Muitas pessoas tendem fortemente a enxergar só as coisas negativas da vida. Se não deu errado, ainda vai dar, pensam e dizem. O coração somente se aquieta quando a previsão negativa se confirmou. Estão quase sempre próximas da queixa, da desesperança, do desânimo. Esquecem-se de perceber os muitos encantos que as cercam, as pequenas vitórias constantes do dia a dia. Suas dores suplantam as alegrias.

Nos últimos anos, diversas vezes comecei minhas aulas perguntando: o que de bom te aconteceu hoje? Surpreendidos, vários alunos acabavam respondendo que nada de especial. Então, ampliava a pergunta: conviveste com a família, com amigos, com colegas? Tiveste trabalho, alimento, saúde? Viste o lindo pôr do sol? Ouviste alguma música que te aqueceu a alma? Em inúmeros momentos, não valorizamos os presentes que a vida nos propicia em grande quantidade. 

As redes sociais, poluídas e tantas vezes canais de ofensas desmedidas e desnecessárias, oferecem também algumas passagens que valem a pena. Não sei de quem é a frase, mas guardei: “Valoriza, porque depois que foi embora até defeito vira saudade”. Quantas vezes, apenas percebemos a beleza da paisagem, o generoso e iluminado coração de uma pessoa, o acolhedor espaço do trabalho ou da escola, depois que os perdemos ou deles nos afastamos.

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O sonho de cada pessoa é ser feliz, sentir-se valorizada, reconhecida por aquilo que é e faz. Para isso, precisa conhecer o tamanho desse sonho e, acima de tudo, as condições para concretizá-lo. De nada me serve ser sorteado com uma Ferrari se não tenho dinheiro para pôr gasolina. “Velho tema” é um conhecido soneto do poeta paulista Vicente de Carvalho (1866-1924). Bastante amargo, pessimista, ao final diz que a felicidade existe, sim, “mas não a alcançamos / Porque está sempre onde a pomos / E nunca a pomos onde estamos”.

Precisamos aprender a sermos felizes com a vida viável, com aquilo que constitui a vida nossa de cada dia. Para tanto, ninguém necessita de podar as asas e deixar de buscar um projeto maior, não precisa ficar estagnado, conformado, resignado com um mundo pequeno se este pode ser muito mais amplo e realizador. É para isso que muitas pessoas estudam, leem, escrevem, trabalham com intensidade, debatem civilizadamente, aprendem para construir com bases sólidas um tempo e uma sociedade diferentes, mais respeitosos e fraternos.

Vale lembrar a singela mas tocante letra da música “Epitáfio”, gravada pelos Titãs: “Devia ter amado mais / Ter chorado mais / Ter visto o sol nascer / Devia ter arriscado mais / E até errado mais / Ter feito o que eu queria fazer”. A segunda estrofe remete à aceitação das pessoas como elas são, porque “Cada um sabe a alegria / E a dor que traz no coração”.

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Seria bom, quem sabe, seguir ainda o que diz a letra: “Devia ter me importado menos / Com problemas pequenos”. Certamente, o lado bom da vida está próximo de nós, muitas vezes oculto sob um eloquente silêncio ou ostentado numa minúscula flor de cada possível jardim.

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