A mesa estava posta em uma das tendas do Chimarródromo, dentro do parque da 16ª Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim), em Venâncio Aires, na manhã desse domingo, 8. De longe, os visitantes observavam delícias como pães, bolos, cucas, biscoitos, suco e outras iguarias caseiras. A diferença é que até esses itens, tradicionais para um saboroso café da manhã, na Fenachim são produzidos à base de erva-mate.
Pioneira na produção dos alimentos à base de Ilex paraguariensis – nome científico da planta produzida no Rio Grande do Sul e conhecida popularmente como erva-mate –, a culinarista Ludmila Alves Gallon, de 69 anos, oferece as guloseimas junto ao espaço do Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate), anexo à Escola do Chimarrão.
Também mostra como fazê-los, em oficinas. Moradora de Anta Gorda, ela trabalhou por muitos anos na Emater de Ilópolis, na região alta do Vale do Taquari. Diferentemente do município onde reside, em que a produção se baseia no gado leiteiro e no milho, em Ilópolis, cidade com 4 mil habitantes, que fica a 16 quilômetros de Anta Gorda, concentra-se a maior produção de erva-mate do Estado.
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A identificação do município com a planta é tamanha, que o nome da cidade deriva da junção das palavras Ilex paraguariensis e de pólis (cidade, em grego) – ou seja, cidade da erva-mate. “Apenas três famílias de lá não têm essa produção em suas propriedades. Minha paixão, trabalhando na Emater, sempre foi a alimentação, sobretudo com as plantas alimentícias não convencionais, as chamadas pancs. E como trabalhava em Ilópolis, quando formataram a primeira edição da Turismate, decidi produzir alimentos à base da erva-mate”, explicou Ludmila.
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Mas não foi apenas para agradar ao paladar dos visitantes que Ludmila produziu suas iguarias. Ela é uma defensora do uso da erva-mate na alimentação. “Erva-mate é um alimento que entra na cesta básica de Ilópolis. E é possível de comer. Por isso, comecei a estudar as propriedades da folha e a quantidade de benefícios. Cada vez me apaixonei mais.” Dessa paixão, surgiram receitas de panqueca, geleia, pães, bolos, torta, suco, pipoca, merengues e até farofa agridoce para colocar na carne de churrasco.
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A culinarista pretende escrever um livro sobre a alimentação com base na erva-mate e seus benefícios. “São 192 princípios ativos, com micronutrientes que faltam principalmente às nossas crianças, que vêm ficando cada vez mais obesas. E isso remete direto à má alimentação, que normalmente é feita baseada em alimentos industrializados”, disse Ludmila, que já ministrou palestras sobre o tema em congressos nacionais e internacionais.
“Erva-mate é patrimônio genético sul-americano. É aqui que tem, e é a planta mais completa que temos no planeta Terra. Precisamos dar mais valor”, ressaltou. “É um produto que pode ser usado não somente no chimarrão, mas em alimentos e também cosméticos, remédios, compostagem, chá para curar ferimentos. Inclusive, até a sobra da cuia pode ser secada e acrescentada na ração dos animais, o que auxilia contra verminoses e carrapatos.”
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O casal Delson e Clarice Peiter, de 68 e 65 anos, aprovou as receitas. Os dois também assistiram a uma peça de teatro e relembraram o tempo que ficaram sem comparecer ao evento, por causa da pandemia. “Viemos sempre à Fenachim. Estávamos sem vir nos últimos anos devido à Covid-19, mas agora felizmente a festa voltou”, disse o morador de Linha Saraiva, interior de Venâncio. “Queremos caminhar e aproveitar bastante. Na semana que vem estaremos de volta”, complementou a esposa.
Assim como Delson e Clarice, muita gente aproveitou o fim de semana de sol e o arrefecimento da pandemia para prestigiar o primeiro fim de semana da festa. “Está sendo tudo muito positivo. O tempo nos ajudou muito sábado e domingo”, disse o presidente da Fenachim, Vilmar de Oliveira. “Os shows lotaram, o motocross foi uma atração à parte também e estamos muito contentes com tudo. Vamos torcer para o tempo nos ajudar na sequência do evento.” A festa retorna nesta quarta-feira, 11, e segue até o próximo domingo, 15.
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