Desde que se tornou a única forma de ingresso na maioria das universidades federais e também para o Programa Universidade Para Todos (Prouni), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou a ser uma das provas mais disputadas do Brasil. Para garantir a vaga na graduação ou na instituição desejada, muitos estudantes complementam o aprendizado da escola regular com cursinhos durante e depois do Ensino Médio, uma situação que evidencia o quão concorrido é o processo seletivo e como isso pode se tornar mais um obstáculo.
Ainda que o ensino público sofra com visíveis e inegáveis problemas de infraestrutura, falta de professores e outras questões, alguns colégios públicos se sobressaem e alcançam resultados que servem de exemplo para todos. É o caso da Escola Estadual de Educação Básica Padre Benjamim Copetti, de Sobradinho, e da Escola Estadual de Ensino Médio Vera Cruz, de Vera Cruz. Em ambas, vários alunos conseguiram notas superiores a 900 na redação e revelam as estratégias usadas para obter esse sucesso.
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Leitura e atenção aos assuntos do momento são fundamentais
As redes sociais foram inundadas, nos últimos dias, com fotografias de estudantes e mensagens de congratulação. As imagens são o retrato da comemoração de alunos, professores, escolas e coordenadorias de educação com as excelentes pontuações alcançadas na prova de redação do Enem 2023. A nota média no País foi de 641,6 pontos.
No Centro-Serra, vários jovens conquistaram notas iguais ou superiores a 900 na redação. Entre eles estão 11 ex-alunos da Escola Estadual de Educação Básica Padre Benjamim Copetti, de Sobradinho, que concluíram o Ensino Médio no fim de 2023.
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O tema proposto foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Duas alunas obtiveram 980 pontos na redação. Uma delas é Laura Schirmann Klein, de 17 anos. A jovem conta que, desde que iniciou no Ensino Médio, as leituras e pesquisas sobre diversos assuntos e o formato da prova se intensificaram. No segundo ano dessa etapa de formação, passou a frequentar também cursinho preparatório para o Enem e vestibulares, onde começou a escrever uma redação por semana.
“Tinha os três turnos ocupados. Pela manhã na escola, à tarde auxiliando meus pais na loja e à noite no cursinho. Nos finais de semana também estudava direto”, ressalta. Em 2022, como treineira do Enem, a nota na redação foi 860. Para Laura, o bom desempenho não tem muito segredo, resume-se a dedicação. Uma de suas dicas para quem irá realizar a prova é escrever a dissertação antes de dar início às questões objetivas.
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“Além da redação semanal, eu sempre estava ligada em ler e me atualizar sobre o que acontecia no mundo, já que a redação sempre trata de um tema atual. Para ter uma noção do que escrever no dia da prova, é sempre importante estar atualizado sobre isso, ler muito e praticar”, ressalta Laura. A jovem salientou que a semana anterior à prova foi de ansiedade e sequência nas pesquisas.
Apesar de ter obtido nota para ingressar pelo Enem no curso desejado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a sobradinhense prestou vestibular na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), onde decidiu se matricular e cursar Ciências Contábeis. Nessa área, ela vislumbra a possibilidade de concursos públicos. Os custos para se manter em Santa Maria também pesaram na decisão, tornando mais viável, segundo ela, a mensalidade e o transporte diário a Santa Cruz.
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Outro ex-aluno da Escola Estadual de Educação Básica Padre Benjamim Copetti é Artur de Freitas, de 18 anos, que alcançou 940 pontos na redação do exame. O objetivo é ingressar em uma universidade pública, por isso participou do Enem e fez a prova do vestibular da UFSM.
Além da escola, nos últimos três anos, Artur também frequentou um cursinho preparatório para vestibulares. Ele diz que sua preferência é por prestar atenção e aprender nos momentos de aula em ambos os ambientes. Conta que sempre teve interesse pela leitura, mas nem tanto pela escrita. Na hora da redação, portanto, acabou se encontrando em seguir um “passo a passo” na apresentação do conteúdo e de seus argumentos.
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Artur conta que em seu último ano do Ensino Médio, sobretudo, os professores incentivavam e buscavam aperfeiçoar o texto dissertativo-argumentativo, cobrado no certame. Artur frisa que suas formas de se manter atualizado sobre os temas em destaque na sociedade, para além das aulas, eram por meio das redes sociais, tanto no que se refere a notícias do mundo quanto também sobre palpites de temas.
O estudante se inscreveu para Engenharia Florestal através do SISU, na UFSM Campus Santa Maria. Se aprovado, irá se matricular, mas durante este ano pretende servir no Exército, para iniciar efetivamente o curso no ano que vem. Artur afirma que sempre teve muito incentivo dos pais para “criar asas” e seguir adiante, buscando melhorar de vida.
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Construção feita ao longo do tempo
Para a vice-diretora do turno da manhã na Escola Copetti, Rosemari Heringer, os resultados obtidos demonstram a importância da trajetória do aluno. “A questão das notas do Enem é uma construção que se faz ao longo do tempo, desde que o aluno entra na escola, que aprende a ler e escrever, e o incentivo para que ele leia e escreva.”
Ela acredita que as notas da redação estão muito vinculadas a isso. “O aluno que gosta de ler, ele gosta de escrever, e não é só gostar de ler um assunto, mas tem que estar aberto para todos os temas.” Salientando ainda que cada texto escrito serve para ampliar o conhecimento e as possibilidades.
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“Por isso a gente fala na importância do incentivo à leitura desde pequenos. Pode até ser um clichê, mas quem lê mais escreve melhor”, frisa. Rosemari enaltece os professores de Língua Portuguesa, que mesmo com redução na carga horária conseguem colher resultados positivos. “Parabenizamos todos os alunos da região e professores pelo empenho. A gente sabe que é uma construção conjunta, e o aluno também tem que estar aberto para isso.”
A pontuação máxima, nota mil, foi atingida em 60 redações entre os mais de 2,7 milhões de participantes do Enem. Apenas quatro são de alunos da rede pública de ensino, conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Na edição anterior, em 2022, apenas 18 candidatos alcançaram a nota máxima.
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Redação exige conhecimento, boa escrita e posicionamento
O número de redações com notas próximas de 900 é motivo de alegria não só para os estudantes, mas também para quem acompanha o percurso de estudos dos jovens. Conforme o coordenador da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura (o Chiquinho), o desempenho dos alunos foi recebido com alegria pela CRE, mas, ao mesmo tempo, entendendo que estão no caminho no que diz respeito ao novo Ensino Médio gaúcho, havendo questões a avançar.
Ele explica que os novos componentes curriculares ajudam a aprimorar o pensamento crítico, além da forma de desenvolver a escrita e expor seu posicionamento. “Se formos verificar, nos últimos tempos, a redação do Enem sempre vêm trabalhando temas de questões sociais, e esses componentes trabalham muito acerca disso.” Também cita as habilidades e competências necessárias para que os alunos tenham boa escrita, posicionamento, e também o trabalho realizado dentro das áreas das Linguagens.
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Além disso, Moura destaca a importância da redação, um dos fatores que pode tanto eliminar quanto garantir a vaga na universidade. Segundo ele, os alunos provenientes das escolas da região da 6ª CRE tiveram boas médias na redação.
Ainda segundo Chiquinho, foi realizada uma escuta com os estudantes do Ensino Médio. Concluiu-se que eles sentiam necessidade de uma maior carga horária dos componentes curriculares de formação básica. Recentemente foram aprovadas, via Conselho Estadual de Educação, as novas matrizes para o Ensino Médio. Dentro destas, há uma carga horária voltada aos preparativos para o Enem, provendo maior preparo para os jovens. Esse novo itinerário vai ter início neste ano.
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O coordenador destaca que a 6a CRE trabalha com duas plataformas de incentivo à leitura. Elas são o Elefante Letrado, que tem seu maior foco nos anos iniciais do Ensino Fundamental, e a Árvore de Livros, a qual abrange os anos finais do Ensino Fundamental e também o Ensino Médio.
Reforça ainda que os professores de todos os componentes foram bem preparados, com diversas formações e cursos para melhorar as práticas pedagógicas. O coordenador deixa o lembrete a todos que a volta às aulas na rede pública estadual ocorrerá no dia 19 de fevereiro. Para tanto, os professores já estarão participando de formações a partir desta segunda-feira, 5.
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É necessário motivar a busca pela graduação
Para o diretor da EEEM Vera Cruz, Carlos Jardel Henn, antes de cobrar interesse pelo Ensino Superior e desempenho no Enem, é preciso mostrar aos estudantes como é uma universidade e como funciona um curso de graduação, pois muitos deles desconhecem tudo isso. Para tanto, a escola organizou visitas à Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com o objetivo de ambientar e dar aos jovens uma ideia de como será o futuro, caso consigam uma vaga.
Ele também reforça a importância de mostrar como são as provas. Uma parceria com a Unisc foi firmada para a realização de oficinas, além de palestras e debates que mostram todas as possibilidades abertas a partir de um bom resultado no Enem. “Nós sabemos que o conhecimento deveria ser uma coisa desejada por todos, mas nem todos pensam assim. Então, saber os benefícios que o Enem pode trazer é uma das maneiras de motivá-los a se prepararem melhor”, afirma Henn.
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Ele diz que em anos anteriores já houve resultados semelhantes, mas não na mesma quantidade. Com isso, a régua se eleva e agora a missão é manter e até melhorar o patamar alcançado. “Isso eleva o nível, então cada vez precisaremos de mais esforço dos professores, orientação e cobrança para que os estudantes tenham desempenho.”
Uma das ações com esse objetivo é destinar parte das verbas da escola para a compra de livros e materiais de apoio. “O aluno só vai conseguir escrever bem se tiver técnica de escrita, conhecer palavras e saber fazer as ligações para enriquecer o texto.”
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Salienta ainda a superação de todos os responsáveis por esse desfecho, diante das dificuldades enfrentadas nos últimos anos, sobretudo a pandemia da Covid-19 e a perda de direitos dos professores da rede estadual. “Isso nos estimula muito, porque mesmo com as adversidades estamos conseguindo fazer um bom trabalho”, comemora Henn.
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