte da Avenida Pedro Backes, que teve a sua cabeceira destruída. Na tarde dessa quinta, cidadãos improvisaram uma escada de madeira para acessar a estrutura e assim buscar ajuda.
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Entre os que atravessaram a ponte estava Xaviel Dorfey, de 42 anos. Ele é morador de Rio Pequeno e relatou a situação das demais famílias. “Eu cheguei até aqui abrindo uma trilha pelo barranco do rio. Não perdi minhas coisas, mas meus vizinhos sim. A população está pedindo comida e água, pois não tem mais. Isso é uma tragédia”, disse emocionado.
Na região mais alta de Sinimbu, mais precisamente no pavilhão da Comunidade Evangélica, estão concentrados o recebimento e a retirada de doações de mantimentos e roupas. A secretária de Saúde, Flávia Regina Schaefer, de 59 anos, explicou como o trabalho está organizado. “As pessoas que precisarem de ajuda podem vir aqui, e é feito um cadastro com nome e CPF. Depois disso, elas podem pegar o que precisam para o momento. Estamos precisando de tudo, desde sal até lanternas e velas, pois não temos energia elétrica. Nossa população que está fora de casa foi para casa de amigos e parentes ou para cidades vizinhas, como Santa Cruz. Estamos todos abrigados, inclusive eu, que tive minha casa invadida pela água”, disse Flávia.
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No local, também está sendo organizada uma lista de pessoas que podem estar desaparecidas. “Somente aqui temos sete registros, mas não se sabe se estão mesmo nessa situação, pois não temos comunicação com as outras regiões”, ressaltou.
Quem buscou alimentos e roupas no local foi a moradora de Rio Pequeno Islaine Neitzke, de 42 anos. Ela é massoterapeuta e estava trabalhando em uma academia quando precisou procurar abrigo por causa da enchente. “Eu não consegui voltar para casa ainda, felizmente pude me abrigar na casa dos meus pais que moram deste lado do rio, na área alta. Como sai só com a roupa de trabalho, busquei auxílio na Comunidade Evangélica, por roupas e alimentos.”
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Para ela, trata-se de uma situação triste e vai exigir a união de Sinimbu. “Estou sem notícias do meu irmão que mora em Vale do Sol”, finalizou Islaine, com lágrimas no rosto.
Em meio à chuva em frente ao prédio da Prefeitura de Sinimbu estava a prefeita Sandra Backes. Durante conversa com a Gazeta do Sul, ela ressaltou que é necessário os órgãos públicos se organizarem para assim organizar a cidade. “Tivemos uma reunião com o vice-governador, que está com seu gabinete em Santa Cruz, e também reunimos o nosso para estabelecermos algumas ações; entre elas está a limpeza da cidade.”
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Segundo a prefeita, mais de 2 mil pessoas ficaram desalojadas no município. “Temos a informação de que três pessoas estão desaparecidas e não descartamos que elas tenham ido a óbito,” informou Sandra. Ao longo desta sexta-feira, a prefeita deve fazer um vídeo informando sobre como é possível ajudar a cidade. “Contamos com o apoio de máquinas de Santa Cruz, pois as nossas estão em diversos pontos e não temos acesso.”
Ela descreveu a situação como um cenário de guerra. “Não temos mais fábricas, agências bancárias, restaurantes, supermercados, e perdemos cinco pontes. Nós aderimos ao decreto de calamidade pública do Estado, e vamos comunicar o governo federal. Dependemos de recursos públicos para nos recuperarmos. O que a gente vê pelas ruas é muito triste.”
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O hospital para manter os atendimentos está fazendo uso de um gerador de energia, e um caminhão-pipa de Santa Cruz deve chegar à cidade nesta sexta-feira para abastecer a casa de saúde com água potável.
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