Em pouco mais de um mês, um taxista de 39 anos se viu duas vezes na mira de assaltantes, no Centro de Santa Cruz do Sul. Natural de Porto Alegre, ele se mudou para a região em busca de tranquilidade. Mas, nos quatro anos em que trabalha com táxi no município, já foi alvo de ladrões três vezes. Na madrugada desta segunda-feira, chegou a ser agredido com uma coronhada na cabeça. “A nossa rotina é trabalhar com medo”, desabafa.
O motorista, que prefere não ser identificado, tomava chimarrão na Rua do Moinho quando dois criminosos invadiram o ponto de táxi no início da madrugada. No mesmo local, ele já tinha sido assaltado em fevereiro, por um jovem armado. “Assalto! Perdeu! Perdeu!”, gritaram os ladrões. Um deles portava uma pistola e outro um revólver, aparentemente de calibre 22. Na ação rápida, os dois roubaram um notebook e um celular, além de uma quantia em dinheiro. “Eles eram mais violentos”, conta o taxista, que foi atingido na cabeça por uma coronhada. “Eles bateram pra me intimidar, pra não reagir”, diz.
Com pressa, os assaltantes ainda pegaram a chave do carro e fugiram no veículo. “Desta vez, eu me assustei mesmo. Esta vez eu tive medo de morrer. Infelizmente, a vida humana não tem mais valor.” O carro foi abandonado logo depois pela dupla e recuperado. O restante dos pertences não foi encontrado. “Quantas corridas eu tenho que fazer pra ganhar R$ 100,00? Quantas vezes eu passei a noite arriscando a vida, em dia de semana, que tem pouco movimento, e ganhei 30,00 ou 40,00?”, lamenta a vítima.
Publicidade
O taxista conta que já adota cuidados para evitar ser vítima dos assaltos. Ele não aceita corridas em pontos que considera perigosos. “Se a gente pensar muito, não sai para trabalhar. A gente tem que lidar com o nosso medo.” Apesar disso, o motorista diz que gosta da profissão, mas se pudesse, escolher trabalharia somente durante o dia. “Tenho família para sustentar. Se pudesse, não trabalharia à noite. E ainda assim é perigoso”, pondera. Ele acredita que o aumento do uso de cartão como forma de pagamento poderá ser uma saída para inibir esse tipo de crime. “A gente está sempre visado, exposto, porque carrega dinheiro.”
Jovem também é assaltado
Minutos antes do ataque ao taxista, um jovem também foi assaltado no Centro de Santa Cruz. Uma dupla rendeu a vítima, de 20 anos, na Rua Ernesto Alves. Os dois criminosos estavam armados. Eles roubaram uma carteira e um celular. Os casos são investigados pela Polícia Civil. A suspeita é de que se tratem dos mesmos homens que atacaram o motorista.
Publicidade
“Se tornou rotina trabalhar com medo”
Apesar dos assaltos, o taxista admite que a vida no interior ainda é mais tranquila do que na Capital. “Vim para o interior porque é mais calmo. Claro que aqui eu posso tomar chimarrão na frente de casa e, em Porto Alegre, não tem mais como. Mas está complicado trabalhar. A polícia faz o que pode com o que tem. Falta gente. Falta material. E a gente continua com medo.”
Ele acredita que a própria categoria deveria ser mais unida para reivindicar medidas de segurança. “Se tornou rotina trabalhar com medo. Ninguém se importa. Só quando um de nós morre aí todos se reúnem.”
Publicidade
Precauções
O presidente da Associação Rádio Táxi em Santa Cruz do Sul, Adair Neves, orienta os condutores a adotarem cuidados que podem evitar um assalto – até mesmo a recusa em atender uma corrida se achar perigoso. “É preciso estar mais atento, principalmente à noite. Não ficar dentro do carro, no celular, por exemplo, ou dormindo. Acredito que os taxistas estão se cuidando mais.”
Neves acredita que o caso na madrugada desta segunda foi isolado, mas reconhece que a sensação de insegurança se tornou uma rotina para a categoria.
Publicidade
This website uses cookies.