Com o acionamento de usinas térmicas nas últimas semanas para compensar a queda nos reservatórios das hidrelétricas em função da escassez de chuva em algumas regiões, o risco de um novo apagão de energia, a exemplo do que ocorreu em 2001, está afastado, segundo o diretor de Energia da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Eberson Silveira.
Em entrevista à Gazeta do Sul, ele falou sobre a situação atual do setor no País e no Rio Grande do Sul, a diferença em relação à situação de duas décadas atrás e o impacto das medidas de emergência para o consumidor nos próximos meses.
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Eberson Silveira
Diretor de Energia da Secretaria Estadual de Meio Ambiente
Qual a origem desta nova crise no setor de energia?
O sistema elétrico brasileiro tem uma forte dependência das hidrelétricas, que participam com 60% da potência instalada para produção de energia. Avançamos bastante em energia eólica e solar, mas a hidrelétrica prevalece, é dominante na nossa matriz de geração elétrica. O problema é que estamos no sétimo ano com chuvas abaixo da média. Em função disso, as hidrelétricas recebem volumes de água abaixo do esperado. É a pior seca dos últimos 91 anos, uma situação histórica e crítica que teremos até novembro, quando começa o período úmido. Além disso, há dificuldade para importação de energia nessa época.
E qual a situação do Rio Grande do Sul?
Todas as regiões do País estão interligadas. Isso significa que se há dificuldade em uma região e abundância na outra, transfere-se energia. A Região Sudeste é detentora de 70% da capacidade de armazenamento de água do Sistema Interligado Nacional e está entrando no período seco com um volume útil de 30% em seus reservatórios. Na bacia do Rio Paraná, por exemplo, de outubro de 2019 a abril de 2021, apenas três meses registraram chuva acima da média. Já a Região Sul responde por 6,9% da capacidade de armazenamento do País e os reservatórios estão com volume útil de 60,5%. Mas como nossos reservatórios enchem e esvaziam muito fácil, podemos chegar a novembro com um nível de 20%.
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Há risco de desabastecimento no País?
Com as medidas que foram tomadas pelo governo federal, devemos ter garantia de fornecimento e potência em 2021. Essas medidas incluem flexibilizações de restrições hidráulicas, aumento da geração térmica e as campanhas de uso consciente de água e energia – embora o uso racional deva ocorrer sempre. Então, com isso, eliminamos a sombra do apagão.
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Qual a diferença em relação a 2001, quando houve um apagão?
O Brasil está hoje com um sistema interligado bastante robusto. Naquela época, também houve um período de seca e o Sudeste também não conseguia fazer produção integral, mas não conseguíamos transferir energia daqui para lá, embora estivéssemos vertendo água. Hoje, o Brasil não tem problema de transferência de energia.
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Essa situação não deve servir de alerta para a necessidade de reduzir a dependência das hidrelétricas?
Sempre é momento de pensar que precisamos de uma base térmica maior e continuar investindo em outras fontes. Neste momento (meio-dia de sexta-feira), temos 58,2% de geração hidráulica, 25,9% de geração térmica, 11,7% de geração eólica, 3,2% de geração solar e 0,9% de geração nuclear. O Brasil tem investido muito na expansão da energia eólica e solar, mas também há necessidade de aumentar a base térmica, a exemplo das térmicas à gás natural, pois os recursos hídricos estão bem mais limitados.
O acionamento das termelétricas não vai encarecer a conta de luz?
O que a Aneel está autorizando nesse momento é bandeira vermelha patamar 2, com um acréscimo de R$ 6,243 para cada 100 quilowatt-hora consumidos. Mas a energia mais cara é a que não se tem. Basta ficar dois minutos sem energia e sabemos o desconforto que dá. A energia é um bem fundamental.
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