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Estiagem: um desafio a mais para os feirantes

Mauro Alves, de Rio Pardo, notou que as melancias estão menores do que em outros anos. Até o sabor, segundo ele, está diferente

Um verdadeiro desafio. É assim que os feirantes de Santa Cruz do Sul definem o período de ofertas de seus produtos aos consumidores, diante da escassez de chuva e do forte calor. Acostumado a uma produção farta de hortaliças e frutas como alface, beterraba, rúcula, couve, melancia e morango, o agricultor Mauro Alves, de 35 anos, já percebeu os efeitos do verão escaldante.

“Este ano, vem sendo um desafio desde o início. A estiagem começou em novembro, o que é totalmente atípico, pois normalmente inicia a partir do meio de dezembro. As temperaturas muito altas, aliadas à estiagem, fazem com que as plantas paralisem o desenvolvimento, não puxem os nutrientes necessários e não desenvolvam”, comentou.

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Segundo ele, passando dos 30 graus, a produção já sente os efeitos. “Por exemplo, a alface, mesmo embaixo de uma tela de sombrite, acaba crescendo totalmente desequilibrada. E quando ela começa a desenvolver flor, fica amarga e a produção se perde”, disse Alves, que possui lavouras em Rio Pardo e vende seus produtos na feira rural do Bairro Santo Inácio.

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Ele compara a condição da planta à do ser humano. “A gente sofre com esse calor e a planta também. A temperatura do chão chega a 70 graus. Nessa condição, ela não absorve nutriente nenhum, só se fecha para não morrer”, disse ele, que cursou técnico agrícola no Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural (Cedejor). Conforme o produtor, que trabalha com agricultura orgânica desde 2005, fica evidente a perda de tamanho nos produtos e até do sabor, em determinadas frutas.

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Com o excesso de calor, mesmo com irrigação, a quebra, segundo ele, chega a 50% da produção. “Hoje não estamos repassando ao consumidor a perda, mas é bastante. Economicamente falando, vem sendo um momento muito difícil pra gente, porque enfrentamos a pandemia, tivemos que nos reinventar e agora toda essa estiagem, sem contar que vem tendo um acréscimo muito grande de custo de produção devido ao aumento dos insumos. A própria adubação orgânica está mais cara, assim como os equipamentos e maquinário.”

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Frutas estão menores, mas vendas são boas

Mauro mostrou à Gazeta do Sul as melancias e morangos colhidos e selecionados para venda. “Normalmente, os morangos são bem maiores. Uma melancia como esta deveria ter cerca de 10 quilos, mas está pesando 5,5 quilos. Só aqui tem quase 50% de perda”, disse ele, depois de retirar a fruta na balança. O sabor também é impactado. “As melancias estavam mais doces. Com o calor forte, ela não absorve tanto o potássio, que oferece a doçura.”

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O lado positivo é que a população segue comprando. “A gente é muito grato aos consumidores. Eles entendem, sabem que está difícil e acabam prestigiando a feira. Sem contar que são produtos sem nada de químico ou agrotóxico. O que consumirem daqui será um alimento que causa benefício à saúde.” Com a sacola cheia de produtos, Olga da Silveira, de 65 anos, disse que não perde a oportunidade de comprar na feira rural do Santo Inácio. “A gente nota que as frutas e verduras estão menores, mas continuam gostosas.”

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A produção de Leonice Sehn, de 52 anos, também sofreu baixas. “De milho, não colhemos nada. Não tem espiga. Secou. Cortamos para a silagem, para ter o pasto para o trato animal. Nas plantas, é a mesma coisa. A raiz ferve com o calor e não se desenvolve. Ao contrário, regride”, disse a agricultora, que mora em Linha João Alves. “Uma pancada de chuva, como deu esses dias, não resolve. A terra continua seca demais”, complementou.

Ela comercializa seus produtos na feira rural ao lado do Parque da Oktoberfest. Mesmo com grande procura, afirma que alguns clientes comentam sobre as condições dos produtos. “Tem muitas pessoas que entendem, mas outras não. Embora seja difícil diante de tanto calor e estiagem, buscamos ao máximo fornecer os alimentos de qualidade que eles querem.”

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