Fitei o espelho do banheiro, naquela noite que nada tinha de especial, e ele estava ali. Aliás, eu estava ali, mas em outro tempo. Olhava fixo para quem havia sido aos 7 anos de idade. Olhar curioso e tímido. Olhos profundos e tristes, mas com um brilho que só as crianças têm. A primeira reação foi chorar compulsivamente, lembrando daquele guri cheio de sonhos e imaginação. Fixos nos olhamos e nos entendemos. Ah, como eu estava com saudade. Há muito estava esquecido aquele piá gordinho e conversador, cheio de ideias mirabolantes.

Sorri pra ele e ele riu de volta. Deve ter achado engraçado aquele grandalhão, barbudo e careca chorando como um bebê. O brinco pelo menos está estiloso, pensei. E naquele segundo de miragem, que se fez eternidade, lembrei de alguns projetos que aquele rapazinho carregava consigo e comecei a dialogar com minha versão 27 anos mais nova.

Não, jogador de futebol não viramos. Mas aqueles campeonatos com os bonequinhos, os inúmeros cadernos de anotações por anos a fio até que deram frutos. Trabalho com isso, sim. O jornalismo esportivo virou uma grande paixão.

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Vô João, vó Elcina, vovô Hari e vovó Leonida? Infelizmente já se foram. Mas podes ter certeza, eles vivem forte ainda dentro da gente. Se pudesse te dar um toque, mudar algo, diria para abraçá-los bem apertado sempre que puder. A gente nunca sabe quando vai ser a última vez. O pai e a mãe estão bem, graças a Deus. Pai de cabelo e barba branquinhos. Tem que ver! (Risos dos dois.) A mãe é o mesmo amor de sempre. Cuidadosos sempre com a gente. Isso nunca muda.

Voltei a encarar profundamente aquele baixote de farta cabeleira castanha. Emocionei-me mais uma vez. Sorri mais um pouco lembrando de toda aquela inocência perante a vida e adverti-o que nem sempre ele será necessariamente feliz. Nos anos a seguir, muita coisa complicada vai acontecer e tantas outras maravilhosas. Vamos nos machucar bastante, mas a infância e adolescência serão repletas de afeto. Porém, aprendemos na dor que tudo passa. Infelizmente, até os dias de inebriante alegria passam. Serão poucas e boas pra alcançar alguns objetivos, pessoais e profissionais, mas de alguma forma encontraremos força e coragem, na família e na fé para sempre seguir, sempre confiar que algo melhor virá.

Não, ricos não ficaremos tão cedo, ao menos não de dinheiro, mas você não perde por esperar o melhor dia da tua vida e outros melhores dias que virão a seguir. A verdadeira riqueza. Primeiro, você vai conhecer a Lu e despretensiosamente vocês vão se gostar. O gostar vai virar um grande amor, vocês vão pegar na mão um do outro e não vão soltar mais. E tem mais! Em um dia, mais um daqueles aparentemente comuns, você vai voltar de um futebolzinho com os amigos, e a Lu vai pedir para você comprar um teste de gravidez. Na farmácia, antes mesmo de chegar em casa, você já terá a certeza: o amor maior da sua vida está a caminho! O nome? Maria Flor. Bonito, né?! Isso porque você não viu a pintura que vai ser aquele serzinho. Ela vai transformar o mundo!

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Mas, meu pequeno, posso ainda dar um conselho? Não esqueça a sua essência, tente ao máximo conservar este brilho no olhar. É dessa autenticidade de criança que eu tenho sentido falta. Por trás dessa cara de adulto, barba grande e cabelo ralo, você ainda existe e resiste, acredite! Mesmo que às vezes esquecido, adormecido, você ainda está aqui. E precisamos um do outro para seguir em frente.

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caroline.garske

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caroline.garske

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