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Estiagem afeta preço e qualidade de hortaliças

A falta de chuvas e o forte calor causam perdas na produção e escassez de algumas hortaliças e vegetais folhosos para venda. Em Santa Cruz do Sul, tanto os produtores das feiras rurais quanto da orgânica afirmam que a quebra na produção já é de em torno de 30%. A previsão é que, consequentemente, o preço dos produtos também aumente.

Segundo o secretário da Associação Santa-cruzense de Feirantes (Assafe), Danilo Hentschke, a tendência é de que a perda na produção de hortaliças aumente ainda mais se a estiagem persistir. “Se o clima seco continuar, em 14 dias nós teremos mais 20% de perdas. E, provavelmente, teremos aumento do preço de alguns produtos e escassez de outros.”

Uma das culturas mais prejudicadas é a cenoura. “O cultivo necessita de muita água, e muitos agricultores estão descartando o plantio. Para se desenvolver, a planta demora 120 dias”, explica Hentschke. O feijão tardio também está se perdendo na lavoura. “Na minha propriedade, em Linha João Alves, a água do açude que utilizo para irrigar a produção vai durar somente mais uma semana. Vários produtores estão na mesma situação, e a produção vai diminuir em boa parte. Muitos serão obrigados a parar de plantar até que chova.”

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Na propriedade de Astor José Hermes, em Linha João Alves, o problema é semelhante. Dos nove hectares, três são destinadas para o cultivo de hortaliças. Os três açudes utilizados para irrigar a plantação e saciar a sede dos animais estão quase secos. “Tenho água para irrigar as hortaliças por mais duas semanas, depois disso não sei o que vou fazer.”

Além da escassez de água, Hermes afirma que o calor e a falta de umidade afetam diretamente o desenvolvimento das plantas. “As pragas que atacam no período de estiagem estão destruindo as plantas, elas perfuram o caule e aos poucos os pés morrem.” As perdas na sua propriedade já chegam a 30%. Ele cita o repolho, a couve-flor e o brócolis como algumas das hortaliças mais prejudicadas.

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Tomate, brócolis e agrião em falta
O produtor Astor José Hermes também é representante da Feira Rural do Senai e disse que a qualidade de alguns produtos à venda vai ficar comprometida. “A terra está muito seca e a mandioca pode não cozinhar mais. Ela precisa de água para se desenvolver. Até para colher está difícil.”

A representante da Feira Orgânica do Santo Inácio, Ane Lore Schweickart, também destacou problemas com insetos que causam danos diretos e indiretos às culturas. “Perdemos muitas mudas. Por não usarmos agrotóxicos, somente produtos biológicos, a perda é ainda maior.” Entre os produtos que começam a faltar, ela cita o brócolis, o agrião e o tomate. “Estamos conseguindo manter ainda a rúcula, o tempero verde, a beterraba e mais algumas. Mas a qualidade caiu bastante”, afirmou.

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O abastecimento na propriedade de Ane é por fonte natural. O açude que antes irrigava a plantação está seco, mas a água é captada de uma vertente. “Precisamos ir buscar a água da fonte. É bastante trabalhoso, mas pelo menos ainda temos água.”

Ane Schweickart observa que a produção orgânica é ainda mais afetada pela seca

“Precisamos tirar uma lição disso”, diz engenheiro agrônomo
A estiagem que atinge a região é uma das maiores registradas nas últimas décadas. O engenheiro agrônomo Jair Staub avalia que desde 1985 o município não enfrentava períodos tão longos de seca. “Já houve estiagens, mas igual a essa nunca. O solo está muito quente, a evaporação e a perda de água são muito grandes”, afirma.

Staub defende que os produtores devem dar mais atenção à preservação dos recursos naturais. “As pessoas devem usar a situação como uma lição. A natureza nos mostra que precisamos ter uma relação diferente com questões ambientais, preservação das matas e do solo. Os agricultores têm que repensar uma nova forma de fazer agricultura, não podemos nos preocupar somente em buscar tecnologia e não fazer água dentro da propriedade, temos que produzir água”, ressaltou.

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O engenheiro agrônomo ressalta que as mudanças climáticas estão acontecendo frequentemente e todos devem se conscientizar. “De nada adianta termos máquinas colheitadeiras que trabalham praticamente sozinhas, tecnologia de aplicação de insumos e outros tantos, se não pensarmos na questão de cultura. Muitos querem apenas produzir e produzir, sem importarem-se com o custo para o meio ambiente.”

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