Terça-feira, 6h29. Acordei com o som do despertador. O de sempre, modo Oxygen, que o cérebro já está acostumado. E alguma coisa me dizia para lembrar do sonho. Uma sensação de que o estado onírico no qual eu me encontrava teria algo importante para me dizer, relacionado ao meu filho que eu tinha que acordar também logo e levar até o colégio, para um exame de Matemática.
Deixei-o no portão da entrada, desejei-lhe boa sorte na prova e voltei para casa. E antes de voltar também para a cama fumei um cigarro, no pátio, na esperança de que, na complacência, a fumaça me clareasse as imagens do inconsciente que eu tanto queria lembrar. Nada, novamente.
Então já eram oito horas e acertei o despertador para 8h30. Ele tocou, acordei, dormi de novo, cansado e 25 minutos depois, despertei outra vez, num sobressalto, e aí lembrei o que eu havia sonhado naquele meio-tempinho, com uma impressionante riqueza de detalhes.
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Dentro dele, do tal sonho, passei o tempo todo procurando por meu filho, que eu tinha deixado em algum lugar, nos arredores da cidade, pela manhã, e que eu não conseguia lembrar onde era. Um pesadelo, na verdade, longo e pesado, com todos aqueles ingredientes clássicos dos pesadelos: gente estranha, penumbras, roupas inadequadas, labirintos, enfim, até chegar naquele momento que eu acho o mais legal de um sonho: quando a gente sabe que está sonhando.
“Ufa, é só um sonho”, pensei eu, dentro dele, ainda dormindo, mas ainda também procurando, desesperadamente, por meu filho, pelo local onde eu o havia deixado, pela manhã. Eu só me lembrava que era em uma espécie de internato para onde os garotos iam para aprender alguma coisa…
Então chego em um sobrado de esquina, porta de madeira com uma tesoura enfiada no lugar da maçaneta. A tesoura era a maçaneta. Girei. Estava aberta. E da escuridão profunda aparece uma mulher estranha, olhos claros, pele manchada do sol, rosto grande e quadrado como uma forma de pizza, e em um único plano, um decalque adesivado na penumbra. A mulher estava séria e falava com uma voz mecânica, quase um robô.
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Eu lhe estendo a mão como se estivesse me afogando naquela confusão toda e pergunto, em um tom de súplica: – Por favor, a senhora pode me dizer desde quando eu estou sonhando?
E ela, a figura estranha, esquisita, com uma frieza assustadora, me responde: – Desde quando o teu menino se transformou em um rapaz!
Ela dá um passo para o lado e aparece o Luan, de terno, black-tie, lindo, gravatinha borboleta, todo feliz, com aquele sorrisão que é só dele, e que eu amo tanto, sobre um rostinho de expressão sacana do tipo “me-achou-finalmente-hein-pai”!
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Acordei, mais uma vez, e em paz, sem o som mecânico do despertador. Lembrei então cada detalhe do sonho que eu havia tido em instantes, a coisa mais maluca que me aconteceu este ano. E eu estava me sentindo profundamente bem!
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