Enquanto prefeito de Santa Cruz do Sul, José Alberto Wenzel entrou para a história por pelo menos dois motivos. Primeiro, ao se eleger em 2004 pelo PSDB, quebrando um ciclo de décadas em que PP e PTB se revezavam no comando do município – embora sua vice à época, Helena Hermany, fosse progressista. Depois, em junho de 2008, ao renunciar à Prefeitura para assumir o cargo de secretário-chefe da Casa Civil do governo Yeda Crusius.
Geólogo e conhecido pela defesa da causa ambiental, elegeu-se vereador pela primeira vez em 1992, pelo PL. Quatro anos depois, já no PSDB, conquistou o segundo mandato, mas foi convidado para assumir a Secretaria de Saúde, onde ascendeu politicamente e, após romper com o então aliado Sérgio Moraes, disputou a Prefeitura contra ele em 2000. Ainda que tenha sido derrotado na campanha que contou até com a desistência de um terceiro candidato (Edmar Hermany), seu desempenho pavimentou o caminho para a vitória no pleito seguinte.
Abreviada pela renúncia, a gestão deixou legados como a conclusão da obra do Autódromo e a criação do Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo (Cisvale). Por outro lado, enfrentou intempéries como o elevado grau de endividamento do município e uma das maiores estiagens já vistas no Rio Grande do Sul, em 2005.
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Afastado das urnas há mais de uma década, Wenzel, hoje com 68 anos, segue atuando no departamento de Planejamento da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Na eleição deste ano, prepara-se para apoiar o irmão, João Miguel, que irá concorrer a vereador pela segunda vez.
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José Alberto Wenzel
Ex-prefeito
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Ser prefeito era algo que o senhor desejava há mais tempo ou foi uma questão de oportunidade?
O sonho de ser prefeito vinha desde o tempo da vereança. O meu start político foi quando participei da Eco 92. Eu era professor e, quando vi todos aqueles chefes de Estado reunidos no Rio de Janeiro, me empolguei. Percebi que na política dava para fazer muita coisa boa. Para prefeito, mais especificamente, foi quando eu era secretário de Saúde. Fizemos aquela campanha pela UTI Pediátrica e ali eu vi como dá, através da força do povo, para melhorar as coisas.
Foi difícil tomar a decisão de concorrer contra o Sérgio?
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Para mim, não foi difícil. Mas ele me demitiu. E nem tiro a razão dele. Na época senti muito, fiquei mal. Mas quando correu a notícia, eu recebi muito apoio. Aquilo me deu uma força muito grande, acabou servindo como um impulso para eu concorrer mesmo.
Em 2000, o Edmar Hermany também era candidato, mas renunciou e te deu apoio. O senhor chegou a acreditar que venceria?
O Hermany teve um gesto de muita grandeza. Porque não é uma situação fácil, ele já tinha uma história política reconhecida pela comunidade e renunciou a meu favor. Isso me ajudou muito no final da campanha. Eu estava determinado, sentia nas ruas que dava para ganhar aquela eleição. E até hoje não sei se passou uma semana do ponto ou se faltou uma semana para ganhar.
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Mas o seu desempenho naquela eleição credenciou-o para disputar a seguinte, não?
Sim. E eu vinha com muito ímpeto e bandeiras definidas. Isso é muito importante para um candidato: mostrar a que veio e como vai fazer. Eu tinha vivência de vereança, de secretário de Saúde, então me sentia preparado. E, modestamente, acho que uma virtude que sempre tive foi a da criatividade. Quem primeiro revolucionou as campanhas em Santa Cruz foi o João Pedro Schmidt, quando foi candidato pelo PT. Ele veio para a TV e fazia a campanha de um jeito muito diferente. E quando eu fiz campanhas, eu saía dos buracos mostrando onde tinha problema de esgoto, saía do Rio Pardinho mostrando os problemas da água. Então, demos um dinamismo para as campanhas e isso mobilizava as pessoas.
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O jingle da sua primeira campanha, que dizia “Santa Cruz do Sul precisa, Santa Cruz do Sul merece”, ainda é lembrado.
Pois é. Sabe que eu nem me lembro direito quem criou? Mas aquilo pegou de tal forma que a gente andava nas ruas anos depois e ainda ouvia gente cantando. Foi uma sacada e tanto.
Parece-me que o seu primeiro desafio como prefeito foi aquela estiagem histórica de 2005.
Teve isso, mas o que mais pesou foi ter que concluir o Autódromo. A sociedade estava muito dividida, tinha muita gente contra o fato de a obra ter sido feita com dinheiro público. Nós ainda colocamos, se não me falha a memória, R$ 3,6 milhões. Parecia que estava bem avançado, mas faltava muita coisa. Além disso, a Prefeitura tinha uma série de dívidas. Somando dívidas e precatórios, chegava a em torno de R$ 60 milhões. Então, esse primeiro ano foi muito difícil. Mas tenho convicção que fiz certo. O Autódromo é bom para a cidade.
O que é mais difícil em ser prefeito?
Pode até parecer estranho, mas o que em mim doía mais eram as madrugadas em que chovia muito. Eu me criei na Várzea e conhecia bem o que eram as enchentes. Como prefeito, eu tinha o sonho de resolver ou ao menos minimizar aqueles problemas. Cada vez que chovia, ficava pensando: meu Deus, como será que está aquele povo lá embaixo? Na verdade, ser prefeito é um misto permanente de sofrimento e alegrias. Você sofre com a necessidade do povo que gostaria de atender e não consegue, mas se alegra muito quando consegue. Por isso, eu acho que é um período extraordinário na vida de uma pessoa. Sempre digo: quem puder concorrer a prefeito, concorra.
O que faz o senhor mais se orgulhar da sua gestão?
Eu tive uma visão regional. Participei muito fortemente da criação do Cisvale, fizemos a Ceasa Regional, trabalhei muito pela RSC-153. Então, acho que se tenho algum mérito, foi o de ter uma visão macro. Outra coisa foi o saneamento. Além de termos que sanear as dívidas, teve toda a questão das canalizações, nas quais eu incluo os piscinões, redes hídricas. E talvez o que eu mais me orgulho foi de ter estabelecido fluxos de atendimento. Principalmente na Saúde, a gente costuma achar que um prédio vai resolver. Isso ajuda, mas não resolve. O que resolve é fluxo. A saúde curativa é importante, mas o que faz a diferença é a preventiva, é cuidar das pessoas antes que elas adoeçam.
Em 2008, o senhor tomou uma decisão histórica ao renunciar à Prefeitura. Como foi?
Eu estava me preparando para buscar a reeleição. Já estava até com equipe de mídia, quando o governo do Estado me consultou se eu aceitaria assumir lá. Aí me deu um estalo: eu havia governado junto com a vice-prefeita, sabia que ela iria dar continuidade, o Estado estava precisando de mim, então decidi ir, esperando que o povo me compreendesse. Confesso que sofri muito naquela decisão, foi o momento mais duro da minha vida. O governo estadual estava em uma dificuldade extrema, era uma turbulência total, e eu me atirei de corpo e alma na chefia da Casa Civil, quase nem dormia. Por isso eu acho que a renúncia foi um ato de coragem, inclusive a favor de Santa Cruz. Talvez a 153 só tenha sido concluída porque eu estive lá.
O senhor nunca se arrependeu?
Olha, de vez em quando me bate: será que eu fiz certo? Eu me pergunto isso. Mas quando coloco na balança, eu vejo que foi acertado.
E o senhor acha que teria vencido a eleição, se tivesse concorrido?
Não sei te dizer. Quem está no governo sempre sofre um desgaste. Mas eu estava me preparando.
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Depois disso, o senhor nunca mais concorreu. Considera isso passado ou ainda pode tentar voltar à Prefeitura um dia?
Olha, estou com 68 anos. A idade começa a pesar um pouco. Mas eu ando tão angustiado com as coisas que andam acontecendo, principalmente na área ambiental, que de vez em quando alguma coisa me cutuca fundo. Fico pensando: será que ainda não tenho algo para contribuir? Mas não estou pensando neste momento.
E o que o senhor faria diferente se voltasse a ser prefeito hoje?
Uma coisa que fiz errado foi retirar o PDT do governo quando nós criamos a contribuição da iluminação pública. Eu rompi com aquele ciclo de endividamento e comecei a pagar a AES Sul, mas aí precisava dessa taxa. Houve um desentendimento com o PDT, e pedi para eles saírem do governo. Ali eu cometi um erro de avaliação.
Quem foi o melhor prefeito que Santa Cruz já teve?
Vou te dar dois nomes que merecem ser reconhecidos. O primeiro é o Elemar Gruendling (1973-1976). Ele fez o primeiro Plano Diretor, fez o primeiro levantamento aerofotogramétrico, deu o primeiro impulso para o Ensino Superior. O outro é o Edmundo Hoppe (1960-1963 e 1969-1972). A infraestrutura que temos hoje em Santa Cruz do Sul se deve muito a ele. Eu gosto de prefeito que vê o futuro, e esses dois viram além de seu tempo.
Qual conselho daria para o próximo prefeito?
Primeiro, pensar menos em obras e mais em fluxos. As pessoas têm que ser atendidas onde elas estão. O segundo é preparar Santa Cruz e região para o futuro, ou seja, para as mudanças climáticas. Vão vir chuvas cada vez mais torrenciais e períodos de seca mais acentuados, o que vai mexer com as lavouras, com a infraestrutura e inclusive com a saúde. E o terceiro é: zelar pelo Cinturão Verde.
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