A relação do Rio Grande do Sul com o inverno é intrínseca. A identidade gaúcha é formada pela “estética do frio”, definida pelo cantor e compositor pelotense Vitor Ramil. Os campos brancos de geada e o vento gelado soprando pelas coxilhas fazem parte da paisagem sulina, principalmente entre maio e setembro. A vestimenta característica dos gaúchos tem a ver essencialmente com o inverno, pela necessidade de roupas que forneçam maior proteção, como os palas e ponchos. A cultura é adaptada às exigências do clima rigoroso, com as casas munidas de lareiras e fogões a lenha. O mate é essencial para aquecer o corpo.
Nesta semana, com previsões de temperaturas abaixo de zero e possibilidade de neve, encontro-me na região dos Campos de Cima da Serra, a mais fria do Estado. Em Vacaria, a neve apareceu, como havia sido alertado pelos meteorologistas. Entre a noite de quarta-feira, 28, e a madrugada de quinta-feira, 29, foram três momentos de nevada, com cerca de 15 minutos cada. Os flocos chegaram a se acumular, e nos locais mais sombreados era possível observar gelo acumulado ainda na tarde de quinta.
Mesmo sem a presença dos turistas habituais de Gramado, Canela, Cambará do Sul e São José dos Ausentes, moradores enfrentaram o frio e saíram de casa para registrar a neve na praça central, com a Igreja Matriz Nossa Senhora de Oliveira como pano de fundo das fotos e dos vídeos, compartilhados posteriormente em redes sociais e grupos de amigos. A última vez que o fenômeno ocorreu com essa intensidade em Vacaria foi em 2013.
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A admiração e a reverência em relação à neve, que de vez em quando pode ser observada aqui no “garrão” do Brasil, tem a ver com a nossa “estética do frio”. Vibramos com a ocorrência do fenômeno e nos orgulhamos de viver em uma região completamente atípica para a percepção dos estrangeiros em relação ao Brasil. A possibilidade de emular o Hemisfério Norte, ao menos alguma vez por ano, nos anima e gera expectativa. Faz parte da essência de ser gaúcho. Faz parte do que torna o Rio Grande do Sul especial dentro do nosso país. Mas nunca podemos nos esquecer daqueles que sofrem por conta do inverno, por falta de agasalhos e cobertores, e pela ausência de um lar aquecido. Para essas pessoas, o frio é doloroso e cruel. A motivação ao ver a neve caindo deve ser a mesma para agir de forma solidária com quem mais precisa.
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