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Literatura

Espanhol Javier Marías lança o livro ‘Berta Isla’

Javier Marías projetou-se como um dos grandes escritores da atualidade no mundo

A literatura produzida na Espanha, terra de Cervantes, Lorca, Camilo José Cela, Montalbán e Jorge Semprún, hoje está na mão de fiéis escudeiros destes: Enrique Vila-Matas, Arturo Pérez-Reverte, Antonio Muñoz Molina. E Javier Marías. Este último projetou-se como um dos grandes escritores da atualidade no mundo, e isso pode ser uma vez mais reconhecido em seu novo romance, que acaba de chegar às livrarias no Brasil. Berta Isla, na linha dos sólidos volumes com a marca estilística da prosa de Marías, compreende 552 páginas, sob o selo da Companhia das Letras, que disponibiliza boa parte de sua bibliografia aos brasileiros.

É da característica de Javier, madrilenho de 68 anos, estruturar enredos nos quais uma pitada de suspense convive com a longa reflexão do narrador, exigindo concentração a mais do leitor – e que sentido faria dedicar-se à leitura sem concentração, não é mesmo? Em Os enamoramentos, sua obra mais conhecida (bem como a formidável trilogia Seu rosto amanhã), uma mulher jovem testemunha o afeto entre um casal, que pode ver com frequência à mesa de um café. Quando o homem é assassinado, e ela se aproxima da companheira dele, outro universo, muito mais complexo do que poderia ter imaginado, vem à tona – e, contra toda a lógica, absorve a ela própria, que se achava mera espectadora.

Os enredos de Marías costumam situar-se na sua Madri natal. Nessa condição, a paisagem urbana típica de capital europeia, mas delineada pela imaginação do escritor, forma-se na mente do leitor. Em Berta Isla, a originalidade do romancista está em deslocar o ponto de vista não para o suposto protagonista, mas para aquele personagem (no caso, aquela) que inicia como coadjuvante. Em 1974, a espanhola Berta, que empresta seu nome para o título do livro, está casada com Tom Nevinson, filho de pai inglês com mãe espanhola.

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Em sua rotina, o que ela não sabe é que Tom integra o serviço secreto britânico (espiões são presença recorrente nas histórias de Marías). Como tal, seus constantes sumiços, sem maior explicação, a deixam dividida entre a angústia de entender o que está acontecendo e a expectativa de que ele enfim retorne, e se presentifique em sua vida.

Como uma Penélope moderna, Berta tenta administrar a espera de Tom, um Ulisses cuja missão e paradeiro ela desconhece. E, durante os períodos de ausência, a esposa do agente secreto passa a manusear os “fios” para compor o enredo do que ainda ignora. Com a marca do estilo elegante de Javier Marías de escrever, é certo que o leitor, testemunhando as elaborações mentais de Berta, também se sentirá, ele próprio, um agente em meio ao esforço para tentar compreender: não só as missões de Tom, mas o esforço de Berta buscando entender Tom e tentando reposicioná-lo em sua própria vida.

Ficha

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Berta Isla, de Javier Marías. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. 552 p. R$ 89,90.

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