A trajetória, as ideias e os feitos de um dos grandes personagens da cena cultural, social, religiosa e econômica do Rio Grande do Sul e do Brasil na virada do século 19 para o 20 acabam de ser resgatados em um livro essencial, desde já de leitura fundamental. Amstad, um visionário, obra de 368 páginas, ricamente ilustrada, é de autoria do jornalista e escritor Felipe Kuhn Braun, natural de Novo Hamburgo.
Além de sua atuação como pesquisador, voltado em especial ao ambiente da colonização alemã no Sul do Brasil, Felipe é também liderança pública, sendo vereador em sua terra natal, em segundo mandato.
A nova obra, editada pela editora da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras), é nada menos do que seu 25º livro publicado. Nada mal para um autor de 35 anos, que descobriu a curiosidade por temas históricos e culturais por volta dos 14 anos. Aos 19 fez a primeira viagem à Alemanha (já foi em oito ocasiões). Aos 21, lançava seu primeiro livro, História do povo alemão no Sul do Brasil. E não parou mais.
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Entre obras históricas e biográficas, contemplou diferentes facetas do contexto da imigração e da colonização. A biografia do padre Theodor Amstad surge agora no contexto das celebrações dos 120 anos do cooperativismo de crédito no Brasil. Tudo porque o religioso foi um dos pioneiros e entusiastas da união das famílias nas comunidades, e destas entre si. Nascido em Beckenried, na Suíça, em 9 de novembro de 1851 (por aqui, a colônia de Santa Cruz recém havia sido fundada, em 1849), Theodor chegou ao Rio Grande do Sul em 1885 e trouxe consigo, para essas áreas de colonização, suas convicções de que, como reza o lema, a união faria a força também nas finanças. O padre faleceu em São Leopoldo, em 7 de novembro de 1938, aos 86 anos.
Agora, conforme informou, dedica-se a pesquisa sobre mais um personagem essencial em termos de cultura e religiosidade. Ele faz investigação acerca de São Leopoldo, o santo católico que empresta seu nome à colônia alemã pioneira no Estado, e sobre cuja vida, curiosamente, poucas informações até hoje estão disponíveis de forma mais ampla.
Depois de atividade de lançamento oficial do livro sobre Amstad em evento da Confederação Nacional das Cooperativas de Crédito, em agosto, em Recife (PE), a obra começa a ser distribuída em todo o País. Exemplares estão à venda ao preço sugerido de R$ 80,00, e podem ser adquiridas inclusive diretamente com o autor, pelo e-mail felipekuhnbraun@hotmail.com.
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Na última quinta-feira, ele participou ao vivo do programa Radar, da Rádio Gazeta FM 107,9, quando conversou com o jornalista e comunicador Rosemar Santos acerca da pesquisa que realizou. Confira ao lado algumas das questões abordadas por Felipe no bate-papo com Rosemar.
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Magazine – Felipe, quem foi o padre Amstad?
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O padre Theodor Amstad veio para o Rio Grande do Sul em 1885, e em boa parte de sua trajetória ele viveu no Vale do Caí e no Vale dos Sinos. Mas fez um período também no Vale do Taquari, em Estrela, e circulou peloVale do Rio Pardo, pela região Noroeste, das Missões gaúchas. Foi o fundador da Sparkasse, a Caixa de Crédito Rural, hoje Sicredi, em 28 de dezembro de 1902. Então, agora, neste dezembro próximo, completaremos 120 anos desse feito. Em 2019 ele ganhou o título póstumo de Patrono do Cooperativismo no Brasil. Também é considerado o Patrono do Cooperativismo na América Latina, porque antes da antiga Sparkasse somente havia uma cooperativa no Canadá.
Então era conhecedor e um difusor do cooperativismo…
Sim, ele viveu esse conhecimento. Trouxe as bases do cooperativismo de crédito ligadas ao cooperativismo de crédito inglês e alemão, de Rochsdale, na Inglaterra, onde estudou antes de se tornar padre, e da Alemanha. Era um padre suíço. Sua contribuição é vital, claro, no cooperativismo, mas foi muito além. Se só tivesse ficado na área religiosa, já seria um destaque; afinal, eles vieram para isso, padres, pastores, da Igreja Católica, os jesuítas, a IECLB, a IELB. Mas o que eu destaco nessa obra é que ele foi para as áreas da educação, da saúde, do meio ambiente… Imagina que ele falava de meio ambiente em 1904, 1906! Era sim um visionário, alguém à frente de seu tempo, e é isso que registro nessa obra.
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Ele foi influente também nessas outras áreas?
Ele fomentou muito a educação, lá no início dos anos 1900, quando isso era algo precário. No Rio Grande do Sul, até a década de 1960 metade dos gaúchos eram analfabetos, sequer tinham acesso a escola. E ele foi precursor da educação lá atrás. Outra questão importante foi o trabalho dele na comunicação. Ele criou dois almanaques, uma revista, um jornal, para poder comunicar.
Os almanaques eram importantes na época, não?
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Muitas famílias tinham acesso a leitura só pelo almanaque. Havia alguns jornais. Em 1900 havia o Deutscher Volksplatt, de Porto Alegre, que circulava em todo o Rio Grande do Sul, no Nordeste da Argentina e no Oeste catarinense. Claro, a periodicidade não era diária, e nem chegava próximo ao dia da publicação. As notícias não tinham essa agilidade de hoje, de se saber de uma coisa do outro lado do planeta em questão de segundos. O colono tinha ali as fases da lua, quais sementes, que produtos utilizar. Conseguimos uma carta do padre Amstad, e nos idos de 1905 estava fazendo um estudo da soja japonesa. Tive acesso ao acervo histórico da Unisinos, que guarda verdadeiras raridades, inclusive a última carta que o padre Amstad escreveu, uma semana antes de falecer. Ele realmente tinha produção muito grande, de notícias, de cartas, de comunicação.
E ele circulou muito?
Para se ter uma ideia, andou cerca de 36 mil quilômetros no lombo de uma mula, durante esses anos, trabalhando aqui. Estima-se que passava um mês por ano da vida dele em cima do lombo de uma mula, indo até essas comunidades e vendo suas necessidades.
E deixou esse legado no cooperativismo de crédito…
Exato! E sugeria: invista o seu dinheiro aqui na comunidade. Não guarde embaxo do colchão, numa gaveta, embaixo do bidê ou da mesa. Faça esse dinheiro circular. Ele trouxe esse conhecimento da Europa. Depois de 1885, nunca mais retornou para lá.
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