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ELENOR SCHNEIDER

Escola em casa

A necessária decisão das escolas de manter os alunos em suas casas certamente nos permite uma série de reflexões. Todos os envolvidos nesse episódio inesperado e indesejável terão essa marca gravada para sempre em sua história. O cenário me remeteu a pensar um pouco sobre movimento recente da retomada ou adesão ao homeschooling, ou seja, o ensino domiciliar. Algumas famílias, insatisfeitas com o que a escola de seus filhos estaria proporcionando, defendem o direito de promover o ensino em seus próprios lares.

O tema é muito amplo, complexo e controverso. É certo que a escola não se constitui o único espaço de aprendizagem. Existem qualificados profissionais e excelentes cidadãos que pouco ou nunca a frequentaram. Não é a regra, porém. Toda a legislação brasileira deixa claro que lugar de criança e de adolescente é na escola. No caso dos defensores da escola familiar, geralmente levados por motivos religiosos, políticos, ideológicos, entre outros, pensam, em regra, levar para dentro do lar a mesma estrutura curricular desenvolvida na escola regular. Em vez de educar e ensinar os filhos na coletividade, optariam pela educação individual. Guardados numa redoma, estariam protegidos dos males que, na sua opinião, a escola e seus professores (ideologizados, parciais) estariam promovendo ou impingindo.

Muitos pais e mães, ou responsáveis, se depararam com dificuldades para auxiliar os filhos na solução de problemas enviados pelas escolas. Isso que estavam em casa. Não fosse a epidemia, estariam o dia inteiro em seus locais de trabalho. Defensores da escola domiciliar chegam a usar o cruel argumento de que teriam condições de pagar professores para todos os conteúdos a serem estudados. E os milhões que não possuem esse poder? E as crianças e os jovens sem apoio familiar algum?

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Essa experiência passageira vai potencializar a relevância da escola presencial. Muitos valores que portamos vida afora são construídos na partilha da convivência, na troca de saberes, e até mesmo na merenda dividida com quem menos tem, aprendizagem de amor para sempre. A boa escola se preocupa com a socialização (que se opõe ao isolamento e ao egoísmo), incentiva a aprendizagem coletiva e solidária, preocupa-se com o exercício da discordância, que sempre haverá entre os diferentes mas se constitui no espelho da sociedade em que os alunos vão viver num futuro muito próximo. Precisam exercitar a tolerância que tanto contribui para termos comunidades harmônicas e respeitantes das diferenças.

A pandemia desvelou a insubstituível presença do professor, de sua voz tranquilizadora, do seu necessário saber e do seu indispensável afeto. Nenhuma escola atende ou atenderá todo o desejo ideal de cada família. Os dois segmentos, num diálogo ininterrupto, podem – e devem – promover a educação e o ensino. A escola, em muitos aspectos, precisa mudar, sim, mas não pode ficar à mercê dos desejos de cada um e trocar seus rumos a cada ano que inicia.

O tema é polêmico. A experiência vivida está sendo mista, porque os alunos que podem ficar conectados à sua escola e aos seus professores estão tendo as aulas possíveis. É preciso não esquecer, no entanto, que milhares ficaram no vazio; durante esse tempo “sentaram no nada”, como diz Guimarães Rosa.

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