Incertezas em relação ao futuro da pandemia, receio quanto ao impacto do fim do auxílio emergencial, comoção pela morte recente do antecessor Telmo Kirst (PSD) e demandas complexas batendo na porta da Prefeitura, como o impasse envolvendo a tarifa do transporte coletivo urbano. É neste cenário que Helena Hermany (PP), dona de uma das trajetórias políticas mais exitosas das últimas décadas na região, assumirá a Prefeitura de Santa Cruz nesta sexta-feira, 1º.
Helena recebeu a Gazeta do Sul em sua casa no fim da tarde de terça, pouco depois de concluir a escalação de seu secretariado. Ao contrário de Telmo, que tomou posse tanto em 2013 quanto em 2017 sem maioria na Câmara (o que o levou a costurar acordos polêmicos no decorrer dos mandatos), Helena, eleita em 15 de novembro com uma coligação diminuta, sentará na cadeira de prefeita com apoio consolidado. Seu partido deve presidir o Legislativo no ano que vem e sua base, construída nas últimas semanas, pode chegar a 12 parlamentares. Além disso, sob promessas de fazer um “governo de paz” e de manter um relação republicana com o Parlamento, estabeleceu pontes até com a oposição – sentou-se à mesa com a bancada do PTB poucos dias após a vitória, por exemplo.
Na entrevista, se disse ciente dos desafios que lhe aguardam. Confirmou que irá instalar seu gabinete no Palacinho – diferente do que havia previsto – e assegurou que as obras inconclusas deixadas pelo governo Telmo terão continuidade. Também sinalizou que não pretende disputar a reeleição em 2024. Questionada sobre o legado que pretende deixar, repetiu um mantra da campanha: “Não estou preocupada com grandes obras. Estou preocupada com o bem-estar da nossa comunidade.”
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ENTREVISTA
Helena Hermany (PP) – Prefeita eleita de Santa Cruz do Sul
Faltando pouco para a posse, o que passa na sua cabeça?
Sei que vou assumir um grande desafio e uma grande responsabilidade. E sei da grande expectativa das pessoas. Uma coisa posso deixar clara: vou me esforçar, vou me dedicar e vou fazer de tudo para não frustrar essas expectativas. Que é um desafio grande, tenho certeza. Mas me sinto tranquila, porque os secretários que escolhi são pessoas competentes, pessoas com experiência, grande afinidade com as suas áreas e com muita vontade de trabalhar. Já conversei com todos os vereadores também e eles se mostraram parceiros. Já recebi visitas de diversos deputados e também muitas manifestações de pessoas que querem ajudar. Isso está me deixando muito confiante. Tomara que eu consiga fazer tudo o que as pessoas esperam.
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Como é para a senhora assumir ainda em meio à comoção gerada pela morte do prefeito Telmo Kirst e considerando que a relação de vocês teve momentos muito bons, mas também momentos muito ruins?
Eu procuro sempre guardar das pessoas as coisas boas. Tenho muitas lembranças boas para guardar, muitas coisas boas para contar e vou ficar com isso. Mas é um momento muito triste para toda a nossa comunidade e também para a minha família. Por isso mesmo eu adiei os anúncios dos últimos secretários.
A senhora toma posse nesta sexta-feira e senta na cadeira de prefeita, de fato, na segunda. Qual vai ser seu primeiro ato?
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Conforme já falei na campanha, o primeiro ato será visitar todas as secretarias. Uma coisa que ouvi de todos os funcionários foi que gostariam de ter o prefeito mais perto. E eu vou fazer isso, vou conversar com os funcionários, dizer o quanto são importantes e que, se a nossa Prefeitura é de ponta, é porque temos funcionários capazes e que vestem a camisa. Essa será a minha primeira atitude.
O que a senhora pretende entregar nos primeiros cem dias de governo?
O que pedi para meus secretários e diretores foi para, a partir do nosso plano de governo, do que conseguiram sentir no processo de transição e do que me conhecem, que cada um sugira uma ou duas metas para os primeiros cem dias. Vou definir com eles essas prioridades.
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A senhora prometeu na campanha criar um conselho de voluntários para auxiliar nas decisões do governo. Quando esse grupo deve começar a trabalhar?
Diversas pessoas já se ofereceram para fazer parte desse conselho. Nos primeiros dias, nós vamos chamar alguns que se colocaram à disposição e vamos tornar público para que mais pessoas que quiserem fazer parte venham até nós. Acredito que isso vai ser maravilhoso, vamos poder aproveitar os saberes da comunidade. Temos que colocar isso em prática nos primeiros cem dias.
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Após a eleição, a senhora disse que não pretendia instalar o gabinete no Palacinho. Isso é decisão tomada?
Eu estava bastante relutante. Mas escutei a comunidade, lideranças e funcionários da Prefeitura. Fiquei comovida que alguns funcionários me mandaram fotografias de flores que foram plantadas no Palacinho para me receber. Aí eu pensei: vou fazer algumas adequações, mas vou sim para o Palacinho.
A senhora está tranquila em relação à base de apoio que conseguiu compor na Câmara?
Estou muito tranquila porque conversei com todos os vereadores e para todos eu disse a mesma coisa: vamos fazer um governo de paz e de diálogo, vamos aceitar as indicações, teremos uma pessoa no gabinete que será o interlocutor com os vereadores, que vai receber as demandas e será o contato quando precisarem falar com algum secretário, para que os vereadores sejam muito bem atendidos. Cada vereador representa uma parcela da nossa comunidade, eles têm um papel fundamental e não podem ser coagidos a votar um projeto que não entenderam direito. Acredito que nossa relação com os vereadores será muito tranquila.
A pandemia parece longe de terminar, mas há muita pressão para que não haja novamente fechamento da economia. Qual o seu pensamento hoje sobre isso?
É preciso ter responsabilidade. Temos que acompanhar a evolução da doença e, dependendo da situação, precisaremos tomar mais cuidados sim. Já tivemos reuniões com os hospitais e com a equipe da saúde e já temos a coordenação da Vigilância Sanitária definida, porque temos que estar preparados. Agora, se estiver sob controle e os casos pararem de crescer, com toda a certeza vamos nos preocupar muito com os empregos e o desenvolvimento econômico. Já temos algumas ações previstas para apoiar os pequenos empresários.
Nesta semana foi depositada a última parcela do auxílio emergencial. Não preocupa a senhora esse contingente de pessoas que estavam sendo assistidas e a partir de janeiro não serão mais?
Isso me preocupa muito. Ainda acredito que o auxílio emergencial pode ser prorrogado. Mas se não acontecer, com certeza a Prefeitura terá que ser muito ativa para não deixar as pessoas em necessidade. Vamos ter que voltar a mobilizar a comunidade, as entidades e os empresários para que se sensibilizem. Temos diversas ações planejadas para o desenvolvimento econômico, como aumento nas linhas de crédito para pequenos empresários, mas o resultado disso não será imediato, então vamos precisar dessa mobilização, assim como foi feito lá no início da pandemia.
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Diversas obras do governo Telmo ficarão inconclusas, como o calçadão da Floriano, o restaurante do Parque da Cruz e o complexo turístico do Lago Dourado. A senhora se compromete em concluir esses projetos?
É uma questão de responsabilidade continuar e terminar os projetos iniciados. Esses recursos não são da prefeita, são recursos do povo, então seria uma atitude incoerente eu deixar uma obra pela metade. Com toda a certeza: todas as obras iniciadas vão continuar. É uma obrigação.
A Câmara rejeitou essa semana um projeto de reposição salarial para servidores. Na campanha, a senhora falou em promover uma assembleia com os servidores na largada do governo. Com o que a senhora pode se comprometer?
Pretendemos fazer essa assembleia nos primeiros cem dias. Vamos nos inteirar sobre a situação financeira da Prefeitura e, de acordo com esse levantamento, buscaremos um equilíbrio. O ano de 2020 foi muito atípico e essa reposição que foi proposta no final, pelo que entendi, os vereadores não encontraram segurança jurídica para aprovar. Sempre digo: tudo o que eu puder fazer em benefício dos funcionários, vou fazer, mas sempre com a devida segurança jurídica.
A senhora vai acumular a Secretaria de Transportes pelo menos até março. Com isso, vai cair no seu colo a questão da tarifa de ônibus. A agência reguladora já alertou que, devido à queda no número de passageiros, a passagem corre o risco de subir para quase R$ 8,00. Qual sua estratégia?
Sempre digo que as coisas acontecem como devem acontecer. Esse assunto ficar diretamente com a prefeita é algo positivo. Com certeza, a passagem não subirá para R$ 8,00. Isso posso garantir. Se o problema é falta de passageiros, como vamos subir a passagem dessa maneira absurda? Não tem cabimento, isso só vai aumentar o problema. Hoje, se duas pessoas se juntam para pegar um Uber, que vai deixar elas na porta de casa, sai mais barato do que o ônibus. No meu entendimento, temos que achar uma maneira de baixar o preço da passagem e não subir.
O que a senhora pretende deixar como legado ou como quer ser lembrada enquanto prefeita?
Quero ser lembrada como uma prefeita que cuidou das pessoas, que fez com que as pessoas se emancipassem, tivessem qualidade da vida. E, principalmente para os nossos funcionários, que se sintam motivados e que lembrem desse tempo como um tempo bom, em que eram valorizados e reconhecidos. Falei isso na campanha e estou dizendo agora. Não estou preocupada com grandes obras, com muitas placas. Estou preocupada com o bem-estar da nossa comunidade e sei que muitas pessoas depositaram seu voto de confiança apostando nisso.
Quando a senhora renunciou ao cargo de vice-prefeita, muitos entenderam que era uma forma de não afastar a possibilidade de concorrer de novo em 2024. A reeleição está no seu horizonte?
Antes da campanha, eu sempre ouvia que o momento era dos jovens. As nossas pesquisas internas, porém, mostraram que não era bem isso. Acho, inclusive, que a pandemia influenciou nisso, as pessoas ficaram mais receosas e queriam mais segurança. Mas a minha intenção é ter pessoas jovens ao meu redor. Tenho vários secretários jovens, vários vereadores são jovens e eu quero estimulá-los. Quero ser parceira dessa juventude porque vou me sentir realizada se, depois do meu governo, eu tiver uma dupla de jovens assumindo a Prefeitura. Assim vou saber que cumpri minha missão. Há muitos jovens competentes em Santa Cruz, é só motivar e incentivar.
Posse começa às 17 horas, sem público
A solenidade de posse da prefeita, vice-prefeito e 17 vereadores eleitos de Santa Cruz está marcada para as 17 horas desta sexta-feira, na Câmara. Em razão das limitações impostas pela pandemia, não haverá presença de público e o acesso será restrito a três convidados por eleito. Para garantir o distanciamento, haverá poltronas demarcadas nas galerias para os convidados.
A sessão solene será conduzida pela vereadora Bruna Molz (Republicanos), que foi a mais votada na eleição, conforme prevê o regimento interno. Na mesa, estarão ainda representantes do Poder Judiciário e do Ministério Público.
Os primeiros a serem empossados serão os vereadores, que prestarão um juramento oficial individualmente. Depois, será a vez de Helena Hermany e Elstor Desbessell que, após serem conduzidos até o plenário pelos vereadores Henrique Hermany, Cleber Pereira e Nicole Weber, também prestarão o compromisso e serão declarados empossados. Ao fim, Elstor, Helena e Bruna vão discursar na tribuna.
A sessão será transmitida em vídeo pelo Portal Gaz (www.gaz.com.br), pela página da Câmara de Vereadores no Facebook e pelo canal 16 da Net. Às 20 horas, Helena dará posse aos secretários municipais em um ato no Palacinho, que não terá convidados e também contará com transmissão ao vivo.
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QUEM VAI TOMAR POSSE
Helena Hermany (PP) – prefeita
Elstor Desbessell (PL) – vice-prefeito
Vereadores
Alberto Heck (PT)
Bruna Molz (Republicanos)
Bruno Faller (PDT)
Cleber Pereira (DEM)
Daiton Mergen (MDB)
Carlão Smidt (PSDB)
Gerson Trevisan (PSD)
Henrique Hermany (PP)
Ilário Keller (PP)
Jair Eich (PP)
Leonel Garibaldi (Novo)
Licério Agnes (PSD)
Luís Ruas (PSD)
Nicole Weber (PTB)
Raul Fritsch (Republicanos)
Rodrigo Rabuske (PTB)
Serginho Moraes (PTB)
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