Vivi minha infância sendo a caçula dos três filhos da Dona Lúcia. Nos anos 90, criar três filhos sozinha não deveria ser algo fácil, mas posso dizer que, com maestria, minha mãe conseguiu. Claro, as dificuldades eram inúmeras. Não havia margem no orçamento, por exemplo, pra uma bolacha recheada. Das raras vezes que conseguia comprar algo diferente do trivial, ela chegava em casa com “o bom”, como eu costumava dizer, e esse era nosso momento especial.

Mesmo com as adversidades e as falhas, ela é e sempre foi o melhor que pôde, nas condições que tinha. Uma das coisas que ela sempre me falava quando criança era para que eu estudasse bastante, pois só assim seria capaz de mudar minha realidade. Quando me tornei adolescente, em cada curso gratuito que existia na cidade eu estava, em cada oficina ela me inscrevia, tudo no anseio de uma boa perspectiva para o futuro.

Como uma típica sagitariana, sou inquieta, gosto do desafio, do novo e, nesse sentido, eu nunca fui podada pela minha mãe; ao contrário, ela sempre me incentivou. Com a ressalva de fazer o possível, financeiramente, ela nos criou para desbravar o mundo. Posteriormente, quando eu já tinha cerca de 14 anos, meus irmãos já tinham criado asas e saído do ninho. Queria muito uma nova integrante na família.

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Não demorou muito e eu ganhei a feliz notícia de que seria promovida a irmã mais velha. Minha felicidade tinha nome e sobrenome: a Marina me trouxe uma nova perspectiva sobre amar tão imensamente que não cabia em mim. Mas quando pensei em ter uma irmã, eu pensava no bebê e o quão divertido poderia ser, não pensava que essa criança se tornaria um cidadão e que eu não só tinha o dever, como a responsabilidade de ensiná-la a ser uma boa pessoa. E nessa nova jornada, aprendi que somos espelhos para as crianças, que elas são reflexo do comportamento que veem e do meio em que convivem.

Com os irmãos mais velhos morando em outra cidade, o peso de ser o exemplo foi incumbido a mim. Mas eu não falo peso no sentido negativo, até porque eu amo ser a “mana” mais velha. Mas agora carrego o fato de não somente buscar ser uma pessoa de bem, como também servir de exemplo para a Marina.

Intrinsecamente há uma certa pressão, mesmo que sem querer, dos pais sobre os filhos, para que a gente saiba o momento certo de estudar, achar um bom emprego, casar e ter filhos, tudo para um determinado período de idade. Não é algo isolado, na verdade: a sociedade impõe esse ciclo, que é apenas replicado. Mas o que seria o melhor para os filhos?

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Ainda não sei o que é melhor, mas, como filha, acredito que ter na base familiar alguém apoiando os seus sonhos e a jornada que você visualiza é algo extraordinário. Que não faltem palavras de incentivo, afeto e carinho.

Sempre que tenho um projeto novo, uma viagem ou um grande desafio, eu confidencio para minha irmã, e vejo na expressão dos olhos dela a empolgação e expectativa pela realização. Quando fiz meu primeiro intercâmbio, por exemplo, disse para ela que ia conhecer a neve, e quando eu estivesse lá ia fazer um boneco e tirar foto para ela guardar. A foto está no quarto dela, impressa na mesa de estudos, com personalizações de coração feitas por ela.

Ela ainda está descobrindo o mundo, mas já me questiona quando vamos juntas viajar “só de irmãs”. Das minhas histórias de viagens ela pode passar horas ouvindo, e quando acabo de contar o causo, ela sempre diz: “Quando eu for grande, nós vamos juntas, né mana?”.

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Me questiono se estou sendo um bom exemplo, se vou ser alguém em quem ela vá se espelhar. No fim das contas é sobre buscar ser melhor para si, a cada dia. E vejo nela uma inquietação sobre o novo, o desafio. Não sei sobre metas e planos futuros, mas aprendi com a Dona Lúcia a apoiar sonhos, e com a Marina, não será diferente. Estarei aqui por ela.

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