Nas mais diversas regiões do Rio Grande do Sul os pastos têm tido uma sensível redução da produção de massa verde e perdem qualidade nutricional a cada dia. A persistência do clima seco das últimas semanas agrava a situação das pastagens nativas e cultivadas para a grande maioria dos criadores gaúchos.
Além disso, a grande redução do volume de água estocada em açudes e outros reservatórios dificulta o uso dos sistemas de irrigação disponíveis em algumas propriedades. A continuidade da estiagem também começa a implicar em atraso na implantação de pastagens cultivadas anuais de inverno.
O último informativo conjuntural da Emater/RS-Ascar destaca que esse retardo gera uma expectativa negativa de aumento da duração do vazio forrageiro outonal deste ano. “Isso pelo fato de que a tendência projetada é que haja um encurtamento antecipado da disponibilidade de pastejo das forrageiras de verão, combinado com o atraso na implantação e no desenvolvimento das pastagens de inverno”, informou o texto.
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O zootecnista Miguel Kops, empresário da Meat Agropecuária, acredita que a estiagem na região ainda não atingiu seu ponto crítico, mas que de fato já afeta a qualidade dos pastos.
Tanto que a sistemática de fornecimento de carnes aos supermercados mudou: antes da estiagem os compradores eram abastecidos com gado de pastagem. “Hoje usamos a pastagem apenas para manutenção do rebanho, não para engorda plena.”
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Nas cinco fazendas da marca, a aposta atualmente é pelo confinamento, com suplementação alimentar à base de ração, grãos e silagem. A mesma estratégia, conforme Kops, é adotada por outros pecuaristas. Apesar da preocupação em torno da situação dos pastos, o empresário reforça que o maior anseio é em torno da falta de água.
Com pequenos açudes em níveis críticos, muitos produtores precisam remanejar o gado de um lugar para o outro onde há maior disponibilidade hídrica. A preocupação dos bovinocultores aumenta à medida que diminui a disponibilidade de água para os animais. “Está todo mundo otimista esperando pela chuva”, reiterou.
Diante das previsões meteorológicas, a expectativa é de que os índices pluviométricos recuperem a normalidade a partir do mês de abril – isso garantiria o reabastecimento dos reservatórios e ainda haveria tempo de recuperação das pastagens para o inverno.
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Extensão rural também se mobiliza para o coronavírus
A Emater/RS-Ascar divulgou nessa quarta-feira, 25, a entidades e agricultores contatos para atendimento em trabalho remoto. “A pandemia da Covid-19 (novo Coronavírus) é muito séria e exige prudência, medidas preventivas e enfrentamento conjunto. Diante disso, a Emater/RS-Ascar orienta aos agricultores que fiquem em casa neste momento, evitando saídas que não forem de extrema necessidade e que, no caso de saírem, cada um tome todas as medidas necessárias possíveis para evitar o contágio e a propagação do vírus”, destaca o informativo. O presidente da entidade, Geraldo Sandri, justificou que a determinação é para que todos os escritórios realizem seus atendimentos por trabalho remoto.
Toda e qualquer dúvida ou contato deve ser feito por ligação telefônica, WhatsApp ou e-mail. “Lembrando que essas medidas são para todos nos protegermos, uns aos outros, e aos agricultores assessorados e suas famílias. Temos um papel muito importante e fundamental, inclusive para não atingir os grupos de risco e não sobrecarregar os serviços de saúde (postos de saúde e hospitais). Não é momento de pânico, mas de prudência e enfrentamento. Mudanças de atitude são importantes para passarmos por isso o mais breve possível e com menos consequências”, avaliou Sandri. Os contatos dos escritórios municipais podem ser encontrados no site da Emater/RS-Ascar.
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Sobre as produções
Bovinocultura de corte – as condições físicas apresentadas pelo gado bovino de corte são diferenciadas nas diversas regiões do Estado. A situação predominante é de perda de escore corporal. Em áreas onde ocorreram apenas algumas chuvas nas últimas semanas, o ganho de peso é pequeno ou está paralisado. Já nas áreas mais castigadas pelo clima seco, ocorre perda de peso mais acentuada. Com o prolongamento da estiagem, a preocupação dos criadores é com a disponibilidade de água para os animais
Bovinocultura de leite – durante os últimos dias, na maior parte do Estado, reduziu o escore corporal dos bovinos de leite, exigindo mais suplementação alimentar para a manutenção do rebanho e para diminuir as perdas na produção. Na região do escritório regional da Emater/RS-Ascar de Soledade, a queda na produção leiteira chega a 35%. A estiagem ainda tem prejudicado severamente a produção de silagem, o que projeta um aumento dos custos de suplementação alimentar durante o vazio forrageiro outonal.
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Fonte: Emater/RS-Ascar
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Preocupação na ovinocultura
Na avaliação do ovinocultor Ênio Müller, da Cabanha Amoras, a situação da estiagem no campo é a pior possível. “Se continuar assim por mais alguns dias, não teremos comida nem para manter a existência dos animais”, lamentou. Em sua propriedade em Cerro Alegre Alto, no interior de Santa Cruz do Sul, a pastagem está muito comprometida e o receio aumenta com o cenário que se desenha daqui para diante. “Não se tem mais pasto e não se consegue implantar novas pastagens para os meses de inverno”, explicou.
Além disso, lembrou que há falta de silagem para compra na região, também em função nas perdas nas lavouras de milho. “Produtores que produziam silagem para vender o excedente, hoje não têm mais nem para si.” A preocupação é de que a restrição alimentar interfira até mesmo nas próximas gerações, uma vez que um animal mal alimentado tem poucas condições de criar adequadamente seus filhotes. “Acho que a situação será muito séria em todo o Estado. Hoje não temos nem 20% das pastagens que deveríamos ter.”
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