Os desenhos de Luís Felipe de Carvalho são inspiradores. Personagens da Marvel e DC são retratados com perfeição. Expressões faciais, sombras, detalhes da vestimenta… Nada passa batido. E o mais curioso é que o autor é praticamente cego. Por causa da toxoplasmose, Luís nasceu com apenas 5% de visão. O tato sempre foi um aliado importante. É uma ferramenta nas suas produções.
O desenho entrou na vida de Luís logo cedo. Passou a se interessar pelo gosto do pai e, aos poucos, começou a desenvolver técnicas conforme as condições. Chegou a fazer um curso em 2013 para aprimorar o traço em relação à anatomia humana. O material que utiliza para as suas criações e reproduções é simples: lápis tipo 2B, caneta esferográfica de ponta fina e uma caixa com 24 lápis de cores variadas. O sombreamento é feito com os dedos, umedecidos na água.
Adolescente desenha seus personagens favoritos.
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O resultado encanta. O trabalho exuberante atrai os olhares dos alunos mais jovens. Aos 17 anos, Luís está no segundo ano do ensino médio da Escola Monte das Tabocas, em Venâncio Aires. A admiração dos colegas serve de inspiração. Em meio aos pedidos por desenhos de super-heróis, alguns fãs se arriscam a rabiscar algo na folha de ofício. Quem sabe Luís não seja um estímulo para que outros também possam ter um painel com os desenhos expostos na escola?
Luís garante que se sente inspirado pelo apoio que recebe. Tanto dos colegas e professores como da família. Ele acredita que não seguirá nessa carreira, pela falta de investimento e dificuldades no mercado de trabalho. Quer manter os desenhos como hobby, talvez participar de eventos nessa área. Como ofício, pretende se aventurar na logística e gestão. Mas o que ele almeja, sobretudo, é deixar um legado. Saber que fez algo relevante na comunidade escolar.
O tato sempre foi um aliado importante. É uma ferramenta nas suas produções. Foto: Lula Helfer.
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Solidariedade
Quem pensa que Luís fica limitado aos desenhos, se engana. O garoto aprendeu a tocar instrumentos de corda. No Natal, participou de uma apresentação especial na escola que frequenta desde os 5 anos. Aliás, foi no Monte das Tabocas que ele conheceu uma professora que considera a sua segunda mãe. Silvania Leismann mantinha a Sala de Deficientes Visuais, que auxiliava alunos com essa condição. Ela se aposentou e a DV – como a sala era chamada – foi extinta. A família de Luís se comunica com Silvania até hoje.
Os colegas são solidários. Ditam para Luís o que ele não consegue enxergar no quadro-negro. As professoras elogiam a força de vontade do rapaz, que procura se esforçar para tirar boas notas. A família se orgulha. Luís aprendeu o alfabeto aos 3 anos, pela insistência da mãe, que pensava ser necessário desenvolver a cognição no menino para que pudesse acompanhar as outras crianças no mesmo nível. Mas, convenhamos: ele aprendeu direitinho e muito mais. É é um grande exemplo a ser seguido para quem vive de “mimimi”. Para quem encontra motivos para reclamar de tudo nesta vida.
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