Na próxima terça-feira, 11, alunos e professores dos cursos de Engenharia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) embarcam para a 26ª edição da competição Baja SAE Brasil. O evento ocorre entre os dias 11 e 15 deste mês, no Parque Tecnológico de São José dos Campos, em São Paulo. Mais do que isso, o grupo de 20 pessoas vai atrás de um sonho, idealizado há dez anos e que cada vez fica mais próximo: a vaga no Mundial da competição.
As cerca de 24 horas de viagem de Santa Cruz do Sul até o evento, dividindo o espaço do ônibus entre os integrantes, ferramentas, equipamentos, bancadas e gazebos, além do protótipo de veículo off-road a ser apresentado na competição, parcialmente desmontado, são apenas uma prévia do que a equipe Baja de Galpão irá enfrentar no criterioso evento, idealizado nos Estados Unidos em 1976 pela Society of Automotive Engineers (SAE).
Voltado totalmente à prática, a Baja SAE oferece a chance de aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula, visando incrementar a preparação para o mercado de trabalho. Para tanto, os alunos se envolvem com o desenvolvimento de um baja (o modelo do carro) desde sua concepção, projeto detalhado, construção e testes.
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A equipe Baja de Galpão, dos cursos de Engenharia da Unisc, já venceu a etapa regional em 2016, que envolveu instituições de ensino da Região Sul do Brasil. No ano passado, buscou o título nacional e ficou em sexto lugar – sua melhor colocação até então, desde que começou a participar do certame, em 2010. Para ir ao Mundial, que vai ser disputado de 3 a 6 de junho em Illinois, nos Estados Unidos, a Baja de Galpão precisa ficar entre as três primeiras colocações na semana que vem.
“É o nosso sonho. Temos isso traçado como meta, dentro do nosso planejamento estratégico. Estamos há dez anos tentando e sabemos que não é fácil”, comentou Fernando Sansone, professor do curso de Engenharia de Produção e coordenador do projeto Baja. Além dele, a delegação santa-cruzense é formada pelo coordenador do curso de Engenharia Mecânica, Flávio Thier, e alunos.
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Embora a competição comece no dia 11, desde o final de 2019 a Baja de Galpão já trabalha para a participação da equipe no certame. Ao projetar o veículo a ser apresentado, é necessário escrever e enviar à organização um relatório, que já rende pontos. “Essa primeira etapa da competição vale 120 pontos. Já recebemos o feedback da organização e, até o momento, estamos em 11º lugar entre as mais de 70 equipes participantes”, afirmou Sansone. “É a nota de relatório mais alta que obtivemos até agora, em todos esses anos. Isso nos anima para a competição da semana que vem.”
Na disputa em São José dos Campos, primeiramente serão analisados quesitos de segurança do carro, como frenagem e manobrabilidade, além de avaliações sobre o controle de desvios de obstáculos. “A intenção deles é não colocar carros na competição antes de serem analisados criteriosamente. Estando tudo ok nessa parte de segurança estática, passa-se para a dinâmica, onde um juiz trafega com os carros e verifica a condição de uso”, explicou Fernando.
A partir dessa etapa, começam as disputas de projeto, em que são analisadas a suspensão, direção, powertrain, design, eletroeletrônica e freio. Também é verificado se o reservatório de gasolina, o motor, a transmissão e a potência das rodas estão em boas condições. “Nosso carro é o único do Brasil que tem marcha a ré, com uma para a frente e uma neutra”, ressaltou o coordenador do projeto. Questionamentos sobre as configurações e adequações feitas no projeto também devem ser justificadas pelos participantes.
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“É uma competição muito rigorosa, pois todos os juízes são especialistas nas suas áreas, além de trabalharem nas indústrias automobilísticas. Então, é um julgamento bastante criterioso e nossos alunos precisam estar preparados”, afirmou Sansone.
A despedida do BG-18
De dois em dois anos, o chassi de cada baja, que poderia ser considerado o “corpo” do veículo, é obrigatoriamente trocado, mediante normas de segurança exigidas pela organização do evento para garantir a integridade dos componentes estruturais do carro. No certame deste ano, o BG-18, nome do protótipo que será levado a São Paulo pela Unisc, fará a sua despedida das competições, já que participou na edição nacional de 2019. “Com ele conseguimos a histórica colocação de sexto lugar, nossa melhor posição na história. Quem sabe não é na despedida dele que conseguimos a vaga ao Mundial”, comentou Fernando Sansone.
O cuidado com o veículo será redobrado, não apenas por manter o mesmo chassi para este ano, mas também em virtude de um contratempo ocorrido na edição de 2019 que, na visão do coordenador, custou a ida ao Mundial já no ano passado. “Durante o enduro de resistência chegamos a estar em segundo lugar, mas nossa antena caiu e tivemos que voltar ao box, o que nos custou uma volta atrás do que ficou em primeiro lugar. Se tivéssemos feito mais uma volta, ficaríamos entre os três melhores, que representaram o Brasil no Mundial.”
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Para evitar que ocorra mais um contratempo, a equipe instalou um novo sistema para a antena, com redundância (mais de um meio de fixação). “Esse é o nosso diferencial. É um trabalho incansável na gestão para aprender com os erros sempre, e isso vem nos garantindo a nossa melhora todo ano.”
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Semelhanças entre o atual e o futuro capitão
Se o BG-18 irá para a última competição nacional, o mesmo ocorre com o capitão da equipe, Vinícius Dreher Barbon, de 23 anos. O estudante, que está no último semestre do curso de Engenharia Mecânica da Unisc, entrou para a Baja de Galpão em 2014 e quer garantir a vaga ao Mundial antes da formatura. “Estou nessa expectativa há anos, e uma das nossas metas era ir pro Mundial até 2020. Quero muito cumprir isso antes de terminar minha participação na equipe.”
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Engana-se, porém, quem acha que o jovem não irá ao Mundial caso a equipe consiga a vaga. “Não perco de jeito nenhum. Em junho ainda vou estar matriculado na Unisc, portanto poderei ir aos Estados Unidos”, afirmou o capitão, otimista em relação à vaga.
Ao mesmo tempo em que Vinícius está de saída, a equipe já prepara o novo capitão, Arthur Gassen Geller, de 20 anos. Por coincidência, os dois amigos possuem trajetórias parecidas. “Tanto eu como o Vinícius estudamos no Colégio Marista São Luís. Também participamos da robótica lá e estamos fazendo o mesmo curso. Agora estamos cursando algumas cadeiras juntos também. Me sinto muito preparado para assumir essa condição que ele vem desempenhando com grande potencial”, disse Arthur, que está no grupo desde 2017.
“Todos os alunos que participam do projeto Baja são diferenciados. Dão o sangue, são comprometidos e interessados. Temos uma grande equipe, pronta para fazer bonito em São Paulo”, garantiu Fernando Sansone.
“Vão para a guerra”
Na parte final da competição, ocorre uma etapa onde os baja são colocados à prova em testes de tração das rodas, bem como frente a obstáculos – como trilhos de trem – que os veículos precisam atravessar e se manter em boas condições. Por fim, segundo o professor Fernando, os off-road “vão para a guerra”. “No último dia, ocorre o enduro de resistência, em que um piloto nosso participa de uma corrida de quatro horas em um circuito. Ganha quem andar mais voltas sem arrebentar ou quebrar. O primeiro nessa etapa recebe 400 pontos, que vão diminuindo sucessivamente conforme as colocações.”
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