“Estar vivo é o que importa agora.” Com essa declaração, a equipe da Gazeta do Sul foi recebida pela aposentada Délcia Schünke, 78 anos, em Linha do Rio, interior de Candelária. Ela teve a casa inundada pela cheia do Rio Pardo na terça-feira, 30. Na tarde de sexta, 3, estava conferindo os estragos e procurando uma maneira de recomeçar.
A aposentada relatou os momentos de apreensão que viveu com a subida do nível das águas. “Eu vi que a água estava chegando, mas ela parou e recuou. Logo depois, se elevou muito rápido e invadiu a minha casa.” Ela e os dois irmãos ficaram isolados e submersos até a cintura.
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“Meu filho veio nos buscar e conseguimos nos abrigar na região de Linha Alta, onde a água não chegou”, ressaltou. Nessa sexta-feira, vendo a casa tomada pela lama e os móveis estragados, ela se emocionou. “A gente chora com essa situação, pois perdemos tudo. Não temos água limpa para lavar e nem energia elétrica.” Délcia também presenciou as cheias de 1959 e de 2010. “Temos que seguir em frente como a gente sempre fez.”
Linha do Rio costeia o Rio Pardo. Com isso, a força da água também destruiu a principal via de acesso, a VRS-858. Quem mora perto da rodovia é Renê José Türk, 65 anos. No pátio de sua propriedade, as flores e as plantações da horta deram lugar à areia do rio e partes do asfalto. “Eu, a minha esposa e a filha ficamos dentro de casa vendo a água passar. Por sorte não entrou, mas foi algo que eu jamais imaginava que pudesse acontecer nessa proporção.”
O agricultor tinha uma plantação de verduras e criação de galinhas. “Não tem mais as mandiocas, e as batatas que estavam bonitas se foram com a água. Os animais se salvaram no galpão.” Dentro dele, também abrigou o seu carro e o de uma vizinha. “Consegui erguer o meu na parte da frente para não atingir o motor. O dela não deu tempo e ficou cheio de areia.”
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O acesso à localidade está bem precário, com muitos buracos. Partes do asfalto não existem mais e o lugar ainda está sem água potável e sem energia elétrica em razão da queda de postes. Já o cenário das lavouras é devastador. Em algumas, há carros que foram levados pela correnteza e partes de casas e árvores caídas.
A queda da cabeceira da ponte sobre o Rio Pardo, na RSC-287, em Candelária, bloqueou o acesso entre a cidade e Linha do Rio. No mesmo trecho, entre os quilômetros 135 e 138, a via está com diversos pontos que cederam, sendo um risco para quem passa por ali. A Concessionária Rota de Santa Maria, que administra a rodovia, interditou o local.
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Sem comunicação, energia elétrica e comida, os moradores improvisaram nessa sexta-feira uma ponte em madeira para que as pessoas de Linha do Rio acessassem a cidade e abrigos. Para chegar ao local, eles caminham quase 2 quilômetros até o ponto, pela via bloqueada. No entanto, não há monitoramento seguro dessa situação e os cidadãos colocam as vidas em risco.
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A Gazeta do Sul flagrou diversas cenas de famílias passando com bebês recém-nascidos e pessoas levando alimentos, gasolina, bicicletas e outros. Apesar de ser dramático, é o único meio de saber se as pessoas estão bem. “Eu não sabia a situação real da minha mãe, que mora em Linha do Rio. Precisava ir lá ver e levar mantimentos. Os vizinhos dela apenas disseram que estava bem”, disse Tatiele Hoppe, de 30 anos.
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Tatiele foi acompanhada do esposo Dirlei Nery, 36. Eles estão morando em Novo Cabrais. “Essa ponte é algo improvisado e também perigoso, mas é o único meio de ajudar e levar comida e água para ela. Nesse momento, a família fala mais alto”, disse Tatiele, em meio às lágrimas.
A Prefeitura de Candelária decretou na sexta estado de calamidade pública. A exemplo de outras cidades, como Sinimbu e Santa Cruz, e do Estado, a medida foi tomada em vista do desastre natural provocado pela enchente, nas áreas rural e urbana.
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Até essa sexta, 163 pessoas haviam sido resgatadas com helicópteros e embarcações. Segundo a Defesa Civil, 88 estariam aguardando resgate nas localidades de Linha do Rio, Costa do Rio, Quilombo, Rebentona, Arroio Bonito, Palmital, Botucaraizinho e Alto Passa Sete. No município, mais de 800 famílias estão fora de casa e cerca de cem pessoas se encontram abrigadas no pavilhão do Colégio Medianeira.
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