Uma pesquisa de três anos e uma paixão que dura décadas. O funcionário público e vice-presidente do Fogolar Friulano, de Sobradinho, Roberto Elesbão Tonelotto, 33 anos, é um meticuloso escavador de histórias não contadas – ou narradas pela metade. Seu primeiro livro, que está em fase final de edição – a cargo da Pejor Publicidade e Marketing –, apresenta aos leitores, apaixonados pela imigração italiana, novos olhares para as narrativas oficiais.
Do Friuli ao Brasil: coragem no mar e bravura na terra, obra que foi financiada pelo Ente Friuli Nel Mondo, tem elementos que saltam aos olhos. Em suas pouco mais de cem páginas, há uma minuciosa busca de fontes confiáveis para embasar suas teorias. O livro deve ser lançado ainda este ano, e promete ser um bom guia para os descendentes de imigrantes italianos nas localidades de Cortado e Linha dos Pomeranos, além dos friulanos da Quarta Colônia.
Conforme Tonelotto, compreender que uma apuração tão minuciosa não pode ser feita do dia para a noite é tarefa de todos que buscam contar uma história. Principalmente quando as fontes são difíceis de encontrar. “É preciso ter paciência para descobrir o que foi mascarado, ou completamente escondido, em documentos amarelados pelo tempo. Mas nada é por acaso, e a missão de descobrir o máximo das famílias que tanto fizeram e fazem pelo Rio Grande do Sul e o Brasil não pode ser esquecida, mas fomentada.”
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Diversas fontes foram levadas em conta nas pesquisas genealógicas: lista da relação de passageiros do navio, registro de entrada nos portos brasileiros, listas de leva (quando a criança nascia, ela já era registrada no exército), passaportes, registros de hospedarias e o relatório da colônia provincial ou imperial de destino. “Em sua maioria, a lista da embarcação traz a idade, país, religião, data de partida e chegada, estado de destino, e em alguns casos, o local de origem do imigrante, qual o seu contrato e demais detalhes da viagem”, explicou Roberto.
Por meio dessas informações referentes aos passageiros, fazia-se o controle para o pagamento aos agenciadores de emigração e assinalava-se a colônia de destino. Nos documentos, também são visíveis alterações na grafia de nomes, transcritos por pessoas que não estavam preparadas para compreender uma grande variedade de idiomas.
Aqui cabe a ressalva ao registro dos emigrantes vindos por meio do contrato firmado entre o Governo Imperial e Joaquim Caetano Pinto Junior, responsável pela instalação da maioria dos colonos friulanos na Quarta Colônia no fim da década de 1870. A maioria das listas de navios era redigida em máquina de escrever com muito esmero e fidelidade de informações. Esses registros de navios chegados aos portos de Santos e do Rio de Janeiro, bem como das hospedarias, podem ser consultados no site do Arquivo Nacional.
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Alguns documentos oficiais registraram o caminho dos imigrantes de forma equivocada. “Impossível colocar a culpa nos cartórios ou nos padres que faziam os registros que precisavam realizar uma grande quantidade de batizados e casamentos no mesmo dia. Afinal, a visita do padre era aproveitada para os sacramentos religiosos. Na pressa, muita informação equivocada era registrada. E muita coisa ainda continua sendo publicada de forma errada”, explicou Tonelotto. Além do apoio do Ente Friuli Nel Mondo, a pesquisa teve a colaboração do representante da entidade na América Latina, Tácio Alexandre Puntel, e do pároco de Paluzza, Don Tarcísio Puntel. O prefácio é da jornalista Emanuelle Dal Ri, da Gazeta da Serra, e o design da capa é de Dago Vianna.
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