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COLUNA DO WENZEL

Envelhecer

Quando disse ao Arthur que seu avô jogava mais que o Cristiano Ronaldo, quase tão bem quanto o Luis Suárez e emparelhava com o Vini Jr., ele respondeu com um sorrisinho maroto e aproveitou para me driblar com a maior facilidade. A Sofia, para me zoar de vez, emendou que “com certeza o Messi não chegava nem perto”, ao que Manuela definiu: “isso para falar só dos desta Copa…”.

Talvez seja isso um pouco do envelhecer: contar aos netos e a quem nos escutar o que a gente poderia ou gostaria de ter sido. Com o tempo vamos enveredando por memórias seletivas, ainda que se saiba como as coisas acontecem. Ao falarmos mais dos dias pretéritos, o fazemos para que as raízes não se percam, ainda que não encontremos os chinelos, quase sempre extraviados em algum canto.

Esquecer com facilidade o que é atual nem sempre é tão ruim, até porque podemos afirmar que estamos imersos em pensamentos profundos, o que nos dá a possibilidade de avaliar as novidades e o futuro com algum cuidado preventivo. Nos tornamos intuitivos, um pouco menos racionais, mais compreensivos. As incertezas criativas nos fazem melhor companhia do que as convicções engessantes.

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Na verdade, aprende-se a rir de si mesmo e perceber que um pouco de silêncio, além de passar a ideia de sabedoria, nos resguarda de palavras tortas, tão comuns na precipitação dos dias anteriores.
Ao tremelicar das mãos, lembramos que já seguramos a xícara com firmeza. Se usamos a camiseta do lado avesso é por charme. Exames mais frequentes de colonoscopia atestam destemor, e beber cerveja sem álcool confirma ousadias.

Quando perguntamos se está chovendo em dia de sol, assim procedemos só para puxar assunto. Ao enviarmos mensagens para endereços equivocados, o fazemos por saudades. Não apreciamos diminutivos, rótulos e chavões do tipo “mais experiente”, “corpo cansado, mas cabeça de jovem”, até porque envelhecer é completude possível como em qualquer outro período da existência. Tem seus encantos e suas frustrações, seus ganhos e perdas, como nos lembraria Lya Luft.

Agora, aos 71 anos de idade, não os comemoro porque cheguei até aqui, nem porque, apesar do tendão de Aquiles arrebentado, consigo caminhar, visto que capengar se pode em qualquer tempo. Todavia, me permito não ser presunçoso, ao menos, não tanto quanto já fui. Hoje, por exemplo, não me atreverei ao salto mortal duplo que praticava aos 18 anos. Optarei, ao lado de colegas, pela hidroginástica, meritória atividade oferecida pela Unisc, sem antes ter alongado, sob orientação segura da professora e atendimento prestativo da dedicada equipe.

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Exercitante, vos digo que envelhecer é um segredo afetuoso revelado pelos que vivem intensamente cada instante; idade é circunstância ou possibilidade. Se “deixar driblar” não é habilidade perdida, é carinho atualizado.

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