Em Porto Ferreira, o tempo aparenta ter parado desde 30 de abril de 2024. Nas principais vias do tradicional balneário de Rio Pardo, entulhos se acumulam na frente das residências. Quem caminha por lá tem dificuldade de acreditar que se passaram mais de cem dias desde a catástrofe climática.
Poucos metros antes do pórtico de entrada, uma enorme pilha formada por colchões, restos de móveis, telhas, concreto, madeira e roupas antecipa a situação das ruas. Buracos enormes, cheios de água, dificultam o tráfego de carros por toda a localidade.
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Em meio a esse cenário, proprietários dos imóveis utilizados especialmente durante o veraneio precisam encontrar ânimo para limpar quintais e cômodos das casas. “É triste. Estou fazendo de tudo para a minha casa voltar ao normal. Só que eu saio para a rua e me deparo com esse monte de entulhos”, desabafou o empresário Lauro José Kessler, de 60 anos.
Dono de um microatacado, Kessler possui a propriedade há mais de duas décadas. Costumava visitar o espaço quase todos os fins de semana, mesmo no inverno. Porém, desde abril, ele permanece inabitável após ter ficado totalmente submerso. Dos móveis, restaram apenas a geladeira e o fogão. O resto foi para a pilha de escombros. “Fico feliz porque pelo menos a casa não foi levada.”
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Desde então, dedica os fins de semana à recuperação do espaço. Por volta das 9 horas de sábado, começou a tirar, com uma pá, a lama trazida pela cheia do Rio Jacuí. Após encher o carrinho de mão, percorria 80 metros entre as ruas Mariluz e Albatroz para despejar os resíduos. Precisa realizar um trajeto mais longo para não superlotar ainda mais o monte de detritos na frente de sua casa. “Daqui a pouco não vai dar para passar mais pela rua”, disse.
O trabalho seguiu até as 18 horas, com uma pausa de 60 minutos durante o meio-dia. Acredita ter feito 50 viagens. “Devagarinho, vamos arrumar.” Há ainda muito a ser feito. As telhas da fachada precisam ser recolocadas, pois a areia que ficou após a enchente derrubou o teto de PVC. Plantou algumas bromélias no jardim, que contrastam com a cor do barro que dominou o local. “Não tem mais vida aqui”, comentou.
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Embora a recuperação da casa siga avançando, desanima-se com a situação nas ruas. Afirmou que ele e os vizinhos já pediram para equipes da Prefeitura de Rio Pardo realizarem a limpeza do local, mas até agora não tiveram retorno. “É um abandono total. Não está sendo feito nada. Ninguém se mexe”, lamentou.
Para Kessler, vai demorar pelo menos três anos para o balneário voltar a ser o que era antes das enchentes. Até lá, acredita que muitas residências, especialmente na área mais baixa, continuarão desocupadas.
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Moradores pagaram por recuperação
Em uma das residências próximas ao Rio Jacuí, o engenheiro de segurança Anderson Henn, 44 anos, e o pai Erni, 72, limpavam o interior da edificação de dois pisos. Lá, a água chegou no telhado. O trabalho tem sido recorrente nas últimas três semanas. Esperam terminar até o verão, para que possam aproveitar a casa com a família.
No entanto, os meses que se sucederam à tragédia foram marcados por desafios. Segundo Henn, as estradas estavam danificadas, impedindo o restabelecimento de energia. Ele e os vizinhos decidiram pagar, por conta própria, a recuperação da via. O trabalho foi concluído recentemente. “A luz voltou há 15 dias”, afirmou.
Contudo, a enorme pilha de lixo na frente da casa continua lá há quase cem dias. O engenheiro afirma que, até o momento, não receberam ajuda da Prefeitura de Rio Pardo. “Já mandei e-mail e já liguei pedindo para fazer a limpeza e recolher o lixo, mas até agora nada foi feito.”
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O que diz a Prefeitura
Em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Rio Pardo afirmou que, desde a enchente histórica deste ano, estão sendo feitas ações para o retorno à normalidade. Até o momento, 10 mil toneladas de entulhos resultantes da enchente já foram recolhidas. “No Balneário Porto Ferreira, foram cerca de mil toneladas e ainda há trabalho a ser finalizado no local, o que deve ser feito pelas equipes da Secretaria de Obras e Serviços Essenciais nos próximos dias”, garantiu a assessoria.
De acordo com a Prefeitura, os estragos ocorreram nos mais diversos pontos e as equipes trabalham na recuperação. “Durante os últimos três meses, algumas ações precisaram aguardar depois que os rios subiram novamente”, afirma a assessoria. Ainda de acordo com o Executivo, no trabalho de recuperação, a limpeza das ruas demandou uma força-tarefa, e foram priorizados os bairros com maior número de moradores.
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