A confirmação da primeira morte por coronavírus em Santa Cruz do Sul levantou dúvidas. A mulher de 67 anos, que era interna da clínica geriátrica Laranjeiras, local em que há um surto da doença, faleceu na sexta-feira, 8, e foi sepultada na segunda-feira, 11. Inicialmente, a morte foi tratada como resultado de causas naturais. No entanto, foi apurado que ela faleceu em razão de uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – como as causadas pelo novo coronavírus.
Mesmo sem ter feito exames que pudessem atestar a doença, a Secretaria Estadual de Saúde trata o caso como a primeira morte por covid-19 em Santa Cruz. “São analisados os critérios clínico-epidemiológicos. Ela tinha insuficiência respiratória, não foi o único caso confirmado na instituição. Há pacientes da clínica hospitalizados com resultado positivo por exames laboratoriais, há profissionais do estabelecimento em que os testes rápidos deram positivo. É possível fazer essa associação clínica e isso ocorre há muito tempo, não só para o coronavírus, mas também para outras doenças como a influenza, por exemplo. Tudo depende da sazonalidade e nesses casos se confirmou o coronavírus pelo vínculo epidemiológico”, explicou a chefe da Vigilância Epidemiológica no Rio Grande do Sul, Tani Ranieri, em entrevista à Rádio Gazeta na manhã desta terça-feira, 12.
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Tani diz que não há como julgar se houve falha na avaliação clínica que foi feita por um médico assistente. “Posso dizer que, normalmente, em quem tem mais idade, a manifestação clínica é diferente. Nem sempre o idoso tem o mesmo quadro de uma síndrome gripal que mascara o quadro e a evolução pode ser rápida. A investigação feita pelo município colocou a insuficiência respiratória e há outros casos da covid-19 na clínica. É um vínculo epidemiológico estabelecido.”
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No caso da paciente, quando o Estado soube da morte, a funerária já havia feito a limpeza do corpo e não tinha como fazer a testagem por secreção para investigar. “Ocorreu um caso, no começo da pandemia, em que a pessoa morreu em casa e conseguimos fazer o teste. Mesmo assim ele apontou como não detectável. Então não há um momento preciso para se fazer o exame após a morte”, comenta. Tani ainda diz que o Estado não tem uma central de verificação de óbitos em que possa ser feita a remoção de tecidos pulmonares, por exemplo, nos quais é possível atestar a morte quando ocorreu há mais tempo.
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O médico infectologista Marcelo Carneiro, integrante da Comissão de Controle de Infecção e Epidemiologia do Hospital Santa Cruz (HSC) e membro da Gabinete de Emergências, enfatiza a mesma explicação de Tani. “Essa avaliação não foi feita pelo município, mas sim pelo Estado por meio de um documento em que prevê que se pode estabelecer a morte por determinada doença quando há um surto, por exemplo, ainda mais neste caso, em que há outras pessoas próximas com a doença.”
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Ele diz que foi estudado fazer o teste, mas não foi possível porque haveria dificuldade na coleta. “O vírus morre quando a célula morre. Se o sangue coagulou, não tem como fazer a coleta. O mesmo vale para a secreção no nariz, que seca. Quando se passa muito tempo, não há mais carga viral viável.”
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