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Exercitar a solidariedade

Sempre gostei de estar rodeado de gente. Viver, para mim, é conversar, trocar impressões, fazer intercâmbio de sensações. Por isso, o confinamento compulsório a que fomos submetidos tem um peso ainda maior. Ficar em casa, com saídas esporádicas para compromissos inadiáveis, impõe um sacrifício imenso. Em épocas “normais”, mesmo nos dias de grande calor, não dispenso sair do trabalho para almoçar para espairecer, reencontrar velhos amigos ou colegas, caminhar pela cidade.

Muitas pessoas introspectivas tiraram de letra os primeiros meses da pandemia. Com o passar do tempo, porém, começaram a sentir as consequências da falta de contato mais próximo com pessoas de suas relações. Um ex-colega de trabalho, daqueles que fica mudo ao longo de todo o expediente, confessou que se sente um prisioneiro.

– Sinto falta até daquelas bobagens dos colegas “sem noção” e das cantadas sem qualquer criatividade que a gente ouvia nos botecos e rodas de chope – me confessou dias desses numa troca de mensagens.

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Durante quase um ano fomos obrigados a viver numa espécie de bolha. Uma sombra de dúvida, medo e incerteza se abateu sobre nós impondo doses maciças de otimismo, prudência e esperança.

Muitos se apegam à religião ou ocultismo. Outros se escondem, adotando um comportamento que se assemelha à tartaruga ou ao avestruz. Eles curtem o isolamento a sua maneira segundo as sensações, experiências e sofrimentos ao longo da vida.

Como sempre acontece existem aqueles que reagem com truculência. Este hábito encontrou solo fértil nas redes sociais, onde o semianonimato permite reações que jamais seriam adotadas publicamente. Amizades se romperam, famílias sofreram rupturas e muitas ofensas foram trocadas nestes últimos meses.

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Até mesmo o principal motivo de esperança – a vacina – tem sido foco de polêmicas acaloradas que descambam para as agressões de baixo nível. Além da insensatez, este tipo de postura quase sempre é baseado em informações inverídicas, as famosas fake news, que disseminam mentiras em proporções globais.

Ao contrário de uma esgrima de argumentos trocados verbalmente, ofensas escritas permanecem, mesmo que sejam apagadas depois. Reconciliações ficam inviabilizadas pelo baixo nível das conversas e desaforos postados nas redes sociais em momentos de fúria, insensatez e irracionalidade.

Política e doença se misturaram gerando uma explosão de atritos que muitas vezes, passado o calor do bate-boca, se transformam em constrangimento. A pandemia deveria servir, acima de tudo, para fomentar a solidariedade. Mas há quem não consiga compreender seus semelhantes nestes tempos de emergência de proporções mundiais.

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