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‘Eu não perdi, Santa Cruz é que ganhou’, diz primeira candidata surda a soberana

Nem uma semana após a escolha das soberanas da 34ª Oktoberfest, concurso em que conquistou a 4ª colocação, Luiza Fischer de Almeida, 21 anos, entrelaça dois dedos das mãos e passa a mão direita em cima da esquerda.  Na Língua Brasileira de Sinais, os gestos indicam amizade e carinho, sentimentos que leva da competição e do envolvimento com as outras 18 candidatas durante os últimos três meses.

Sábado passado, a jovem surpreendeu o Ginásio Poliesportivo lotado e arrancou lágrimas dos jurados e das torcidas. Todos pararam para ver a primeira candidata surda a soberana subir no palco, desfilar e manifestar com uma desenvoltura singular por que gostaria de representar a Festa da Alegria. “Eu não perdi. Santa Cruz é que ganhou. Consegui representar os surdos e trazer um pouco mais de consciência às pessoas sobre as diferenças”, diz.

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Natural de Venâncio Aires, Luiza é focada. E não desiste. Mal concluiu a participação no certame e já planeja o próximo. “Eu não sei da onde tirei essa coragem. Desafiei até a minha mãe, que, por preocupação, tinha medo que eu sofresse algum tipo de preconceito. Quis mostrar a minha identidade e, nessa experiência, aprendi a ter força.” E deixa bem claro. “Eu vou voltar e tentar de novo.”

Concorda, porém, que não foi tarefa fácil. Antes de concorrer, tinha medo que a comunicação se colocasse como um limitador, mas o desafio foi facilmente driblado. A jovem recebeu apoio irrestrito da intérprete Suzana Fardin e das parceiras de concurso, sempre interessadas em aprender a Língua de Sinais e fazer com que Luiza não ficasse sem entender qualquer detalhe. “As trocas que aconteceram durante esse percurso foram muito importantes para o meu crescimento. Quero continuar amiga dessas pessoas que conheci. Só tenho a agradecer.”

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Em 2018 – e graças à participação da Luiza – foi a primeira vez que a organização da festa transmitiu a escolha das soberanas com a tradução simultânea de um intérprete de libras. O público, é claro, se emocionou e aprendeu junto com a candidata número 16. “Surdos não são coitados. Somos iguais.” A única diferença é que surdos falam com as mãos. E Luiza chama isso de dom.

Próximo passo é cursar Administração

Luiza Fischer de Almeida mora há cinco anos com a avó em Santa Cruz do Sul e trabalha no setor de processamento da Kopp Tecnologia. No ensino fundamental e médio, estudou nas escolas Gaspar Bartholomay e Nossa Senhora do Rosário, onde conheceu a sua intérprete e agora amiga, Suzana Fardin. Seu próximo objetivo é prestar vestibular para Administração e alçar voos maiores na empresa que trabalha.

Aos fins de semana, a jovem costuma visitar a mãe e a irmã em Passo do Sobrado. Mas, vez que outra, gosta de uma festinha. Para este sábado, aliás, já combinou de ir à Oktoberfest com um grupo de amigos surdos que vêm de Caxias, Porto Alegre e Santa Maria.

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Dentro do parque gosta de visitar os estandes, mas também de prestigiar os shows. “Eu não escuto a música. Eu sinto ela.” Não é por menos que durante os ensaios para o espetáculo apresentado sábado, foi ela quem escolheu uma das músicas que a coreógrafa, Francelle Costa (do Jeffs Studio), apresentou às candidatas. “Eu sinto a vibração e, naquela oportunidade, sugeri a canção que fez meu peito bater mais forte.”

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