Pela lei estadual nº 11.361, de 1999, nesta quarta-feira, 15, comemora-se o Dia Estadual da Juventude Rural. E se em tempos de pandemia, com a restrição a eventos, a confraternização dos jovens que nasceram ou atuam no interior fica dificultada, sob nenhum aspecto a relevância desse público e seu papel fundamental para o bem-estar da sociedade ficam ofuscados. Tendo em vista que a comunicação social é eminentemente urbana, por vezes o cotidiano dos jovens rurais não é tão salientado, e o dia de hoje constitui ocasião especial para reafirmar essa força.
A fim de evidenciar a importância das novas gerações para a socioeconomia de uma comunidade, nenhum exemplo talvez fosse mais pertinente do que o de Arroio do Tigre, município de 13,5 mil habitantes da região Centro-Serra. Não apenas pela organização diferenciada que grupos de jovens rurais demonstram, e isso há praticamente quatro décadas. A Olimpíada Rural, promovida pela entidade que congrega os grupos, em parceria com a Emater e com a Prefeitura, por exemplo, completaria nada menos do que 38 anos em 2020. Teria completado em maio, não fosse, mais uma vez, a pandemia. Com todas as atividades que envolvam aglomeração de público suspensas, também o evento teve de ser cancelado.
Mas isso em nada ofusca o movimento dos jovens rurais no município, e que posiciona Arroio do Tigre como exemplo estadual, ou mesmo sul-brasileiro, como se considera. Quem acompanha de perto as atividades locais é o técnico em agropecuária Roberto Puntel Plasido, 29 anos, também chefe do Escritório Municipal da Emater. Ao seu lado, toda a equipe da Emater envolve-se no atendimento aos grupos de jovens.
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Na verdade, Roberto testemunha as ações de juventude rural de dentro. Seus pais, Hilton Ribeiro Plasido e Lizete Puntel Plasido, fixaram-se em Vila Progresso, a cerca de 10 quilômetros da cidade. Ali, o casal passou a integrar a Juventude União Católica, a Juca, de Vila Progresso, um dos 17 grupos hoje existentes no meio rural, e que formam a Associação da Juventude Rural de Arroio do Tigre (Ajurati), na ativa desde 1992 e registrada quatro anos depois.
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Roberto acompanha as Olimpíadas desde menino. “O pessoal até comenta que, quando eu era bebê, permanecia no colo de parentes, na arquibancada, enquanto o pai e a mãe jogavam”, brinca. Seu irmão Vitor, que hoje atua em mecatrônica em Panambi, igualmente se envolveu na juventude rural. De certo modo, essas vivências motivaram Roberto a ingressar no curso de técnico agrícola, em paralelo ao Ensino Médio, em Sertão, para então voltar a sua terra e, por fim, integrar-se à equipe da Emater local.
Como tal, hoje auxilia a sua própria geração e as mais novas com orientações sobre piscicultura, fruticultura, solos e outras áreas. Outros colegas, como a extensionista Daniele Centa e os técnicos em agropecuária Ismael Enrique Begrow e Márcio Alvez, também assessoram os grupos. Ao todo, menciona Roberto, entre 2,5 mil e 2,6 mil jovens rurais estão cadastrados junto à Ajurati, vinculados aos diversos grupos, e já fazendo parte de diferentes gerações.
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Um modelo para outras regiões do Estado e do País
Tanto a Olimpíada Rural quanto cursos, palestras ou atividades de aperfeiçoamento e de congraçamento em nível de Ajurati atraem a atenção de outros municípios e de outras regiões do Estado. Nesse sentido, as lideranças da associação e a equipe da Emater são consultadas, para compartilhar experiências.
Nessas ocasiões, a exemplo do que ocorre com Camila Rode, presidente da Ajurati, que nasceu na cidade e se fixou no interior, o chefe do escritório da Emater, Roberto Plasido, testemunha sobre a sua dupla condição de jovem rural e de quem, hoje, como técnico em agropecuária, assessora seus amigos jovens rurais.
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Plasido recorda que a própria Olimpíada transcende, e muito, o contexto rural, ao mobilizar toda a cidade, com 12 a 15 mil pessoas acompanhando os quatro dias de evento, entre quarta-feira e sábado, quando ocorre o baile de escolha das soberanas da Ajurati. Em 2019, aliás, o concurso ganhou uma nova roupagem: para as 16 candidatas, uma das tarefas era desenvolver alguma ação social em suas comunidades.
Assim, por exemplo, Gabriela Muniz, da Juventude Verdade e Paz, de Sítio Novo, que acabou sendo eleita rainha, organizou uma geladeira literária, difundindo a leitura; e uma das princesas, Ana Cláudia Neske, da Juventude Florestal, de Linha Floresta, organizou uma paraolimpíada com alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). A outra princesa é Poliana Foletto, da Juventude Independência, de Taboãozinho.
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E para evidenciar que o destino amarra tudo, num fortalecimento dos dons e da vocação para seguir na agricultura, realizar-se e ser feliz, Roberto Plasido e a princesa Ana Cláudia são namorados. É com o sentimento de união, de amizade (e, não raro, de amor) que, como frisava a banda 14 Bis, na canção Linda Juventude, de 1982, nossa linda juventude rural segue alimentando sonhos – e promovendo o progresso.
Pais, filhos e netos mobilizados
As ações dos jovens rurais em Arroio do Tigre vão muito além dos limites de algumas décadas. A geração que iniciou a associação da juventude rural e a própria Olimpíada Rural, no coomeço dos anos 90, está com 60 anos ou mais. E os filhos deles, pais dos atuais jovens, já se encontram na meia-idade, mas participam ativamente nos jogos, de forma que adolescentes convivem e interagem com os mais velhos, numa salutar troca. “Por vezes, pais, filhos e netos participam de atividades juntos, até mesmo nas modalidades esportivas da Olimpíada”, diz Roberto Puntel Plasido, da Emater.
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Isso colabora para que a própria sucessão rural ou a valorização do trabalho nas pequenas propriedades ocorram de forma mais natural, avalia a atual presidente da Ajurati, Camila Rode, 29 anos, vinculada à Juventude Unida, de Linha Paleta, a 14 quilômetros da cidade. Camila cresceu em realidade urbana, em Sobradinho, mas acabou tendo contato com o meio rural a partir de seu namoro com Marcos Vinicius Toebe, 30, seu marido, com quem tem o pequeno Bernardo, de 5 anos (hoje residem em Linha Tigre, a 4 km da cidade).
Quando se fixaram na propriedade da sua sogra, Marlise, em área de 15 hectares, para cultivar tabaco e produzir alimentos, na companhia de Everton e Emanuel, irmãos de Marcos, foi que Camila sentiu despertada sua vocação para a liderança. E passou a ser uma espécie de porta-voz dos anseios dos jovens na Ajurati. Ela não reluta em dizer que a juventude requer mais políticas públicas federais e estaduais de atenção e de apoio, e igualmente de maior compreensão dos pais, nas famílias, para que a sucessão rural ocorra com mais facilidade, sem tanta resistência entre a geração dos mais velhos e a dos mais jovens. Do contrário, avalia, o êxodo tende a ser crescente. Mas cita que a organização da juventude rural no município, com a troca de experiências e o sentimento de unidade dos cerca de 2,5 mil jovens, favorece muito a que o cenário em Arroio do Tigre seja bem melhor do que em outras localidades.
Seminário online nesta quarta
Ainda que a pandemia motive o distanciamento social e iniba eventos presenciais com público maior, o Dia Estadual da Juventude Rural, comemorado hoje, será marcado por uma ação de congraçamento. A Emater/RS-Ascar, em parceria com a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), promove entre 14 e 16 horas o 3o Seminário Regional de Juventude Rural, neste ano excepcionalmente em edição virtual.
A transmissão será por meio das redes sociais da instituição, e as inscrições podem ser feitas pelo link https://cutt.ly/loMroXL. O evento é gratuito e aberto a todos os públicos. Será exibido vídeo com depoimentos de jovens da região de Passo Fundo, já inseridos no processo produtivo, a fim de mostrar como as novas gerações vivem e trabalham no campo. O presidente da Emater/RS, Geraldo Sandri, e o secretário da Seapdr, Covatti Filho, também se pronunciarão.
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