Evento já tradicional no calendário dos rio-pardenses, o espetáculo Paixão e Morte de Cristo completa, neste ano, três décadas de existência. Não só os moradores da cidade histórica, mas pessoas de diversos lugares, acompanham anualmente a peça, que é marcada por muita emoção, com show de som e luzes.
O evento deste ano está previsto para ocorrer no dia 7 de abril, a partir das 20h30, no antigo Forno de Cal, e vai contar com cerca de 80 pessoas, entre elenco e equipe de produção. A direção é de Dmitri Rodrigues e o roteiro é da dramaturga e jornalista Letícia Mendes. O diretor fala sobre a importância de manter viva a tradição. “A arte é um poderoso instrumento de transformação da sociedade. Esse espetáculo, especialmente por ser feito por pessoas da comunidade, e para essas pessoas, é ímpar nesse aspecto.”
Dmitri explica que, de modo geral, o teatro fora dos grandes centros não é acessível ao público. Por isso, ceder espaço para pessoas que dificilmente teriam acesso a esse tipo de arte e, sobretudo, poderiam participar dela, é imprescindível. A secretária de Turismo de Rio Pardo, Rose Paim, frisa que esse momento é de extrema relevância para o município, isso porque proporciona visibilidade para a cidade histórica.
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“Neste período do ano, vivemos um clima diferente, com a expectativa desse momento único para todos. A peça é muito importante para a divulgação e a valorização da nossa Rio Pardo e dos talentos que existem nela”, celebra.
Para Rose, a alegria é duplicada, pois, além de trabalhar na área de turismo do município, podendo perceber os benefícios econômicos e culturais e a visibilidade que a peça proporciona a Rio Pardo, ela também integra o elenco do espetáculo. Rose já interpretou duas personagens, sendo uma delas Maria, a mãe de Deus. “Não sei descrever o que vivi naquele palco, uma mistura de muitos sentimentos e emoções. Foi, sem dúvida, um aprendizado que levo para minha vida.”
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Além disso, ela participou por vários anos coreografando um grupo de meninas que dançam em uma determinada parte da peça. A inserção de jovens, inclusive, é algo positivo, que cada vez ganha mais espaço e resgata pessoas. “Fico feliz por ver tantos jovens vivendo as possibilidades que o teatro nos dá: o convívio, a disciplina, a troca de experiências e a valorização.”
Dos atores que compõem a geração atual do projeto, Cassio Mello é o mais antigo do elenco, participando desde 1993. Ele também faz parte do grupo fundador da peça, ingressando com apenas 16 anos nessa jornada. Por ter iniciado tão novo, Mello explica que o teatro mudou todas as suas percepções sobre a vida, e que problemas como timidez e ansiedade foram curados atuando na Paixão de Cristo.
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Conforme o ator, em 1993 surgiu em Rio Pardo o assunto de que um diretor de fora estava vindo fazer uma encenação da Paixão de Cristo. Na época, ele e mais dois amigos, também adolescentes, integraram-se ao projeto auxiliando com a fabricação de cenário e participando das encenações, que também eram feitas em Torres.
“Eu era muito jovem, podia estar na rua fazendo bobagem, mas estava lá aprendendo sobre arte. As pessoas dizem que a gente constrói o espetáculo todos os anos, mas eu posso dizer que, em todos esses anos, foi o espetáculo que me construiu.”
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Ele explica que a primeira apresentação realizada tinha um texto difícil de ser entendido, com mais de 100 anos, e que, aos poucos, houve adaptações. “O texto mudou muito, isso era lá da década de 1990. Agora está totalmente reescrito, todos os anos são feitas novas adaptações, inclusive de cenas, para não ficar maçante e repetitivo”, observa.
Para Cássio, a peça já faz parte da identidade do município e deve se manter por muitos anos. “É algo lindo e que não deve ser perdido com o tempo, já é tradição da nossa cidade e no meu coração também.”
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A história de Dmitri Rodrigues com o espetáculo é longa; afinal, desde 1999 ele atua na peça. O diretor iniciou no projeto como protagonista, interpretando Jesus Cristo por oito anos. Após ficar afastado por seis anos, ele retornou para a Paixão de Cristo da cidade histórica em 2014, na equipe de direção. De lá para cá, além de dirigir, interpretou José de Arimateia, Simão Cirineu, Tomé e o Diabo. Neste ano, ele se prepara para viver Pôncio Pilatos.
Para Rodrigues, a Paixão de Cristo foi um divisor de águas. “A Paixão me proporcionou os primeiros passos no teatro, foi minha primeira escola. A arte é transformadora e comigo não foi diferente. Mudou minha vida definitivamente, tanto que fui fazer faculdade de teatro.”
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Apesar de não ter se formado, continua se aperfeiçoando. Para ele, a principal evolução ao longo dos anos foi a pessoal. “O teatro, especialmente, nos ensina a ter um olhar mais afetuoso para o mundo e as pessoas a nossa volta. Tive a possibilidade de me desenvolver como ser humano, fazendo-me perceber principalmente os pré-conceitos que vivem na sociedade”, afirma.
Os personagens interpretados por mulheres ganharam mais força ao longo dos últimos anos. Em 2022, a produção recebeu novas cenas e, pela primeira vez, os textos produzidos por Letícia equipararam o número de papéis femininos e masculinos. “Tentamos trazer um texto mais atualizado e com mais força feminina; por isso, aumentamos as personagens mulheres ao longo do tempo”, conta Letícia.
Para a dramaturga, a destinação desse espaço está ligado a vários fatores importantes. “Normalmente, muito mais mulheres e meninas acabam se interessando em fazer parte do espetáculo do que homens. Às vezes temos o dobro de mulheres em relação ao número de homens.” Outro aspeto que se soma é o fato de o texto ser maciçamente masculino. “Quando comecei a mexer no roteiro, isso era uma coisa que me incomodava: tínhamos muitas mulheres disponíveis para interpretar, mas, ao mesmo tempo, o número de papéis era limitado”, pontua.
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Com exceção de algumas personagens, como Maria e Madalena, a maioria delas tinha presença ínfima na peça. “Comecei a alterar as cenas e trazer um texto mais atual, para fazer com que elas tivessem mais espaço. Entendi que era essencial dar voz a essas mulheres”, explica a roteirista. “O fato de elas não terem sido retratadas não significa que elas não estavam lá; significa que quem escreveu essa história foi um homem. Se eu, como mulher, estou escrevendo, acredito que posso dar voz e visibilidade a essas mulheres”, frisa Letícia.
Ela conta que isso tem funcionado muito bem, porque as novas personagens trazem corpo para o enredo. “As novas histórias tocam as pessoas. Temos uma cena, em particular, que é composta por oito mulheres; chama-se O Cálice, e nela retratamos questões femininas. É um discurso que cabe muito bem nos dias atuais, e falar sobre isso é essencial”, finaliza.
A Paixão e Morte de Cristo de Rio Pardo rendeu bons frutos no teatro. Foi a partir do espetáculo que surgiu a Andarilhos Companhia Teatral. O grupo foi fundado na cidade histórica, em 2015, com jovens atores que participavam da tradicional encenação. A companhia realiza produções independentes e já apresentou peças em municípios diferentes.
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