Escrever é um exercício que, diferente de andar de bicicleta, exige prática sob pena de estagnação. No antigo curso primário era comum a realização de concursos de redação – ou “de composição”, como se dizia na Escola Luterana São Paulo, em Arroio do Meio, onde nasci – que rendiam disputas acirradas. Vencer significava entrega de “medalhas de honra ao mérito” em solenidade que reunia todos os alunos e nos enchia de orgulho.
Desde cedo tive facilidade para redigir, mas isso não resulta da mania de ler livros. Gostava mesmo era de folhear revistas e quadrinhos. Escrever conteúdos do tipo “como foram minhas férias”, por mais simplórios que fossem, era algo que sofria com o olho clínico do meu pai. O velho Giba era implacável com ortografia, “letra bonita” e coerência nos escritos.
Microempresário, morreu frustrado porque não segui sua exitosa trajetória. Trabalhou 35 anos na empresa que o levou muito cedo, menos de 60 anos, fulminado por um infarto depois de uma pescaria em Tramandaí. Consola o fato de que ele tornou-se colunista de jornal e comentarista político de rádio.
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Quando o velho Giba se conformou que o filho – que inclusive carrega seu nome, acrescido do “júnior” – não tinha vocação alguma para a economia, me indicou ao amigo, o “seu” Oswaldo Carlos van Leeuwen, visionário empresário de comunicação de Lajeado, no Vale do Taquari. Foi ali que dei vazão à razoável capacidade de colocar no papel e alinhavar algumas ideias, responsável pela coluna “Nascimentos e Falecimentos”, resultado da ida à maternidade do único hospital e à funerária que reinava sozinha à época.
O ato de escrever tornou-se banal. Os grandes textos, conhecidos no jornalismo como “tijolões”, deram lugar a postagens, microescritos do Twitter e uso de abreviaturas que só a gurizada compreende. O redator é como o chefe de cozinha de restaurantes populares. Antigamente o desafio era criar cardápios com inúmeros pratos, entradas e sobremesas. Hoje as opções diminuíram, o dinheiro está curto, falta tempo.
Para sobreviver, adapto-me à modernidade dentro do possível. A rotina é composta de pequenas postagens, artigos de 2 mil caracteres, pronunciamentos que exigem pesquisa e rigor, e discursos rápidos. As redes sociais democratizaram os conteúdos, acessíveis de qualquer lugar, a toda hora, mas vulgarizaram o exercício de redigir. A proliferação de absurdos atingiu níveis históricos, mas considero um exercício de liberdade.
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Cercado de jovens talentosos e ligados com o que acontece no mundo, sobrevivo muitas vezes de teimoso, como convém a um jornalista de sangue germânico. Insistência, no entanto, tem limite porque causa sofrimento mútuo e perda de tempo quando o interlocutor é igualmente casmurro. Escrever até o fim. Acho que comigo será assim mesmo!
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