Há aproximadamente um mês, o preço do litro de leite UHT – também conhecido como longa-vida – disparou nos supermercados do Estado. Em levantamento na manhã dessa quarta-feira, 15, a Gazeta do Sul encontrou o produto sendo vendido por R$ 3,98 (veja quadro) a marca mais cara. A baixa na produção causada pela estiagem e a compra em grandes volumes no início do período de distanciamento social são as explicações da indústria para o reajuste – que atinge apenas o consumidor.
Nas prateleiras dos supermercados santa-cruzenses, o preço oscila entre R$ 2,99 e R$ 3,98, da marca mais barata à mais cara. Conforme a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), o valor final chega a ser 200% maior que aquele pago ao produtor de leite, que segue enfrentando dificuldade no campo. “O preço médio pago pelo leite de qualidade, para grandes propriedades, é de R$ 1,35 por litro, no máximo. Há quem receba entre R$ 1,10 e R$ 1,20”, denunciou o presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva.
Por conta da estiagem que castiga o Estado desde novembro do ano passado, o volume de pastagens encolheu junto com as espigas de milho, que torraram ao sol, inviabilizando a produção de silagem para o gado leiteiro. “O custo de produção aumentou 35% por conta do emprego de ração na alimentação dos animais”, destacou Joel da Silva.
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A Fetag lançou nessa quarta-feira, 15, um manifesto no qual esclarece que a escalada de preços no leite UHT não é culpa da produção. A alta, segundo a entidade, está entre a indústria e o varejo, que são as pontas da cadeia produtiva e fazem o leite chegar à casa do consumidor. “Outro elemento importante é que os agricultores apenas têm conhecimento do valor que receberão pelo litro de leite 45 dias após a entrega do produto à indústria. Deste modo, queremos deixar claro que não é o produtor que coloca o preço”, reforçou o dirigente por meio do manifesto da Fetag.
Estiagem e custo de processamento
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O secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, explicou que o período de entressafra, entre abril e agosto, geralmente baixa a quantidade de leite em 700 mil litros por dia. “A estiagem, que se agravou em dezembro do ano passado, reduz a produção em 2 milhões de litros por dia”, disse.
O dirigente revelou que este é um dos motivos para a elevação do custo do leite longa-vida. O segundo fator está na forma de distribuição do produto no Estado. Segundo o dirigente, redes menores de supermercado tendem a comprar lácteos de atacados e distribuidoras. Por conta disso, o preço pago em uma carga acaba sendo maior do que as negociações de grandes redes.
O custo de processamento também é uma explicação do segmento. Palharini destacou que o preço da embalagem, cotado pelo dólar, está em R$ 1,20, elevando os gastos para a produção. “Isso tem um pouco a ver com a pandemia do coronavírus, responsável pela alta do dólar nas últimas semanas.” O Conseleite – órgão formado por indústria, produtores e governo – se reúne no dia 28 para discutir o preço médio ao produtor. Segundo Palharini, o valor pago à produção varia entre R$ 1,10 e R$ 1,60, dependendo da qualidade e da quantidade.
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Responsabilidade é da indústria, segundo o varejo
A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) confirmou que o leite é o produto que mais subiu no Rio Grande do Sul no último mês. Segundo a entidade, dois fatores colaboraram para o reajuste – um deles, o consumo, que baixou os estoques das lojas a partir da segunda quinzena do mês de março.
O presidente da Agas, Antonio Cesa Longo, disse que o reajuste do leite começou na primeira semana do isolamento social, mas esta não é a justificativa. “Entre os meses de abril a agosto, no período da entressafra, o preço sobe. Houve um ano em que o valor do litro chegou a R$ 5,00 em algumas áreas do Estado”, confirmou.
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Após o consumo mais alto, a indústria reajustou na faixa de 40% o preço do litro do leite longa-vida no Rio Grande do Sul. Este reajuste, segundo Longo, foi repassado ao consumidor nos supermercados nos últimos dias.
VALORES POR MARCA
Elegê – de R$ 2,99 a R$ 3,59
Languiru – de R$ 3,09 a R$ 3,48
Dália – de R$ 2,99 a R$ 3,39
Santa Clara – de R$ 2,99 a R$ 3,85
Piá – de R$ 3,19 a R$ 3,98
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IMPORTANTE: pesquisa realizada na manhã dessa quarta-feira, 15, entre 11 horas e meio-dia, em cinco lojas de redes de supermercados instaladas em Santa Cruz do Sul.
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