Esta semana começou com choque para a capital do Líbano, com a explosão que devastou a cidade. “Quase metade de Beirute está destruída ou danificada”, disse o governador, Marwan Abbud. Enquanto equipes de resgate reviravam escombros a procura de corpos, desde essa terça-feira, 4, os números da tragédia cresciam. Oficialmente, foram 135 mortos, mas ainda há dezenas de desaparecidos. Autoridades disseram que 5 mil pessoas ficaram feridas e 300 mil, desabrigadas.
“Dei uma volta por Beirute. Os prejuízos podem chegar a US$ 5 bilhões”, disse Abbud. Na região portuária, epicentro da tragédia, o panorama é apocalíptico: lixeiras retorcidas e carros incinerados. Com a ajuda de policiais, socorristas da Cruz Vermelha e bombeiros passaram a noite em busca de sobreviventes e cadáveres.
Nessa quarta-feira, 5, as forças de segurança isolaram a região portuária. O acesso foi autorizado apenas para a Defesa Civil, ambulâncias e bombeiros. Várias horas após a explosão, helicópteros ainda seguiam despejando água para tentar conter as chamas.
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“É uma catástrofe. Há corpos espalhados pelo chão”, disse um soldado perto do porto. “Foi como uma bomba atômica”, contou Makruhie Yerganian, professor aposentado que vive há mais de 60 anos na região portuária.
O governo do Líbano decretou estado de emergência de duas semanas e abriu uma investigação para apontar os responsáveis. “Não há palavras para descrever a catástrofe”, disse o presidente libanês, Michel Aoun.
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Autoridades colocaram todos os funcionários do porto de Beirute responsáveis pelo armazenamento e pela segurança em prisão domiciliar. A principal hipótese para a explosão é a negligência. Autoridades sabiam há muito tempo dos riscos de estocar 2,7 mil toneladas de nitrato de amônio, material usado em bombas e fertilizantes, de maneira improvisada em um hangar no porto.
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“É inadmissível que um carregamento de nitrato de amônio de 2,7 mil toneladas esteja há seis anos em um armazém, sem medidas preventivas. Isso é inaceitável e não podemos permanecer em silêncio sobre o tema”, declarou o primeiro-ministro, Hassan Diab.
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A explosão de terça-feira foi tão poderosa que foi sentida no Chipre, a 240 quilômetros de distância. Os sensores do Instituto Geológico dos EUA (USGS) registraram o abalo como um terremoto de magnitude 3,3. Em alguns edifícios próximos à região portuária de Beirute, todas as janelas foram estilhaçadas. Bares, boates e restaurantes da orla ficaram arrasados.
Com a falta de eletricidade na maior parte da cidade, o trabalho de resgate do bombeiros ficou limitado ao que podiam fazer durante o dia. Nessa terça, começaram a chegar as primeiras equipes de especialistas franceses, checos, russos e alemães para ajudar nas buscas. O Irã também enviou toneladas de ajuda humanitária.
Antes mesmo da tragédia, o Líbano era um país em convulsão social. Lutando contra o colapso econômico, a crise política e a pandemia de coronavírus, a raiva nas ruas apenas aumentou de intensidade. A população agora exige respostas e culpados. Para analistas, a explosão coloca ainda mais pressão sobre o governo e pode agravar um quadro de fome.
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“É o cenário de um país que vem se esfacelando, perdendo seus alicerces básicos”, afirma Arlene Clemesha, professora de história árabe da Universidade de São Paulo (USP). “Na última década, o Líbano chegou ao ponto de não produzir nem conseguir fazer circular os bens necessários para a alimentação de sua população. Cerca de 80% dos insumos são importados. A explosão atinge o principal meio de entrada de suprimentos e agrava a instabilidade alimentar.”
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