Desde criança, eu sempre preferi as festas de virada de ano às de Natal. Não sei por que, mas ter que ir na missa, ver todo mundo se estressando pra fazer a ceia perfeita e esperar até a meia-noite pra ganhar presente, me parecia esforço demais, desgastante demais. Sem falar naquela situação de ter que aguentar pessoas nem tão agradáveis só porque era Natal, era chato demais fingir que estava à vontade. Por outro lado, eu tenho lembranças lindas da minha infância, principalmente na casa dos meus avós.
As alegrias eram pequenas: num ano ganhei um óculos escuro de armação rosa; em outro uma bicicleta; e sempre tinha o momento de tirar fotos com o vô. Tenho elas até hoje. Ah, uma vez meus pais fizeram eu ter certeza de que o Papai Noel existia e que ele tinha me dado a mochila de rodinhas do Mickey e da Minnie que eu tanto queria. Com o passar dos anos, porém, as coisas vão ficando esquisitas e o nosso entendimento de mundo vai mudando. As coisas que nos fazem felizes já não se resumem a presentes embaixo do pinheirinho.
***
Publicidade
No momento em que todos sentaram em torno da mesa, no dia de Natal, e aquele almoço maravilhoso foi servido, eu vi a cadeira que ele costumava ocupar vazia. Era como se o vô João fosse chegar a qualquer momento, mas eu sabia que aquilo não aconteceria. Poucas vezes eu senti tanta tristeza quanto naquele 25 de dezembro de 2019. A comida “não desceu” e eu só podia pensar em quantos presentes eu trocaria pela presença dele. Foi aí que eu passei a, definitivamente, não gostar de Natal.
No ano passado, como se simplesmente passar as festas em meio a uma pandemia não fosse ruim o suficiente – em isolamento, aliás, porque estava infectada com coronavírus –, minha vó sucumbiu à Covid-19 justamente no dia 24 de dezembro. No dia seguinte, furei o isolamento para ir ao enterro. Estava decretado: não havia mais chances de eu ter um bom Natal outra vez na minha vida.
***
Publicidade
Foi ótimo, então, quando, neste ano, eu pude escolher trabalhar durante todo o feriadão natalino. Não precisaria me preocupar em viver o Natal, apenas em sobreviver a ele e esperar ansiosamente pela virada do ano. E daí pensei na possibilidade de chegar em casa, na noite da próxima sexta, e estar sozinha. Senti o peso de todas as ausências – não só de quem já se foi, mas de quem eu deixaria de ver – e foi aí que eu percebi que não queria ser o Grinch.
Combinei com meus pais e eles virão para Santa Cruz, preparar tudo para que possamos celebrar o simples fato de estarmos juntos, com saúde e em condições de comer panetone e tomar aquela cervejinha. Ainda não decorei meu apartamento e nem sei se vou, mas, tal qual o Grinch, estou trabalhando para ressignificar a data, criar novas tradições e aprender a conviver com os presentes que já não posso mais ter.
Publicidade
This website uses cookies.