Os índices da criminalidade no Rio Grande do Sul em 2018, divulgados pela Secretaria de Segurança Pública na última quarta-feira, ignoraram cinco mortes violentas ocorridas em Santa Cruz do Sul no ano passado. Os dados oficiais contabilizam apenas 22 casos de homicídio e 23 vítimas desse crime no município. No entanto, um dossiê publicado pela Gazeta do Sul no fim de semana passado, feito a partir de informações fornecidas pela própria Polícia Civil local, mostrou que 30 assassinatos aconteceram nesse período.
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Se for considerado que os feminicídios não estariam incluídos na divulgação da SSP, pois aparecem em outra estatística da pasta, o órgão tem computadas 25 mortes violentas em Santa Cruz no ano passado. Em 2017, a secretaria também contabilizou menos homicídios no município do que os que realmente ocorreram. Uma reportagem da Gazeta do Sul publicada em 21 de janeiro do ano passado informava que 32 casos haviam sido registrados naquele ano. A estatística da SPP mostrava 29 crimes e 30 vítimas.
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No mesmo dia em que divulgou a tabela com os índices de homicídios e outros 15 tipos de crimes, o que é feito tradicionalmente a cada trimestre desde 2012, a SSP publicou uma notícia destacando que os crimes contra a vida haviam diminuído mais de 20% no Estado no ano passado. A matéria informava que houve uma queda de 21,8% nos casos de homicídio e 29,9% anos de latrocínio, o que confirmaria uma tendência de reducão no Rio Grande do Sul no balanço de 2018, em comparação com o ano anterior.
Procurada pela reportagem durante essa semana, a SSP informou, por meio da assessoria de imprensa, que “não chancela e não comenta dados oferecidos por outros órgãos ou instituições vinculadas”. Tanto os índices da criminalidade quanto a notícia citada estão disponíveis para acesso público no site da secretaria, em www.ssp.rs.gov.br.
Para o especialista em segurança pública pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Marcos Rolim, a falha na publicação da SSP expõe um problema ainda mais complexo. “O Brasil, mas principalmente o Rio Grande do Sul, se ressente de dados confiáveis na área da segurança pública. O que acontece é que nós não conseguimos criar, até hoje, um sistema transparente e passível de verificação. Hoje, se o secretário de segurança do Estado quiser saber quantos homicídios houve no dia, ele não tem recurso pra isso”, afirmou.
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Segundo Rolim, outros estados brasileiros já contam com softwares avançados, que contabilizam os crimes à medida que vão sendo registrados e podem ser acessados em tempo real. “Quando o governo divulga esses dados, eu não sei quais são os homicídios que eles estão contando. É essencial ter um sistema eficiente e atualizado que diminua as chances de erro e até de manipulações dolosas”, comentou.
Além de garantir transparência sobre o que acontece no âmbito da segurança pública, um sistema robusto de estatísticas otimizaria o trabalho da polícia. “Os crimes ocorrem com muita incidência em poucos lugares. Às vezes é em uma esquina, uma quadra, e para saber onde está o problema e poder reforçar a força policial, é preciso ter registros precisos e um sistema que organize isso de forma clara e acessível.” A longo prazo, observa, estatísticas precisas também poderiam contribuir para planejamentos estratégicos mais eficientes. “As tendências criminais são de difícil percepção, mas uma base de dados segura, de longos períodos, poderia esclarecê-las.”
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Janeiro – 1
Fevereiro – 1
Março – 1
Abril – 1
Maio – 0
Junho – 3
Julho – 2
Agosto – 4
Setembro – 3 casos e 4 vítimas
Outubro – 2
Novembro – 3
Dezembro – 1
Janeiro – 1
Dia 30: Elias Rodrigues da Cruz, 35 anos. Morto a tiros no Bairro Santa Vitória.
Fevereiro – 1
Dia 16: Rangel Eduardo Nunes, 21 anos. Encontrado com perfurações na cabeça no Bairro Monte Verde.
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Março – 1
Dia 16: Rangel de Freitas da Rosa, 17 anos. Estaria brincando de roleta-russa quando morreu com um tiro na cabeça. Mais tarde, a polícia descobriu que ele foi assassinado por outro adolescente.
Abril – 2
Dia 1: Thiago Henrique Henn, 20 anos. Foi atingido por um disparo na entrada do Parque de Eventos.
Dia 5: Théo Menezes, 19 anos. Executado com um tiro na cabeça e outro nas costas, no Bairro Faxinal Menino Deus.
Maio – 0
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Junho – 2
Dia 10: Tharles Rutiel da Rosa Alves, 24 anos. Baleado no Residencial Viver Bem.
Dia 20: André Lucas Rodrigues de Carvalho, 20 anos. Morto por disparos de arma de fogo no Bairro Margarida.
Julho – 3
Dia 7: Everton Rodrigues Brito, 17 anos. Encontrado morto com marcas de tiros em um matagal no Bairro Progresso.
Dia 12: Sérgio Jovane da Silva Soares, 19 anos. Localizado morto BR-471, foi assassinado a tiros.
Dia 28: Jéssica Aline Junkherr Pinheiro, 27 anos. Foi assassinada a tiros pelo ex-companheiro no Cemitério Parque Guarda de Deus, no Bairro Santuário. O caso foi investigado como feminicídio.
Agosto – 5
Dia 12: Francine Rocha Ribeiro, 24 anos. Assassinada nas proximidades do Lago Dourado. O caso foi investigado como feminicídio.
Dia 13: Valdemar de Camargo, 37 anos. Baleado no Bairro Santa Vitória.
Dia 27: Denian Marcel de Oliveira, de 19 anos. Foi morto a tiros no Bairro Várzea.
Dia 31: Paulo César Lopes, de 29 anos. Assassinado com tiros no rosto e no tórax no Bairro Bom Jesus. Sobre o corpo havia um bilhete com a frase “roubou na comunidade acabou o carinho”.
Hilario da Rosa, de 33 anos. Executado com três tiros no Bairro Santa Vitória.
Setembro – 4
Dia 7: Marcelo de Paula, 28 anos, e Paulo Fernando Kochenborger, 37 anos. Morreram em um tiroteio próximo ao Parque de Eventos.
Dia 10: Thiago Maciel de Borba, de 32 anos. Alvejado em via pública no Bairro Dona Carlota.
Gerson da Rosa, 40 anos. Assassinado a tiros no Bairro Schulz.
Outubro – 7
Dia 6: Luciano Kappel, 57 anos. Taxista, foi vítima de um latrocínio na RSC-287, no trevo do Gaúcho Diesel.
Dia 10: Cleber Tevair Correa, de 14 anos. Morto acidentalmente por um amigo que manuseava uma arma de fogo.
Fabiano Rosa, 30 anos. Assassinado com pelo menos seis tiros no Bairro Castelo Branco.
Dia 18: Ismael Silva, 30 anos. Morto a tiros no Bairro Progresso.
Dia 19: Eduardo Fernando Klinger, 43 anos. Foi atingido por diversos disparos na cabeça dentro do mercado do qual era proprietário, no Bairro Santo Antônio.
Dia 21: Eduardo Carvalho de Oliveira, 29 anos. Baleado no Bairro Bom Jesus. Morreu no hospital dois dias depois.
Dia 28: Odair José Vargas, de 42 anos. Encontrado morto em um açude no interior de Rio Pardinho. Tratado inicialmente como afogamento, o caso é investigado como homicídio.
Novembro – 2
Dia 22: Leonardo Alves Maciel, 28 anos. Alvejado no Bairro Dona Carlota.
Charles Roberto Farias da Silva, 20 anos. Assassinado com diversos tiros no Bairro Bom Jesus.
Dezembro – 2
Dia 5: André Leopoldo Staub, 35 anos. Levou uma facada e foi encontrado sem vida na Rua da Pedreira, um dia depois.
Dia 8: Leonardo Cassiano Lopes da Silva, 23 anos. Morreu baleado em um bar no Bairro Belvedere.
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