Privilégio é de quem ainda pode conviver com o pai. Mais privilégio ainda têm aqueles que, neste domingo, poderão curtir a companhia do amigo de todas as horas, seja para o almoço especial, seja para um bom papo de fim de tarde, regado a um bom chimarrão.
O que dizer então dos filhos que têm a oportunidade de receber o suporte desses exemplos no dia a dia profissional? Nesta reportagem especial, a Gazeta do Sul mostra a história de um vendedor, um arquiteto, um empresário e um mecânico – todos de Santa Cruz do Sul – que inspiraram os filhos a seguir o mesmo caminho e, hoje, inspiram-se com eles.
Na arquitetura, eles se complementam
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Aos 17 anos, a santa-cruzense Virgínia Quadros Goettert, hoje com 29, se viu no dilema enfrentado por muitos adolescentes. Não sabia para qual curso prestar vestibular. Acostumada a frequentar o escritório do pai, o arquiteto Jorge Luiz Goettert, de 60 anos, decidiu, poucos meses antes do processo seletivo, que seguiria o mesmo caminho. Não apenas seria arquiteta, como já traçava planos: ela trabalharia ao lado do pai.
E assim aconteceu. Durante a graduação, Virgínia foi, literalmente, preparando o terreno e contou com o apoio incansável do seu arquiteto particular nos desafios da academia. “Assim que comecei a cursar disciplinas mais aprofundadas como a de projetos, me reunia com ele e buscava uma orientação. Contar com essa referência foi muito importante para a minha carreira”, lembra. Não tardou para que a acadêmica demonstrasse interesse de se inserir na rotina da empresa da família e pudesse aliar teoria e prática acompanhada do maior professor: o pai Jorge. “É um motivo de orgulho muito grande quando o filho segue a carreira do pai. No meu caso, foi ainda mais gratificante, pois a Virgínia tem habilidade não só para a arquitetura, mas no trato com pessoas”, diz Goettert, todo orgulhoso.
Mais de dez anos depois, a parceria entre a arquiteta e o pai segue consolidada. Virgínia não só acompanha a empresa da qual Goettert é sócio como contribui, ao lado da equipe de trabalho, para a ascensão dos projetos e empreendimentos desenvolvidos pela companhia.
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Hoje, ao lado de outros seis arquitetos, pai e filha se complementam. Virgínia fica responsável pela execução dos projetos e acompanhamento das obras, e Goettert com o departamento de vendas e de lançamento de projetos. Com tanta sintonia, fica difícil não falar de trabalho nas reuniões e almoços de família aos domingos. Mas Goettert deixa claro: “No fim de semana, a gente curte e tenta não falar muito sobre”, finaliza em tom de descontração.
Goettert e Virgínia: parceria no ramo já dura mais de uma década | Foto: Bruno Pedry
Sempre na elegância
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Foi em meio a ternos, camisas e outras roupas masculinas que João Felipe Lüttjohann, 34 anos, se criou. Desde criança viu o pai, seu Romeu, 68, esbanjar talento na hora de escolher as melhores combinações e oferecê-las aos clientes que ingressavam em uma pequena loja na Rua Tenente Coronel Brito. Não tardou para que, ao completar 17 anos, passasse a ajudar o pai nas atividades do comércio. “No início, eu fazia de tudo. Ajudava a organizar as peças e era uma espécie de office-boy”, lembra, com carinho.
Quem olha hoje pai e filho trabalhando juntos até pode achar que seu Romeu influenciou a escolha de Felipe, mas não foi bem assim. “Sempre deixei ele livre. Tanto que estudou Administração, trabalhou fora e só depois decidiu seguir de vez no ramo”, comenta Lüttjohann. Instigado pela história de vida do pai, Felipe não precisou perambular muito para ter inspiração profissional – e de vida. Foi em casa, e com a pessoa que convivia todos os dias, que encontrou exemplo para superar os desafios. É porque seu Romeu já fez um pouco de tudo. Pedreiro, padeiro e agricultor são algumas das atividades que ele desempenhou antes de encontrar seu chão: a venda.
Foi ao entrar em uma loja de confecções, a Renner Moda Cais, e posteriormente a conhecida Waechter, que o então jovem de 25 anos se encontrou. Não só criou tato de observador como aprimorou o que posteriormente veio a se chamar de “Made to Measure”. Trata-se de um serviço exclusivo oferecido pela loja adquirida pelo vendedor em 1991. Quando o terno precisa de algum ajuste, seu Lüttjohann é uma opção sempre lembrada, pois o olhar é clínico. “Eu ‘espio’ e já sei onde e o quanto precisa ajustar”, afirma, sorridente.
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Enquanto o pai fica com a responsabilidade de prestar esse atendimento à clientela, o filho atualiza as redes sociais, contata fornecedores e, claro, aproveita para aprender de estilo e elegância com sua principal referência. “Hoje não me vejo fazendo outra coisa. E devo tudo isso ao meu pai”, diz João Felipe. E o pai, todo bobo, corresponde. “Tudo que eu ensinei foi demonstrando e não mandando. Se ele cresceu aqui dentro é porque entendeu que atendimento é olho no olho.”
Felipe e o pai Romeu Lüttjohann trabalham juntos na loja adquirida em 1991 pela família | Foto: Rodrigo Assmann
Administração com cheirinho de comida boa
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Os empresários Ruben, 69, e Ricardo Toillier, 42, já estão acostumados. Dia dos Pais é dia de trabalho – muito trabalho. Junto com o sócio, Eugenio Paulo Baier, a dupla já sabe que a hora do almoço é para atender os clientes, ficar de olho no bufê, coordenar a equipe e estar a postos para qualquer necessidade. A celebração da data vem só depois das 15 horas. Aí vale entrega de presente e até um segundo abraço. O primeiro, Ricardo garante dar antes de o expediente começar. “É assim desde 1993, quando o pai assumiu a administração aqui”, comenta o filho Toillier.
Formado em Ciências Contábeis, Ricardo direcionou a escolha do curso para que pudesse dar sequência aos trabalhos no restaurante. “Na época, minha mãe era auxiliar de cozinha e meu pai, administrador. Optei em unir o útil ao agradável e, de quebra, dar mais uma força para a família”, lembra. Foi nesse ritmo que, ao lado do pai, enfrentou momentos mais delicados, mas não deixou de apoiá-lo. “Comecei aqui quando tinha 20 anos e tudo o que eu sei de finanças nesse ramo e de bom atendimento às pessoas, eu devo a ele”, diz Ricardo.
Na visão do experiente Toillier, foram dois os principais ensinamentos que ele deixou para Ricardo: a humildade e a valorização do trabalho dos funcionários. “Agora eu me sinto tranquilo. Sei que o que eu ajudei a construir está em boas mãos”, ressalta Ruben. A julgar pela movimentação de clientes e pelos suspiros dos santa-cruzenses ao comentarem sobre o famoso galeto do restaurante deles, o negócio, de fato, rende frutos. E une a família.
Ruben e Ricardo Toillier: galetos são a especialidade do restaurante que mantêm | Foto: Rodrigo Assmann
Três gerações de mecânicos na família Nyland
Em Santa Cruz, a família Nyland conta com três gerações de mecânicos. O falecido avô Orlando, o pai Walmor e o neto Gustavo são os protagonistas desta história. Diferente de Walmor, 63, que desde pequeno já se envolvia com o conserto dos carros, Gustavo, 36, passou a entender mais sobre o mundo da regulagem de motores, suspensão e injeção eletrônica somente quando fez um curso de mecânica em 2001. “Nunca fui de misturar ‘as crianças’ aqui com os carros. Mas dos três filhos, o Gustavo foi o único que não quis seguir para outra área e já demonstrou uma habilidade nata”, diz Walmor.
No embalo de consertar até 12 veículos por dia, pai e filho são parceiros quando o assunto é reciclagem profissional. Segundo Walmor, a mecânica é uma área que necessita de constante aperfeiçoamento. “Para oferecer um atendimento de qualidade, participamos de cursos e procuramos acompanhar a tecnologia. Caso contrário, ficamos para trás”, diz o Nyland pai. Não é à toa que a parede da mecânica exibe uma porção de certificados da dupla. Parceria em turno integral, pai e filho convivem em harmonia. E Gustavo agradece por contar com o suporte de Walmor nos afazeres.
“Todo dia é uma aula. E não há satisfação maior do que ligar para o cliente e informar que o problema foi resolvido.” O pai acrescenta que as principais lições repassadas ao filho ao longo de 15 anos de convivência profissional foram a transparência e a tolerância. “Confiança não se ganha de uma hora para outra. Sempre mostrei isso para ele e hoje sei que posso sair por 15 dias e ficar sossegado. A mecânica estará em boas mãos.”
Walmor e Gustavo Nyland acompanham avanço da tecnologia no trabalho diário | Foto: Bruno Pedry
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