O Rio Grande do Sul ainda está sob o efeito dos eventos climáticos que acontecem em sequência desde o dia 27 de abril. E nem havia superado o desastre natural que deixou destruídas partes de municípios do Vale do Taquari em setembro de 2023. Mas de acordo com o palestrante dessa terça-feira, 18, da reunião-almoço Tá na Hora, promovida pela Associação Comercial e Industrial (ACI) Santa Cruz do Sul, isso é só uma continuidade de algo que deve ser intensificado nos próximos anos. A região será mais quente, com mais chuva e possibilidade de catástrofes ambientais com maior recorrência.
A apresentação dos números que devem pautar as ações dos gestores públicos e da iniciativa privada foi feita por Marcos Kazmierczak, engenheiro florestal com especialização em análise de imagens orbitais e sub-orbitais, mestre em sensoriamento remoto e doutor em desastres naturais. Ele trouxe dados levantados em diferentes fontes que mostram, por exemplo, ser Santa Cruz do Sul o 12º município brasileiro com maior número de eventos extremos entre 1994 e 2023. Foram registradas 75 ocorrências, sendo o maior do Estado. No País, o topo do ranking é da capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, com 151.
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Esse número levado por Kazmierczak aos associados da ACI, políticos e representantes da sociedade, no restaurante do Hotel Águas Claras, é resultado de uma ampliação em 82% nas ocorrências só nos últimos dez anos. “Em relação a 1994, Santa Cruz teve aumento de casos de cerca de 2000%”, destacou. E essa condição vai continuar e até ser ampliada. Em um de seus estudos, o engenheiro florestal trata de questões como temperatura máxima, precipitação mensal, precipitação diária extrema (como a que aconteceu em Sinimbu), número máximo de dias secos consecutivos e percentual de dias muito quentes no ano.
De acordo com Kazmierczak, até 2040 a quantidade de chuva terá diminuição em 80% dos municípios brasileiros, com crescimento em 20% – o que inclui parte dos gaúchos, como Santa Cruz do Sul. Mas isso não quer dizer, ele alertou, que estiagens deixarão de ser registradas. Uma amostra de que esse problema pode continuar é a quantidade de dias com calor extremo. Atualmente, gira em torno de 38 e vai aumentar para 70 durante o ano.
Kazmierczak alertou que será preciso agir de forma articulada para minimizar as consequências dos eventos climáticos, com a junção de ações e medidas para evitar efeitos cascata. “As consequências vêm em cadeia. Não adianta Santa Cruz tomar atitudes se Sinimbu não fizer algo; e assim vale para todos os que integram a bacia hidrográfica”, observou. O que for feito, no entanto, servirá para amenizar, pois uma das principais causas desses distúrbios climáticos seria a emissão de gás carbônico.
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A reunião-almoço Tá na Hora é organizada pela ACI de Santa Cruz do Sul, com apoio da JTI, Unisc, Philip Morris Brasil, Gazeta Grupo de Comunicações, Universal Leaf, Unimed VTRP e BAT.
Marcos Kazmierczak acredita que o assunto deve pautar os atuais e futuros gestores que vencerem as eleições de outubro. Eles precisarão criar instrumentos de governança, como Plano Diretor que dê atenção às áreas de risco, com prevenção de enchentes e lei de ocupação de solo e carta geotécnica. São documentos cartográficos que traduzem a capacidade dos terrenos para suportar os diferentes usos e práticas da engenharia e do urbanismo. Kazmierczak diz que a carta geotécnica de Santa Cruz é datada de 1976 e, desde lá, houve grande aumento da ocupação populacional e industrial.
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Ele acrescenta que é fundamental ampliar a estrutura de atendimento, como as unidades da Defesa Civil. Justifica ao dizer que 30% não têm computador, 70% não têm veículo próprio e um grande número não conta com celular com internet. Reforça a importância de que haja maior número possível de informações, assim como investimento para evitar mortes. Nas ocorrências climáticas dos últimos 30 anos, houve 171 óbitos; nas de abril e maio deste ano, já são 175 – e ainda há desaparecidos.
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