Uma apreensão da Polícia Civil de Venâncio Aires expôs mais uma vez a ligação entre o tráfico de drogas na região e uma marca de cigarros contrabandeados do Paraguai. Desde o mês passado, a polícia vem percebendo a aparição de pichações com o logotipo Grupo R7, principalmente em bairros dominados por uma facção criminosa. Os primeiros casos foram identificados em Santa Cruz do Sul. No entanto, a marca vem se espalhando por outros municípios do Vale do Rio Pardo e do Vale do Taquari. Isso indica que o tráfico está se abastecendo também do comércio ilegal de cigarros.
Durante a manhã dessa sexta-feira, segundo o delegado Felipe Staub Cano, os policiais esperavam apreender drogas na moradia de um jovem de 19 anos, investigado por tráfico de entorpecentes. Por volta das 9h30, eles cumpriram um mandado de busca e apreensão na residência, no Bairro Xangrilá. Na casa, os agentes encontraram uma porção de haxixe e alguns tijolinhos de maconha. A quantidade é insuficiente para configurar tráfico de entorpecentes. O que mais chamou a atenção foi um boné, com a inscrição R7 bordada, que estava dentro do quarto do rapaz.
Em depoimento aos policiais, o jovem alegou que teria recebido o boné de outra pessoa, mas não forneceu mais detalhes. “Ele disse que ganhou de alguém que ele não sabe quem é, lá de Porto Alegre”, relatou o delegado. Pichações com a mesma marca já vêm sendo percebidas também em Venâncio Aires há cerca de um mês. “Essa facção criminosa usa dessa marca de cigarros e a gente já encontrou pichações aqui em Venâncio Aires. Tem várias”, disse Cano.
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A polícia já tinha conhecimento de que traficantes ligados à facção Os Manos estariam usando esse boné com o logotipo como forma de propaganda. “Sabíamos que tinha, mas nunca tínhamos pego isso. Foi a primeira vez que a gente encontrou.” A marca de cigarros R7 – que em Santa Cruz do Sul vem sendo comercializada principalmente em pontos de tráfico de drogas – ainda não foi apreendida pela polícia em Venâncio Aires. “Isso é uma coisa até bem curiosa. A gente vê falar disso, vê pichações, agora os bonés, mas o cigarro em si a gente ainda não apreendeu”, observou o delegado. Após depoimento, o rapaz foi liberado. Ele continuará sendo investigado pela suspeita de envolvimento com tráfico.
No Vale do Taquari
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Além de Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, pichações com a marca R7 também têm surgido no Vale do Taquari. Em Lajeado, onde a polícia sabe que há presença da mesma facção criminosa, o logotipo tem sido pichado em vários pontos, como muros e paradas de ônibus. “Eles acabaram dominando toda essa região do Vale do Rio Pardo e agora estão no Vale do Taquari também”, afirmou o delegado Felipe Cano.
Relembre
Em fevereiro, a Gazeta do Sul alertou para a expansão das atividades desse grupo criminoso em Santa Cruz. As pichações surgiram inicialmente em bairros como Bom Jesus, Pedreira e Santa Vitória, especialmente em pontos de acesso. A marca é pichada principalmente em áreas de atuação da facção Os Manos, que há alguns anos domina o tráfico de drogas na região. Embora seja uma forma de propaganda, ela não indica necessariamente um ponto de venda.
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Drogas e cigarros utilizam as mesmas rotas
Já é conhecido do meio policial que traficantes e contrabandistas de cigarros utilizam as mesmas rotas para fazer os produtos ilegais chegarem aos pontos de venda. Vem do Paraguai a maior parte dos cigarros contrabandeados vendidos no Brasil. Mas o uso de pontos de tráfico dominados pela facção para o comércio de cigarros é considerado novidade. A propaganda agressiva é vista com preocupação pelas polícias.
O cigarro R7 já foi apreendido pela Brigada Militar em Santa Cruz. Durante as abordagens, os policiais passaram a perceber que a marca vem sendo encontrada com mais frequência. Isso indica que a propaganda apresenta resultados. A lucratividade e as penas mais brandas para esse tipo de crime estão entre os fatores que, segundo a Polícia Federal, podem explicar o envolvimento de traficantes com o contrabando de cigarros. O combate a esse tipo de delito esbarra ainda no fato de que a venda se dá em quantidades fracionadas. Dessa forma, para a polícia é mais difícil configurar o crime de contrabando. A pena prevista no Código Penal é de dois a cinco anos de reclusão.
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A marca
A marca paraguaia R7 é conhecida e já estaria em circulação no Brasil, por meio do contrabando, há pelo menos cinco anos. As pichações, que são idênticas ao logo do cigarro, têm aparecido em vários pontos de Venâncio Aires, como às margens da RSC-287, em Vila Mariante.
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