Um ex-assessor da Câmara de Santa Cruz, Mario Kistenmacher, confirmou à comissão parlamentar que conduz o processo de cassação do vereador afastado André Scheibler (PSD) que existia um esquema de “rachadinha” no gabinete do parlamentar. O depoimento ocorreu na manhã desta quarta-feira, 15.
Kistenmacher, que foi nomeado por Scheibler em 2013, mas já atuava em suas campanhas desde 2005 e ocupou cargo na Prefeitura por indicação dele no governo Kelly Moraes (PTB), disse que, quando foi convidado pelo vereador para assumir a função na Câmara, foi informado de que receberia em torno de R$ 1 mil mais o valor do vale-alimentação e que só descobriu que a remuneração a que tinha direito era superior a isso quando o primeiro salário foi depositado em sua conta. A partir de então, passou a entregar a maior parte do dinheiro a Scheibler todos os meses. Kistenmacher alegou que só concordou com a situação porque tinha sérios problemas financeiros. “Eu não tinha outra alternativa”, disse. Segundo o Portal da Transparência, o salário bruto dos assessores parlamentares hoje chega a R$ 6,8 mil.
LEIA MAIS: Servidores confirmam que trabalharam em terreno de familiares de Scheibler
Publicidade
Scheibler acompanhou o depoimento ao lado de seu advogado – Kistenmacher chegou a pedir, antes de começar a responder aos questionamentos, que ele não permanecesse no plenário, mas a defesa do vereador não concordou. Em determinado momento, Kistenmcher se dirigiu diretamente a Scheibler e disse ter mágoas pela forma como foi tratado pelo parlamentar. “Eu trabalhava 24 horas para ti. Tu podia ter me valorizado mais”, falou.
Segundo a investigação do Ministério Público da qual Scheibler foi alvo, ele teria se apropriado de mais de R$ 300 mil em parcelas de salários de assessores. Segundo a defesa, porém, Scheibler “nunca pediu nada” a Kistenmacher.
Ao inquirir Kistenmacher, o advogado Ezequiel Vetoretti questionou o fato de ele ter permanecido atuando na Câmara apesar da suposta exigência de repassar a maior parte do seu salário. “Por que continuar na Câmara e não seguir a tua vida?”, disse. O ex-assessor também negou que tenha declarado o esquema ao MP em função da lei que exige que servidores dos gabinetes tenham ensino médio completo e que impediu a sua permanência no cargo. Kistenmacher afirmou que jamais procurou a Promotoria para denunciar Scheibler e que suas declarações foram feitas quando foi chamado para falar sobre a denúncia do uso de materiais e veículos da Prefeitura em um terreno de propriedade de familiares do vereador no Bairro João Alves.
Publicidade
LEIA MAIS: Veículos da Prefeitura de Santa Cruz são flagrados em obra privada
Vetoretti também questionou o fato de Kistenmacher ter se filiado recentemente ao PSDB, partido do vereador Gerson Trevisan, autor da denúncia que levou à abertura do processo de cassação. O advogado afirmou ter informações de que ele estaria trabalhando informalmente no gabinete de Trevisan. Kistenmacher disse não se recordar se a filiação ocorreu antes ou depois de ser demitido e que costuma frequentar gabinetes de vários vereadores devido aos laços de amizade criados no período em que trabalhou no Legislativo.
Kistenmacher também confirmou outra das acusações feitas pelo MP contra Scheibler: a de que ele mantinha assessores que possuíam atividades privadas no horário em que deveriam atuar pela Câmara. Segundo ele, Luiz de Oliveira, um dos supostos “assessores fantasma”, frequentava o prédio da Câmara raramente. “Muito pouco eu via ele na Câmara. Ele vinha quando chovia. Sempre estava na lavoura de fumo”, falou.
Publicidade
LEIA TAMBÉM: “Tenho a consciência tranquila”, diz Scheibler após ser afastado da Câmara
Ex-assessora nega exigência de valores
Além de Kistenmacher, a comissão ouviu outros quatro depoimentos na manhã desta quarta, incluindo outra ex-assessora de Scheibler, Ana Cláudia de Brito Vilanova, que afirmou que o vereador nunca exigiu parcelas de seu salário. Ana Cláudia disse ainda que Kistenmacher, de quem foi colega no gabinete, jamais relatou a ela a suposta exigência. Sobre a denúncia de “assessores fantasma”, a ex-servidora disse que Luiz de Oliveira, que é seu sogro, estava “sempre disponível para o vereador”. “Quem planta fumo é meu marido. Quando o Luiz era assessor, ele não trabalhava na lavoura”, disse.
Publicidade
Também prestou depoimento o subprefeito do distrito de São José da Reserva, Pedro Helfer, cujo filho, Douglas Helfer, também afirmou ao MP ter entregue parte de seu salário a Scheibler no período em que foi assessor. No depoimento, Helfer disse que só tomou conhecimento da situação quando Douglas deixou o cargo. Douglas deve falar à comissão na manhã desta quinta-feira, 16.
LEIA MAIS
O que diz a denúncia do Ministério Público contra André Scheibler
Os reflexos da operação que derrubou três vereadores
Cassepp diz que se baseou em “conversas de corredor”
O depoimento mais tenso, porém, foi o do vereador João Cassepp (PSDB), que assumiu a cadeira de Scheibler após a 1ª Vara Criminal determinar o seu afastamento, no dia 8 de maio. Cassepp foi chamado pelo MP para depor no inquérito de Scheibler a partir de uma informação anônima e disse, na ocasião, ter informações de que as acusações contra o vereador eram verdadeiras.
Publicidade
No depoimento à comissão, porém, Cassepp admitiu que tudo o que afirmou ao MP tinha origem em “conversas de corredor” e que não tem provas para sustentar suas declarações. Dentre as afirmações, uma era de de que o ex-assessor Luiz de Oliveira não comparecia à Câmara. “Qualquer um que viesse na Câmara e ficasse 15 minutos no corredor ouvia isso”, alegou.
Cassepp também confirmou ter dito à Promotoria que tinha conhecimento de que a maioria dos vereadores praticavam “rachadinhas”. Vetoretti pediu, então, que Cassepp indicasse quais os vereadores sobre os quais havia ouvido falar, mas ele se negou a citar a nomes. “É só caminhar no corredor que vai ouvir isso. Não de uma pessoa, de várias. Se o senhor tivesse vindo, teria escutado”, falou.
LEIA TAMBÉM: Testemunhas começam a ser ouvidas nesta terça
O parlamentar ainda foi questionado sobre ter afirmado ao MP que veículos da Prefeitura teriam transportado cargas de rachão até o terreno de João Alves – segundo os servidores ouvidos pela comissão e os próprios acusados, as únicas entregas feitas no terreno foram de cargas de terra do “bota fora” da Prefeitura. Outra acusação feita por Cassepp foi de que a secretária municipal de Habitação, Aretusa Scheibler, que é esposa de Scheibler, sabia dos carregamentos irregulares, o que ela nega.
O vereador alegou que as afirmações foram feitas com base em relatos de funcionários da Habitação. Questionado sobre quem teria informado a ele sobre os supostos carregamentos de rachão, ele citou os nomes de Pedro Helfer e Mario Kistenmacher – o primeiro havia prestado depoimento antes, enquanto o segundo negou ter feito a afirmação a Cassepp. Sobre a questão de Aretusa, Cassepp se contradisse. Primeiro, afirmou que, pela sua experiência como subprefeito, os secretários sempre são informados quando um serviço é executado. Depois, questionado se não poderia acontecer de um funcionário tomar uma iniciativa sem o secretário tomar conhecimento, respondeu: “É óbvio”.
Vetoretti ainda questionou Cassepp se a informação anônima encaminhada ao MP tinha partido dele. O tucano foi taxativo: “Absolutamente não”.
LEIA TAMBÉM: Telmo acusa vereador de circular sem máscara
This website uses cookies.