O Vale do Rio Pardo tem se transformado em polo de produção de frutas. Um dos exemplos é o número de parreirais, que tem evoluído, representando geração de emprego e acendendo a possibilidade de incentivo ao turismo rural, além de fomentar as agroindústrias. Os números, apesar da estiagem, são positivos. A irregularidade da chuva, porém, representa dificuldade no enchimento das bagas, ainda que não afete o sabor, na maioria dos casos.
O município com maior área produzida na região é Encruzilhada do Sul. O secretário da Agricultura, Marco Antônio dos Santos, contabiliza 550 hectares destinados ao cultivar, o que deve resultar em 4,5 milhões de quilos. É menos do que se havia previsto, mas ainda assim é considerado positivo diante das condições climáticas adversas do período da atual safra. Os produtores devem estar se aproximando de 50% da colheita, que é iniciada com as variedades precoces, destinadas para vinhos finos e espumantes. O destino é a Serra Gaúcha.
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A expectativa de Santos é de que seja instalada uma processadora da uva no município. “Acreditamos que na próxima safra já estará pronta para processar. Isso deve incentivar o turismo rural”, projeta.
O titular da Agricultura entende que essa é uma tendência, haja vista o anúncio da inauguração, neste ano, de um lagar, que serve para o processamento na produção das oliveiras. “As frutas são sensíveis e, quanto mais rápido forem processadas, melhor. Então, devemos ter esse incremento”, antecipa.
O citado lagar será implantado pela Associação dos Fruticultores de Encruzilhada do Sul (Afrutes). O presidente, Paulo Roberto Minuzzi, o “Beto Minuzzi”, comemora o fato de que será o primeiro de uso cooperativo do Brasil. O município também tem a maior área de plantação de oliveiras do País, superando os mil hectares.
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Sobre as uvas, Minuzzi confirma a preocupação do secretário com o não enchimento das bagas. “Um caminhão carregava 13 mil quilos em 2021. Agora, o peso chega a 10 mil quilos”, detalha, apontando para a diminuição da fruta. Somando essa perda com a gerada pelo granizo, a entidade acredita que deva chegar a 30%, entre os 14 associados que produzem uvas. A Afrutes tem 56 sócios, em núcleos, como maçã, frutas vermelhas e noz, além da uva.
O clima da região, de acordo com Minuzzi, é favorável à produtividade. Além disso, a terra tem um custo mais reduzido em comparação com a Serra Gaúcha, o que atrairia investidores. “Alguns proprietários beneficiam a uva e fazem vinho colonial, outros vendem para grandes empresas”, conta.
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A colheita inicial, segundo Beto Minuzzi, é com uvas brancas. As tintas ficam para depois, para agregarem mais açúcar e consequente doçura. O forte calor e a radiação solar causaram estresse hídrico nas plantas e a maturação acelerada. “O clima seco ajuda na qualidade, mas houve um calor intenso, que pode ter incomodado”, afirma.
Em Ibarama, a extensionista rural Lilian Rodrigues, da Emater/RS-Ascar, percebeu a mesma característica: baixo enchimento das bagas. O município tem 20 hectares em parreirais. “Alguns pomares estão repetindo os resultados dos anos anteriores, mas as chuvas irregulares fizeram com que parte ficasse prejudicada, em especial na formação e enchimento das bagas”, relata.
Lilian antecipa o que pode virar uma preocupação do mercado. Ela não descarta que falte produto, o que pode ter reflexo no preço. Atualmente, o valor pago fica entre R$ 3,50 e R$ 5,00, dependendo da variedade da fruta.
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Em sua sétima colheita em Vale do Sol, a Videiras do Vale aponta uma situação pouco comum neste ano. O motivo, diferentemente de tudo o que está posto em relação à estiagem, é a ocorrência de precipitações no período da florada. “Nossas parreiras não sofreram pela falta de chuva, mas pela chuva na hora errada, no final de setembro, começo de outubro”, destaca o proprietário, Valdomiro Persch. Conta que nesse período as abelhas fazem a polinização, mas como houve precipitação, elas não conseguiram realizar esse processo.
A justificativa para sentir menor efeito da estiagem é a forma como o solo é tratado na propriedade. Há uma proposta de conservação da área, o que garante maior permanência da umidade. “Nos outros, o parreiral é totalmente limpo, por baixo. O nosso é um tapete, trabalhamos com uma cobertura verde sob as plantas, com várias ervas”, explica. Ressalta que esse mecanismo faz com que seja fixado o nitrogênio no solo, segurando a umidade na raiz das videiras.
A propriedade, mesmo com uma pequena queda, conseguirá colher 120 mil quilos, com qualidade superior. Na safra anterior, Persch recorda que houve sobra de produto, a ponto de ter que pegar o excedente e levar para outras regiões, onde transformaram 80 mil quilos em vinho de mesa. A empresa conta com cinco hectares em parreiral, mantendo o período de poda entre agosto e fevereiro.
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As variedades escuras, devido ao excesso de calor e à radiação solar, tiveram coloração antecipada, conforme relata o extensionista rural Rotiéri Guarienti, da Emater de Sobradinho. Nesse caso específico, pode haver prejuízos também à qualidade. “Ainda não estão doces como deveriam, e isso pode representar baixa graduação de açúcar no mosto”, explica.
Segundo ele, a chuva percebida nos últimos dias de janeiro não chegou a apresentar grande repercussão na parte dos 73 hectares de parreirais, contabilizados em Sobradinho, destinados às variedades de mesa. “As frutas viníferas, que são mais tardias, podem ter algum benefício devido à chuva”, afirma. A precipitação, no entanto, deve ser mais regular. Lilian Rodrigues diz que, em Ibarama, teve momento que choveu 50 milímetros em uma parte do município e a outra não viu água. Isso é comprometedor para o setor produtivo.
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