Aproveitando a passagem do mês dedicado à memória de Zumbi dos Palmares, e em reverência ao CTG Lanceiros, que no Enart tratou do tema da abolição, destacamos reportagem da Gazeta, de 1º de junho de 1954, que comoveu a cidade. Foi entrevistada uma senhora que faria 129 anos, a Tia Inácia, que havia sido escrava e que residia em Santa Cruz do Sul.

A entrevista do jornalista Francisco J. Frantz, fundador da Gazeta do Sul, ocorreu no rancho onde ela morava, no Bairro Bom Jesus. Muito lúcida, contou pormenores da história, detalhes que atestavam que tinha mais de 100 anos.

Pelos documentos, Inácia Garcia de Souza nasceu em 24 de junho 1825 em Rio Pardo e foi escrava de dona Jacintha (fazendeira). A mulher era boa e deixou parte de suas terras para os negros.

Contou sobre os enforcamentos no Pau da Bandeira. Com a corda no pescoço, “negros e brancos malcriados” eram obrigados a entoar uma canção para dar respeito ao povo: “Quem tiver filhos, que lhes dê educação, para depois não darem dor no coração. Se minha mãe me desse surra quando eu merecia, hoje não estaria nessa agonia. Sexta-feira, hora de missa, aperta carrasco e me entrega à justiça”. No fim da canção, o carrasco pulava nas costas do condenado.
Inácia lembrava da festa em Rio Pardo quando chegou a notícia da libertação dos escravos, em 13 de maio de 1888. O povo “endoideceu” e na rua gritava vivas à princesa Isabel. De raiva, um fazendeiro chamado Mathias teria morrido do coração.

Ela narrava histórias da Guerra do Paraguai, da revolução de 1893 e de personagens históricos. Contou que o Barão de Andrade Neves era “duro como pedra” e mandava surrar os soldados desobedientes.

Em Santa Cruz, residia em uma casinha de duas peças que ganhou da Prefeitura. Recebia roupas e comida da comunidade. Em maio de 1956, a Gazeta noticiou que Tia Inácia havia morrido.

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