O Rio Grande do Sul completou dez meses consecutivos de queda no número de homicídios. O total de vítimas caiu de 140 em agosto de 2020 para 108 no mesmo mês deste ano, uma redução de 22,9% e o menor total alcançado no período da atual gestão. Na série histórica, só houve somas menores para o período de um mês nos anos de 2005 e 2006, o que coloca o total atual de homicídios como o mais baixo em 15 anos. Em relação ao pior agosto já vivido no Estado, em 2015, quando 240 gaúchos foram assassinados, a queda chega a 55%.
A sequência de reduções também fez despencar o número de homicídios no acumulado entre janeiro e agosto. A comparação de oito meses do ano passado e de 2021 mostra queda de 1.266 vítimas para 1.043 – uma retração de 17,6%, com 223 vidas preservadas. A soma deste ano é também a menor para o período desde 2006 e equivale a 48,6% de queda na comparação com o pico da série histórica, em 2017, quando o Estado teve 2.029 assassinatos no intervalo de oito meses.
Os dados, que fazem parte dos indicadores criminais divulgados nesta sexta-feira, 10, pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), revelam o impacto direto da política de foco territorial implantada pelo RS Seguro, com esforço especial para o combate ao crime nos 23 municípios que concentravam os maiores indicadores criminais na última década. Entre as dez maiores quedas de homicídios no acumulado do ano, sete ocorreram em cidades que fazem parte desse grupo.
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O destaque é Alvorada, na Região Metropolitana da Capital, que chegou a figurar com a sexta cidade mais violenta do Brasil no Atlas da Violência produzido pelo Fórum Brasileiro da Segurança Pública com dados de 2017. Naquele ano, entre janeiro e agosto, Alvorada já havia registrado 135 assassinatos. Hoje, o município lidera o ranking de redução de assassinatos – foram 52 óbitos no período, 35 a menos que no mesmo intervalo em 2020.
Latrocínios têm queda de 20%
Outro crime contra a vida que teve queda no Estado em agosto foi o latrocínio. Com quatro casos, um a menos que no ano passado (-20%), os roubos com morte repetiram o menor total da série histórica para o mês, registrado exatamente no primeiro ano de contabilização, em 2002. Frente ao pico, de 15 latrocínios em agosto dos anos de 2013 e 2015, a marca de 2021 é 73,3% menor.
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No acumulado desde janeiro, o RS soma 42 roubos com morte, 12,5% menos que os 48 registrados no ano passado. É a segunda menor marca da série histórica, só fica acima do resultado de 2009, quando houve 38 casos.
O latrocínio é um crime cuja ocorrência depende de uma série de fatores circunstanciais – possível reação da vítima, ação surpreendida por testemunhas, consciência do assaltante alterada por uso de entorpecentes e até mesmo eventual nervosismo do criminoso, entre outros. Na avaliação de autoridades das forças de segurança, a tendência de redução verificada ao longo dos últimos dois anos passa pela investigação qualificada da Polícia Civil, que resulta em mais de 90% de índice de resolução desse tipo de delito, e pela intensificação do patrulhamento ostensivo da Brigada Militar, com forte impacto na redução dos principais crimes patrimoniais, fatos geradores de roubos com morte.
Feminicídios têm alta de 225%
O crime que insiste em seguir na direção contrária da tendência verificada em praticamente todos os demais indicadores também evidencia a resistência da sociedade gaúcha em promover uma mudança de cultura voltada ao respeito às mulheres e à igualdade. Em agosto, os feminicídios apresentaram nova alta, passando de quatro casos em 2020 para 13 vítimas neste ano (225%). O dado também impacta no acumulado desde janeiro, que subiu de 57 para 72 assassinatos por motivo de gênero (26%).
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Mais uma vez, a estatística também reforça a urgência de ampliar a conscientização de toda a população quanto ao papel fundamental das denúncias, que podem fazer a diferença para salvar vidas. Entre as 13 vítimas de feminicídio em agosto, apenas duas tinha registro de ocorrência anterior contra o agressor. E em nove dos 13 casos o criminoso tinha vínculo amoroso ou familiar com a mulher assassinada.
Números que escancaram a importância de parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho e de escola, ou até mesmo desconhecidos realizarem a denúncia ao primeiro sinal de violência. Quanto mais cedo for levado às autoridades o conhecimento sobre possíveis abusos, maiores são as chances de auxiliar as mulheres vítimas a romperem com o ciclo de violência antes que ele termine em um feminicídio.
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Além do Disque Denúncia 181 e do Denúncia Digital 181, no site da SSP, o WhatsApp da Polícia Civil (51 – 98444-0606) recebe mensagens 24 horas, sem a necessidade de se identificar, e a Delegacia Online, que teve suas possibilidades de registro aumentadas para receber os relatos de violência doméstica, também permite fazer o boletim de ocorrência, com a mesma validade do documento emitido presencialmente, a qualquer horário e por qualquer dispositivo com internet.
Para quem não tem acesso, pode procurar qualquer Delegacia de Polícia, além das 23 Deams hoje existentes no Estado, bem como o auxílio das Patrulhas Maria da Penha. Para socorro urgente em emergências, o número é o 190.
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CVLIs seguem no menor patamar da série histórica
O conjunto tecnicamente conhecido como crimes violentos letais intencionais (CVLI) – soma de homicídios, latrocínios e feminicídios – se manteve em agosto no menor patamar desde que o Estado passou a ter a contabilização individual desses três delitos, em 2012.
No saldo entre as quedas expressivas de assassinatos e roubos com mortes e a alta dos feminicídios, os CVLIs encerraram o mês com 125 vítimas, o menor total já registrado para o período, equivalente também à redução de 16,1% frente aos 149 óbitos de agosto do ano passado. No acumulado de oito meses, a queda foi 15,6%, passando de 1.371 vítimas em 2020 para 1.157 em 2021, também a menor soma verificada desde o início da série de contagem.