Pode ser banal para você, mas a mim incomoda de verdade quando alguém se refere aos demais como “essa gente”. Não sei por que, mas essas palavrinhas soam a discriminação, preconceito, a uma desprezível presunção de superioridade ou, pior, de sumária apropriação da verdade. “Essa gente”, em tom carregado de menosprezo, se ouve nas rodas que discutem preferências e posições políticas, paixões clubísticas, gostos de qualquer natureza, convicções religiosas, opções sexuais, estilos de vida, seja o que for.

E é interessante observar como as pessoas que se acham melhores se posicionam quando têm seu ponto de vista contrariado. Em qualquer circunstância – no emprego, no grupo social, no entendimento sobre um conceito – já partem para o ataque. Está no manual dos espertos. Se ainda assim não der certo, apelam para uma narrativa.

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É como se tudo na vida se resumisse a uma versão: a realidade fica refém do filtro da conveniência, confinada a conceitos e crenças pessoais, subjugada pelo interesse, pela ideologia, sabe-se lá por quais motivos.

Como aborrece “essa gente” que ousa pensar diferente – devem se inconformar todos os dias. Como é petulante “essa gente” que questiona dogmas que os donos da verdade já sacramentaram. Pior ainda deve ser para esta casta de pretensos iluminados admitir que, além de pensar e se posicionar, “essa gente” trabalha, paga impostos, se arrisca a gerar empregos e a tentar produzir e, não bastasse, ainda vota.

Faço essas considerações porque nas próximas semanas, deflagrado o processo eleitoral, talvez fiquemos com a percepção de que o estigma caiu. Afinal, o voto “dessa gente” e dos demais tem o mesmo valor. A prudência recomenda cuidado. Desconfio de repentina amabilidade e consideração, mas estou disposto a ouvir a todos. Entendo que a eleição municipal, que vai apontar a pessoa que haverá de governar o município e os nossos representantes na Câmara de Vereadores, é a expressão máxima da nossa cidadania.

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Votar para presidente, governador, senador, deputado não raro nos expõe a decepções porque “essa gente” anônima e distante não faz parte do jogo político. Mas a Prefeitura e a Câmara de Vereadores têm endereço. Aqui, perto de nós. E vão ter nomes e influência direta no nosso dia a dia.

Escolher quem vai governar o município e nos representar no parlamento não pode ser apenas uma questão subjetiva de afinidade, amizade, consideração qualquer que seja. A Prefeitura – em Santa Cruz e provavelmente nas demais cidades da região – é, de fato, a maior e mais importante “empresa” do município.

Com uma diferença: eu, você, toda “essa gente”, somos acionistas. E isso impacta e decide nosso futuro. Pense bem!

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Guilherme Bica

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Guilherme Bica

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