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Estranhas experiências gastronômicas

-Qual será o gosto da minhoca?
A pergunta, em plena hora do almoço, nos deixou meio preocupados.
– Mas por que tu queres saber isso, Ágatha?
– Sei lá… fiquei curiosa…
É o tipo de curiosidade que assusta. Já ouvimos várias histórias de crianças que foram parar no hospital por conta de estranhas curiosidades gastronômicas. Certa vez, uma prima da Patrícia estava dirigindo quando o filho, um garotinho pequeno, anunciou do banco de trás:
– Mãe, comi um dinheiro.
– Como assim, filho?
– Comi um dinheiro que achei aqui.
Apavorada, a pobre mãe correu para o hospital e o garoto passou por raio-X. Analisando a chapa, o médico tranquilizou a família.
– Vai sair por si.
Por sorte, era uma moedinha de um centavo.

Passamos por experiência parecida quando a Isadora, ainda com 2 ou 3 anos, veio avisar:
– Acho que comi o sapato da Barbie.
– Tem certeza?
– Acho que sim.
De fato, ela estava brincando com a boneca na hora do incidente e um dos sapatinhos simplesmente havia sumido. Ainda o procuramos, na esperança de que, quem sabe, tivesse caído em algum lugar. Olhamos embaixo da cama, removemos a cômoda, perscrutamos o baú de brinquedos… e nada do sapatinho.
Patrícia quis levá-la ao hospital, mas, analisando o outro sapato do mesmo par, avaliando o plástico mole e o tamanho da peça, concluí:
– O intestino se encarregará.
E nunca mais se viu aquele sapatinho novamente.

Também sabemos de inúmeros históricos clínicos envolvendo crianças que enfiaram coisas nas narinas ou nos ouvidos – grãos de feijão são os mais comuns. Certa vez a Yasmin, também pequenina, nos chamou apavorada, com um miolo de pão no nariz. Tentei removê-lo com uma pinça, mas não tinha jeito de sair.
Já estava cogitando levá-la ao médico quando decidi apostar em uma última tentativa, calcada nas leis da física. Tampeilhe a outra narina – a que estava desimpedida – e pedi que assoprasse com força pelo nariz, com a boca fechada. O miolo saiu voando do nariz, como uma bala de canhão.

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Voltemos, porém, ao caso da minhoca. É sabido que em certas culturas se comem, há milênios, minhocas, gafanhotos, besouros, formigas e outras iguarias que nos parecem estranhas, mas que, segundo os apreciadores, são muito saborosas e, de acordo com os cientistas, bastante nutritivas. Não pretendo entrar aqui na famigerada polêmica da sopa de morcego, outro assunto que dá pano para a manga. Fiquemos, portanto, na minhoca.

Conta-se que durante o reinado de Xerxes – interpretado por Rodrigo Santoro, com o cabelo raspado, no filme 300 –, entre os anos 486 e 465 a.C., havia na Babilônia, então sob o domínio persa, um mago chamado Osthanes, que receitava minhocas para dores nas costas. Pode-se imaginar a cena…
– Ai, doutor. Acho que me desconjuntei…
E o mago Osthanes, sem tirar os olhos da ficha do paciente, receitava:
– Uma minhoca de seis em seis horas.

A medicina tradicional chinesa também atribui poderes de cura ao consumo de minhocas – um prato considerado bastante refinado por lá. Fala-se de certo ex-jogador do Inter que, durante uma temporada
no futebol chinês, demonstrou repulsa ante uma sopa recheada com minhoquinhas, para surpresa do garçom.
– Good, good – teria insistido o garçom, arranhando no inglês.

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Um pouco mais perto de nós, a tribo indígena Makiritare, da Venezuela, cozinha e come minhocas com pão de mandioca. E a indústria farmacêutica dos dias de hoje pesquisa a produção de pomadas a partir dessas criaturinhas, ricas em antibióticos naturais. Isso só para citar alguns exemplos.

Será que tudo isso o convenceu, amigo leitor, a inserir a minhoca no prato do dia?
Não? Nem a mim. Por isso, a pergunta de Ágatha me intrigou e tive que insistir:
– Ágatha, afinal, por que queres saber do gosto da minhoca?
– Sei lá. É só curiosidade mesmo…
– Mas agora quem ficou curioso fui eu… por que queres saber disso?
– Ahhh, pai… por que tu tem que ser tão curioso???
E deu o assunto por encerrado, mantendo vivo esse preocupante mistério.

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